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Cruzamentos em bovinos leiteiros: considerações sobre a produção

POR NATHÃ CARVALHO

E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

NATHÃ CARVALHO E EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

EM 14/11/2018

9 MIN DE LEITURA

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Atualmente, os trabalhos já publicados e descritos nos textos anteriores publicados nesta coluna, mostram que a utilização de cruzamentos na bovinocultura de leite é uma alternativa efetiva para driblar algumas limitações encontradas rotineiramente nos rebanhos puros e uma forma interessante de acelerar o aprimoramento de atributos de baixa herdabilidade.

A adoção dos cruzamentos não deve visar primariamente e principalmente, o aumento da produção de leite na lactação, mas sim, a melhoria das características que sofreram efeitos antagônicos no processo de melhoramento genético realizado para a alta produção.

Quanto à capacidade de produção de leite em animais oriundos de cruzamentos, há divergências na literatura em relação ao desempenho produtivo em termos de volume produzido. Autores citados por Knob (2015) relatam em vários países a não ocorrência de diferenças na produção de leite de fêmeas mestiças comparadas com matrizes puras Holandesas, embora haja frequente superioridade encontrada nos teores de sólidos. Por outro lado, há pesquisas em distintas partes do mundo com diferentes raças que apresentaram performance superior dos produtos cruzados.

Em sistema confinado nos Estados Unidos, Heins et al. (2008) observaram maior produção de leite em vacas da raça Holandesa em relação às mestiças ½ Holandês x Jersey (7.705 x 7.147 kg), com teores de proteína e gordura maiores nas vacas mestiças. Avaliando o desempenho produtivo (produção total de leite em até 305 dias de lactação, composição do leite e produção de sólidos em até 305 dias de lactação) de vacas mestiças Holandês x Jersey em relação às puras da raça Holandesa, em três rebanhos leiteiros comerciais localizados em Santa Catarina e Paraná, Neto et al. (2013) encontraram produção média de 8.966 kg de leite em até 305 dias para as fêmeas F1, o que correspondeu a uma produção de aproximadamente 94% das matrizes puras da raça Holandesa, com média de 9.509 kg de leite.

Vacas mestiças Holandês x Montbeliarde avaliadas por Hazel et al. (2013) apresentaram produção menor ou igual em relação às exemplares puras Holandês. Em diversos trabalhos citados por Neto et al. (2013) vacas mestiças Holandês x Jersey produziram aproximadamente 93% da quantidade de leite das vacas puras Holandês, independente do sistema de produção.

Em sete propriedades localizadas na Califórnia, Heins et al. (2006), estudaram as diferenças entre fêmeas Holandesas puras e mestiças de Normando/Holandês, Montbeliarde/Holandês, e Norueguês Vermelho ou Sueca Vermelha e Branca/Holandês na primeira lactação para produção real de leite em 305 dias, gordura e proteína. As vacas Holandesas puras foram superiores (9.757 kg) em relação a todos os grupos de cruzados para a produção de leite (média geral de 8.990 kg), o que é consistente com os resultados citados por outros autores.

Em estudo realizado em Santa Catarina com fêmeas puras Holandesas, Jerseys e mestiças destas raças, criadas em sistema semiextensivo, Felippe (2013) avaliou a produção e a composição do leite dos animais durante o ano de 2012. Em comparação com a produtividade apresentada pelas vacas puras Holandês, as Jerseys puras tiveram média de produção diária equivalente a 75%. Já as mestiças F1 (1/2 sangue Holandês/Jersey) produziram cerca de 96% equivalente, não diferindo estatisticamente em relação às Holandesas puras, assim como as matrizes ¾ Holandês, que apresentaram produção similar à das puras da raça. Logo, as fêmeas F1 (½ sangue) superaram em 28% as puras da raça Jersey em produção. As fêmeas ¾ Jersey e ¼ Holandês também superaram as fêmeas puras da raça Jersey. Trabalhos citados pelo autor relatam superioridade de aproximadamente 21% das vacas ½ Holandês/Jersey em relação às puras Jersey.

Em experimento realizado em uma propriedade leiteira localizada em Santa Catarina e outra no Paraná, envolvendo animais da raça Holandês e mestiços F1 (Holandês x Simental) em sistema de semiconfinamento, Knob (2015) relatou que as vacas F1 produziram mais leite em relação às vacas puras Holandês. Na Nova Zelândia, dados apresentados por Neto et al. (2013), mostram que as vacas mestiças Holandês x Jersey, superaram levemente os índices intermediários das raças parentais, como resultado de heterose em relação às raças puras especialmente em lucro/ha/ano. Os animais foram avaliados em sistema com alimentação baseada em pastagem e parição sazonal, sendo observada superioridade quanto à produção de leite, gordura e proteína por vaca ao ano e de leite por hectare ao ano.


