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Cruzamentos entre raças leiteiras: aspectos sobre saúde e longevidade - Parte 1

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 04/10/2017

6 MIN DE LEITURA

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Já discutimos nos textos anteriores os impactos da adoção de diferentes cruzamentos entre raças leiteiras em características importantes na bovinocultura de leite como fertilidade, resistência a mastites, rusticidade e adaptabilidade aos ambientes tropicais e subtropicais. Retomando esta discussão, vamos abordar agora alguns estudos que avaliaram a sobrevivência, a saúde, as taxas de descarte e desta forma, a longevidade de matrizes puras e oriundas de cruzamento.

De acordo com o estudo antigo de Ducrocq et al. (publicado em 1988), a longevidade é uma característica altamente desejável em rebanhos de leite, pois, indica o tempo que o animal permanece no rebanho, afetando, de forma expressiva, a rentabilidade total e por dia de vida do animal no sistema de produção. Já a duração da vida produtiva (ou vida útil para alguns autores) é definida como o número de dias decorridos a partir do primeiro parto até a morte ou descarte do animal (DUCROCQ et al., 1994). A longevidade combina todas as características que estão diretamente associadas à capacidade de uma vaca permanecer com sucesso no rebanho (conforme trabalho mais recente publicado por TSURUTA et al., 2005).

Para Madalena (2007), é amplamente aceita a existência de antagonismo genético entre produção de leite e forma leiteira com incidência de doenças. A raça Holandesa também evoluiu para um animal com maior ocorrência de doenças, com redução da vida útil e aumento da mortalidade (LEDIC e TETZNER, 2008). Entre as doenças mais citadas pelos pesquisadores, comuns em gado leiteiro e causas de mortalidade, em especial em vacas de alta produção, está a mastite, a retenção de placenta, a distocia, a metrite, a cetose, a claudicação, a hipocalcemia e o deslocamento de abomaso, entre outras (MADALENA, 2007).

Na concepção de Hristov et al. (2013), a seleção para alta produtividade não deve ser à custa de outras características importantes, especialmente aquelas essenciais para a sobrevivência dos animais no ambiente em razão do clima, recursos alimentares e doenças.

Dados apresentados por Hare et al., (2006), demonstraram que a taxa de sobrevivência de vacas de dois partos da raça Holandesa nos Estados Unidos caiu de 77,3% em 1980 para 74,1% em 2000 e as taxas de sobrevivência para as vacas de três e quatro partos declinou de 56,6% em 1980 para 49,0% em 1999 e de 24,2% (em 1980) para 14,3% em 1997, respectivamente, conforme o Gráfico 1.

Esses pesquisadores ainda revelaram que houve uma redução do número de lactações por vaca, de 3,2 em 1980 para 2,8 em 1994. A vida útil da raça caiu de 36,5 meses em 1980 para 31,9 meses em 1994. Com base em estudos citados por Hristov et. al, (2013), com apenas 2 a 2,5 lactações, vacas leiteiras não expressam o seu potencial de produção, pois a eficiência da produção de leite aumenta exponencialmente até quatro lactações.

Observações adicionais foram relatadas na Nova Zelândia (HARRIS e KOLVER, 2000 apud WASHBURN, 2002), onde vacas puras Holandesas com genética provinda na maior parte da América do Norte tiveram 11% menor sobrevivência após uma lactação e 27% menor sobrevivência após cinco lactações em comparação com o Holandês “Friesian”.

Svendsen& A.-Ranberg (2000) apud Madalena (2007) relataram que a utilização da genética Holandês de origem americana na raça Norueguesa na década de 70 trouxe benefícios para a produção de leite. No entanto, os autores descreveram o aumento da incidência de doenças como mastite, hipocalcemia e cetose, além de infertilidade. Estes problemas foram trabalhados através da seleção, dando-se a eles um maior peso e reduzindo-se um pouco a importância da produção.

Gráfico 1 - Taxa de sobrevivência de vacas da raça Holandesa nos EUA até o ano 2000. Fonte: Adaptado de Hare et al., 2006.
 Cruzamentos entre raças leiteiras
Buscando alternativas em cruzamentos, Dickinson e Touchberry (1961) descobriram que durante a primeira lactação, 31% das vacas puras da raça Holandesa foram retiradas do rebanho em comparação a 15% de fêmeas resultantes do cruzamento de Holandês com a raça Guernsey. Touchberry (1992) cita que 80,3% de fêmeas cruzadas Guernsey/Holandês chegaram ao segundo parto, índice superior aos 64,5% encontrado em ambas as raças puras.

