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Como identificar no pré-parto, vacas com maior risco de distúrbios periparto e como manejá-las? Parte 1

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 05/10/2012

10 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por M. A. G. von Keyserlingk (University of British Columbia, Canada), no XVI Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, realizado em Uberlândia de 15 e 16 de março de 2012.

Para lembrar

- A ocorrência de enfermidades e claudicações pós-parto em vacas leiteiras tem implicações em termos de bem-estar animal, produção de leite de longo prazo, saúde reprodutiva e risco de descarte. Apesar de décadas de pesquisas, a incidência dessas doenças permanece inaceitavelmente alta.

- Alterações comportamentais durante o período de transição podem ser indicadores do risco de enfermidades e claudicações no pós-parto.

- Práticas de manejo podem alterar o comportamento das vacas no período de transição.

- O ambiente durante o período de transição deve incluir baixa competição por ração, espaços confortáveis, limpos e secos para decúbito e estação e mínimo reagrupamento social.

Introdução

O período periparto, ou fase de "transição" (geralmente definido como o período compreendido entre as três semanas anteriores e as três semanas posteriores ao parto) é um dos pontos críticos da produção leiteira, quando os riscos relacionados ao bem-estar animal são máximos (von Keyserlingk et al., 2009). Durante o período de transição, a vaca enfrenta uma gama de fatores de estresse, incluindo alterações dietéticas e reagrupamentos sociais, além das alterações físicas, hormonais e fisiológicas associadas ao parto e ao início da lactação. Um dos principais desafios para as vacas leiteiras em fase de transição é o aumento repentino das necessidades nutricionais para sustentar o início da lactação, sem aumento correspondente da ingestão de MS (Drackley, 1999).

Em vacas leiteiras, a ocorrência de doenças pode reduzir a eficiência produtiva de três formas: através da redução da produção de leite, através da redução do desempenho reprodutivo e através do encurtamento da expectativa de vida devido ao aumento das taxas de descarte. Durante o período de transição, as vacas leiteiras são vulneráveis a doenças metabólicas e infecciosas e o diagnóstico precoce adquire grande importância. Por exemplo, a metrite, que costuma ser diagnosticada nas primeiras semanas após o parto, reduz a produção de leite (Rajala e Gröhn, 1998) e prejudica o desempenho reprodutivo (Opsomer et al., 2000, Melendez et al., 2004), que é provavelmente o principal fator de influência sobre as decisões relativas ao descarte nas propriedades (Gröhn et al., 2003).

A maioria das pesquisas relacionadas à saúde de vacas leiteiras no período de transição se volta para a nutrição, a fisiologia e o metabolismo. Apesar do grande avanço do conhecimento nessas áreas, a incidência de doenças após o parto permanece alta. Pesquisas indicam que vacas com menor consumo alimentar apresentam maior risco de sofrer doenças metabólicas e infecciosas durante o período de transição. Entretanto, em última análise, as alterações do consumo alimentar resultam de alterações de comportamento. Foi demonstrado que o comportamento alimentar é um indicador de morbidade em garrotes confinados (Sowell et al., 1998; 1999) e, da mesma maneira, pode ser usado para previsão da ocorrência de doenças em vacas leiteiras no período de transição.

Os objetivos do programa de pesquisa da Universidade de British Columbia com vacas no período de transição são a melhor compreensão das alterações comportamentais que ocorrem durante esse período, a avaliação das relações entre o comportamento e o consumo alimentar e a investigação da relação entre tais parâmetros e o estado de saúde após o parto. Uma revisão de quase uma década de pesquisas realizadas por esse programa, mostra as alterações de consumo alimentar e de tempo de permanência em estação ("standing behavior") que ocorrem durante o período de transição e como o conhecimento do comportamento alimentar e da ingestão de matéria seca durante o período que antecede o parto pode ser usado para identificar vacas sob risco de enfermidades (especificamente metrite e claudicação) após o parto.

Alimentação e Tempo de Permanência em Estação durante a Fase de Transição

No primeiro estudo programa de pesquisa da Universidade de British Columbia, investigou-se as alterações de comportamento alimentar e do tempo de permanência em decúbito ("lying behavior") de 15 vacas no período de transição, monitoradas entre o décimo dia anterior e o décimo dia posterior ao parto (Huzzey et al., 2005).

O tempo médio despendido na alimentação variou no período que antecedeu o parto, mantendo-se na média de 86,8±2,95 min/d. Após o parto, a média de tempo despendido na alimentação caiu para 61,7±2,95 min/d, queda que pode ser explicada pelo aumento da velocidade de alimentação, devido à passagem para uma dieta pós-parto mais energética. Outros estudos (Kertz et al., 1991; Osborne et al., 2002) mostraram que após o parto, o tempo despendido na alimentação aumentou 3,3 min/d, provavelmente refletindo o rápido aumento da ingestão de matéria seca (IMS) que ocorre durante esse período, a fim de suprir as necessidades da produção crescente de leite.

Os tempos de permanência em estação pré e pós-parto documentados em nesse estudo (12,3 e 13,4 h/d, respectivamente) foram em geral semelhantes aos observados por outros pesquisadores (Krohn e Munksgaard, 1993; Haley et al., 2000), sugerindo que o tempo de permanência em estação durante o período de transição não difere muito de outros estágios da lactação. Houve grande aumento (80%) do número de episódios de estação entre os dois dias anteriores ao parto e o dia do parto (Huzzey et al., 2005), indicando maior inquietude das vacas, provavelmente devido ao desconforto associado ao parto, e sugerindo que o conforto da vaca na baia maternidade deve receber atenção especial. Isso pode ser importante, principalmente nos casos de vacas que apresentam distocia (Proudfoot et al., 2009b).

Referências

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RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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EDER GHEDINI

TAPEJARA - RIO GRANDE DO SUL

EM 20/12/2012

Caberia ressaltar aqui a importância de observar-mos o escore corporal deste animais destinados ao pré -parto, implicando diretamente no BEN e o consequente desencadeamento de distúrbios metabólico. Tenho observado em algumas propriedades, animais com escore acima de 3.75, em uma escala de 1 a 5 pontos oque sob meu ponto de vista e embasado na literatura estaria acima do ideal. Pergunto aos autores, frente a esta ferramenta de avaliação muitas vezes negligenciada qual o escore ideal para os animais destinados ao período seco tendo em vista que neste período é indesejável o ganho e a perda de peso?


Obrigado pela atenção.


Forte abraço.  


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