Em experimento realizado em Santa Catarina e no Paraná, envolvendo animais da raça Holandês e mestiços F1 (Holandês x Simental), as vacas F1 produziram mais leite em relação às vacas puras. Foto - Aline Knob.

Análise do desempenho produtivo de diferentes composições genéticas oriundas do cruzamento entre as raças Holandesa e Gir Leiteiro em propriedade localizada em Passos/MG, conduzida por Júnior (2011), constatou que as maiores médias estimadas para a produção de leite ajustada para 305 dias (P305) em pastejo rotacionado, ocorreram para os grupos genéticos compostos por ¾ Holandês (75%) e 7/8 Holandês (87,5%) sem diferenças entre esses.

Os animais Holandeses puros por cruza apresentaram menores médias quando comparadas a estes animais. A superioridade apresentada pelos exemplares desses dois graus de sangue, conforme o autor, já havia sido relatada por outros pesquisadores e pode ser explicada pela maior adaptação dos mestiços aos sistemas de produção adotados naquela região do Brasil. Tais resultados, demonstram que um bom desempenho pode ser atingido em gerações seguintes da F1 nos cruzamentos. Em relação à duração da lactação, os animais ¾ e 7/8 não apresentaram diferenças estatísticas quando comparados aos exemplares Holandês puro por cruza (317, 325 e 310 dias respectivamente), o que indica que o cruzamento não comprometeu o tamanho do período de lactação do rebanho avaliado.

Em resumo apresentado por Pereira (2012), a duração da lactação de diferentes graus de sangue obtidos por distintos cruzamentos, variou de 280 a 353 dias.  Cunningham e Syrstad (1987) já haviam observado produções de leite basicamente semelhantes de animais mestiços Bos taurus taurus x Bos taurus indicus em regiões tropicais, incluindo ½ sangue (2.003 kg), ¾ taurino (2.110 kg) e 5/8 zebuíno (2.003 kg). Conforme esses autores, a heterose para produção de leite é importante em cruzamentos entre raças europeias e zebuínas e apresenta valores médios de 28%.

McManus et al. (2008) avaliaram registros de 1.456 parições, de cinco composições genéticas das raças Holandês (H) e Gir (G), sendo duas com predominância de Holandês (Holandês puro e ¾ Holandês ¼ Gir), um intermediário (F1: ½ Holandês ½ Gir) e dois com predominância de sangue Gir (¼ Holandês ¾ Gir e 3/8 Holandês e 5/8 Gir). O trabalho não especifica se a genética Gir era provada para leite (Gir Leiteiro), no entanto, os autores observaram influência da composição racial sobre os valores de produção média diária e produção total aos 305 dias, que foram maiores nos animais ¾ Holandês ¼ Gir (12,6kg/dia e 3.823kg respectivamente) e nos ½ Holandês ½ Gir (11,5kg/dia e 3.473kg). Os exemplares puros da raça Holandesa apresentaram média de 8,8kg/dia e 3.049kg para produção total ajustada aos 305 dias, índices estes inferiores aos animais ¾ e ½. No entanto, os indivíduos Holandeses puros apresentaram superioridade na produção total em relação aos 5/8 Gir 3/8 Holandês (2.759kg), mas não os superou em média diária (9,5kg).

Os dois índices foram inferiores nos produtos ¼ Holandês e ¾ Gir em relação aos demais. Por outro lado, os animais com maior proporção da raça Gir (1/4 Holandês e 3/8 Holandês) apresentaram maior duração da lactação (284 e 281 dias respectivamente) e não diferiram estatisticamente entre si. A duração das lactações dos animais puros e dos ½ Holandês, foram semelhantes entre si (279,6 e 279,3 dias respectivamente). Os pesquisadores concluíram que o ambiente provavelmente foi fator limitante à produção de leite das vacas puras.

Para efeito de curiosidade > é interessante destacar que duas importantes vacas recordistas mundiais de produção de leite são produtos de cruzamentos. Uma delas, a famosa e histórica “Ubre Blanca”, vaca cubana mestiça de Holandês com Zebu, produziu 109,5 litros de leite em três ordenhas em um único dia, mais precisamente em 16 de janeiro de 1982, marca esta registrada no Guinness World Records (CUBA LA GRAN NACIÓN, 2010). Depois de mais de 30 anos como detentora do recorde mundial de produção leiteira em um dia, Ubre Blanca perdeu o posto para a brasileira “Indiana Canvas 2R” da raça Girolando (3/4 Holandês) em 2014, superada posteriormente pela “154 FIV Sanchez da Anta”, vaca Girolando (1/2 sangue Holandês – 1/2 Zebu: Gir Leiteiro) que produziu 120,480 kg/leite em um único dia na ExpoLins 2017, em Lins/SP.