O mesmo autor ressaltou que durante todas as lactações a mortalidade foi maior entre os animais puros, sugerindo que os mestiços eram menos susceptíveis às doenças e dificuldades reprodutivas. Em outra ocasião, Heins et al. (2012) avaliando a mortalidade de vacas Holandesas e de cruzadas Holandês com a raça Montbeliarde, também descreveram maiores índices nas fêmeas puras (5,3%) em relação às mestiças na primeira lactação (1,7 %). Esses mesmos autores, citam trabalho realizado por Hocking et al. (1988) que já demonstravam dinâmica semelhante quando avaliaram vacas mestiças de Ayrshire e Holandês. Já Madalena (2007) reportou que a taxa anual de descarte de vacas na região do meio-oeste dos EUA tem sido de 38%, o que repercutia em altos preços de novilhas de reposição.

Heins et al. (2006) determinaram diferenças entre a raça Holandesa e fêmeas meio sangue Normando/Holandês, Montbeliárde/Holandês e Escandinavos Red (Sueca Vermelha e Branca/Norueguês Vermelho e Branco) com Holandês durante a primeira lactação também para o requisito sobrevivência. Conforme demonstra a tabela, todos os grupos oriundos de cruzamento sobreviveram mais tempo que o Holandês puro na primeira lactação, em diferentes períodos pós parto (30, 150 e 305 dias).

Indivíduos puros da raça Holandesa deixaram as propriedades mais cedo que os produtos cruzados. 92 a 93% das fêmeas cruzadas sobreviveram até os 305 dias em relação a 86% nas vacas Holandesas puras. Na visão dos autores, as taxas de sobrevivência mais elevadas observadas nos cruzamentos devem ter relevante impacto econômico e os resultados do estudo sugerem que os produtores de leite podem melhorar a sobrevivência das vacas cruzando fêmeas da raça Holandesa puras com outras raças de gado leiteiro.

Tabela 1 - Sobrevivência aos 30, 150 e 305 dias pós parto durante a 1ª lactação de animais puros e cruzados. Fonte: Heins et al. (2006b).

 Cruzamentos entre raças leiteiras

Figura 3 - Estudo de Heins et al. (2006b) demonstrou que 92% das fêmeas F1 Montbeliarde/Holandês sobreviveram até os 305 dias em relação a 86% nas vacas Holandesas puras.

 Cruzamentos entre raças leiteiras

Referências bibliográficas

DICKINSON, F. N., TOUCHBERRY, R. W. Livability of purebred versus crossbred dairy cattle. Journal of Dairy Science, v. 44, p. 879–887, 1961.

DUCROCQ, V. Statistical analysis of length of productive life for dairy cows of the Normande breed. Journal of Dairy Science, v. 77, p. 855-866, 1994.

DUCROCQ, V.; QUAAS, R.L.; POLLAK, E. J. Length of Productive Life of Dairy Cows. 1.Justification of a Weibull Model. Jounal of Dairy Science, v. 71, p. 3061-3070, 1988.

HARE, E., NORMAN, H. D.; WRIGHT, J. R.Survival rates and productive herd life of dairy cattle in the United States. Journal of Dairy Science, v. 89, p. 3713–3720. 2006.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; SEYKORA, A J. Fertility and survival of pure Holsteins versus crossbreds of Holstein with Normande, Montbeliarde, and Scandinavian Red. Journal of Dairy Science, v. 89, n. 12, p. 4944–4951, 2006.

HOCKING, P. M. et al. Factors affecting length of herdlife in purebred and crossbred dairy cattle. Journal of Dairy Science, v. 71, p. 1011–1024, 1988.

HRISTOV, A. N. et al. Special Topics – Mitigation of methane and nitrous oxide emissions from animal operations: III. A review of animal management mitigation options. Journal of Animal Science, v.91, n. 11, p. 5095-5113, 2013.

LEDIC, I. L.; TETZNER, T. A. D. Grandezas do Gir Leiteiro: O milagre zootécnico do século XX. Uberaba: 3 Pinti, 2008. 324 p.

MADALENA, F. E. Problemas dos rebanhos leiteiros com genética de alta produção – Revisão bibliográfica. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 33 p.

TOUCHBERRY, R. W. Crossbreeding effects in dairy cattle: TheIllinois experiment, 1949 to 1969. Journal of Dairy Science, v. 75, p. 640–667, 1992.

TSURUTA, S.; MISZTAL, I.; LAWLOR, T. J. Changing Definition of Productive Life in US Holsteins: Effect on Genetic Correlations. Journal of Dairy Science, v. 88, p. 1156–1165, 2005.

WASHBURN, S. P. et al. Trends in reproductive performance in Southeastern Holstein and Jersey DHI herds. Journal of Dairy Science, v. 85, p. 244-251, 2002.

NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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