Ubre Blanca e 154 Sanchez

Embora a quantidade de leite produzida possa ser afetada em alguns cruzamentos, a utilização desta ferramenta pode favorecer a obtenção de um leite com maior percentual de sólidos e consequente melhor remuneração por litro nos laticínios que valorizam a qualidade (WEIGEL et al. 2007). Apesar dos relatos de perda em volume de leite produzido por animais frutos de alguns cruzamentos, essa prática está sendo explorada principalmente pelo seu potencial para melhorar a fertilidade, saúde e sobrevivência, rusticidade e adaptabilidade em vacas e o teor de sólidos no leite. Conforme foi possível observar nos textos anteriores, muitos autores consideram que as vantagens para estes traços compensam eventuais reduções na produção de mestiços em comparação com os indivíduos puros, contribuindo para sistemas de produção cada vez mais sustentáveis.

Referências bibliográficas

CUBA LA GRAN NACIÓN. Sabias que? Ubre Blanca tiene record Guinness. 2010. Disponível em: <https://cubalagrannacion.wordpress.com/2010/05/28/%C2%BFsabias-que-ubre-blanca-tiene-el-record-guinness/>. Acesso em: 03/nov de 2015.

CUNNINGHAM, E. P.; SYRSTAD, O. Crossbreding Bos indicus and Bos taurus for milk production in the tropics. Rome: FAO, 1987.

FELIPPE, E. W. Comparação de vacas mestiças das raças Holandesa x Jersey com vacas puras quanto à eficiência produtiva e reprodutiva. 2013. 55 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2013.

HAZEL, A R. et al. Montbéliarde-sired crossbreds compared with pure Holsteins for dry matter intake, production, and body traits during the first 150 days of first lactation. Journal of Dairy Science, v. 96, n. 3, p. 1915–1923, 2013.

HEINS, B. J.; HANSEN, L. B.; SEYKORA, A J. Production of Pure Holsteins Versus Crossbreds of Holstein with Normande, Montbeliarde, and Scandinavian Red. Journal of Dairy Science, v. 89, n. 7, p. 2799–2804, 2006.

HEINS, B.J. et al. Crossbreds of Jersey x Holstein compared with pure Holsteins for production, fertility, and body and udder measurements during first lactation. Journal of Dairy Science, v. 91, p.1270-1278, 2008.

JUNIOR, A. B. Avaliação de desempenho produtivo e reprodutivo de animais mestiços do cruzamento Holandês x Gir. 2011. 56 f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal Sustentável)-Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Nova Odessa, 2011.

KNOB, D. A. Crescimento, desempenho produtivo e reprodutivo de vacas Holandês comparadas às mestiças Holandês x Simental. 2015. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal)-Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, 2015.

McMANUS, C. et al. Características produtivas e reprodutivas de vacas Holandesas e mestiças Holandês × Gir no Planalto Central. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. 5, p. 819-823, 2008.

NETO, A. T.; RODRIGUES, R. S.; CÓRDOVA, H. A. Desempenho produtivo de vacas mestiças Holandês x Jersey em comparação ao Holandês. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.12, n.1, p. 7-12. 2013.

PEREIRA, J. C. C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 6. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2012. 758p.

SANTOS, R. Zebu: A pecuária sustentável – Edição comemorativa dos 75 anos de Registro Genealógico e 80 anos da ABCZ. Uberaba: Agropecuária Tropical, 2013. 856 p.

WEIGEL, K.A. Crossbreeding: A dirty Word or an Opportunity? 2007, 14f.  University of Wisconsin, 2007.

NATHÃ CARVALHO

Zootecnista formado pelo Instituto Federal Farroupilha (campus Alegrete/RS) e discente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (área de Melhoramento Genético Animal).

EMMANUEL VEIGA DE CAMARGO

Médico Veterinário e Doutor em Zootecnia pela UFSM. Docente do Instituto Federal Farroupilha (Alegrete/RS), onde é professor do curso de Zootecnia.Coordenador de produção e orientador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Ruminantes na mesma instituição

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RICARDO LUIZ DORE

LONDRINA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/12/2018

Boa Tarde, excelente artigo, no caso da F1 (holxJersey) um animal compravamente produtivo e longevo, mas muitos clientes me perguntam, qual o raça que deveria usar neste F1? Eis a questão.!
MATOZALÉM CAMILO

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 18/11/2018

Meus caros Nathã e Emanuel, parabéns pelo texto. Concordo perfeitamente. Percebe-se que os animais que mais deixam rentabilidade aos seus proprietários são aqueles que se adaptam bem ao ambiente onde as fazendas estão localizadas. Cada um deve saber bem qual tipo de animal consegue manejar. Neste sentido, o cruzamento entre as raças possibilita este ajuste entre as distintas regiões e condições de manejo.
att
Matozalém Camilo Neto
Médico Veterinário
Consuppel - Ituiutaba/MG
EMMANUEL

ALEGRETE - RIO GRANDE DO SUL - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 27/11/2018

Perfeito suas considerações.
Objetivamos manter viva a discussão sobre os modelos de seleção voltados as necessidades brasileiras.
Agradecemos o prestígio.

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