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Qualidade do leite em sistemas de ordenha voluntários

POR GUSTAVO FREU

E MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 26/09/2019

6 MIN DE LEITURA

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A introdução de sistemas de ordenha voluntários (SOV), também conhecidos como ordenha robótica ou automática, representou um grande avanço tecnológico para a bovinocultura leiteira no início dos anos 90. A partir de então, estima-se que o número de fazendas que aderiram a esta tecnologia aumentou significativamente: de 1.250 no final dos anos 2000 para aproximadamente 38.000 unidades de SOV instaladas atualmente em todo o mundo.

Os sistemas de ordenha robótica baseiam-se na ordenha voluntária das vacas leiteiras em um processo completamente automatizado. Neste sistema as vacas são estimuladas a movimentarem-se para o local de ordenha para receber alimentos concentrados, e enquanto isso, os braços robóticos realizam os procedimentos de preparo das vacas: escovação e higienização do úbere e dos tetos e estimulação da descida do leite. Os sistemas robotizados são equipados com senSOVes eletrônicos, lasers e leitores de dados que auxiliam na identificação das vacas no momento da ordenha, e permitem ao robô se adaptar a características morfológicas (altura, tamanho do úbere, formato dos tetos e angulosidade) de cada vaca. Além disso, permitem mensurar o intervalo entre ordenhas e as condições de saúde das vacas, já que as avaliações e a ordenha são feitas individualmente por quarto mamário. Além disso, senSOVes para monitoramento da composição do leite e diagnóstico precoce da mastite podem ser incorporados ao sistema.

A implantação de SOV foi estudada extensivamente em pesquisas cientificas, embora os resultados envolvendo esta tecnologia podem ser divergentes. Neste cenário, pesquisadores da Itália reuniram informações recentes sobre os efeitos do SOV sobre a qualidade e a composição do leite. Para isso, resultados de cerca de 80 trabalhos produzidos principalmente na Alemanha, Estados Unidos, Holanda, Dinamarca, Itália, Canadá e Suécia foram compilados e recentemente publicados numa extensa revisão da literatura científica. Comparativamente, a ordenha com robôs difere da ordenha convencional de várias maneiras. Na ordenha robotizada, a frequência e os intervalos de ordenha são determinados pelas vacas individualmente e podem variar significativamente de vaca para vaca, influenciando não apenas a produção e a composição do leite, mas também suas características de contagem de células somáticas (CCS) e de contagem bacteriana total (CBT).

Poucos estudos avaliaram os efeitos dos SOV sobre a composição do leite, principalmente em relação aos teores de sólidos. Apesar disso, todos os resultados indicam que o SOV não afeta os teores de gordura, proteína, caseína e lactose. No entanto, intervalos de ordenha extremamente curtos ou longos podem causar variações na composição do leite, independentemente do sistema utilizado.

A implantação de SOV aumenta a frequência de ordenhas, favorecendo aumento de 5 a 10% na produção de leite em comparação com sistemas de ordenha convencional (cuja frequência de ordenha é fixa: 2 ou 3x ao dia). Nos SOV o número médio de ordenhas diárias por vaca varia de 2,5 a 3,0, de acordo com as características das fazendas comerciais que usam esta tecnologia. Com a introdução de SOV algumas fazendas têm dificuldade em atingir frequências de ordenha satisfatórias, especialmente porque os intervalos entre as ordenhas variam entre as vacas e até para a mesma vaca em um mesmo dia. Por isso, algumas fazendas adotam estratégias específicas como o tráfego forçado, que consiste em obrigar um número mínimo de ordenhas/dia. No entanto, o tráfego forçado tem influência negativa sobre alguns parâmetros de bem-estar-animal, e, por isso, recomenda-se que o operador busque as vacas várias vezes ao dia para estimulá-las a serem ordenhadas. Vale ressaltar, que o número de vezes que as vacas vão voluntariamente até a instalação de ordenha é, também, fortemente influenciado pela composição e palatabilidade do alimento fornecido durante a ordenha.

Nos SOV, o ordenhador não tem controle visual das condições do úbere e das características do leite e, por isso, nenhum ajuste no procedimento de limpeza pode ser feito para vacas individuais. Este controle é realizado automaticamente por sensores que monitoram em tempo real as características do leite e permitem ao sistema tomar decisões sobre a necessidade de separar o leite produzido e gerar alertas de saúde das vacas. A CBT do leite em SOV está diretamente associada com a capacidade do sistema em limpar adequadamente os tetos das vacas antes da ordenha e das condições de limpeza das vacas. Visto que nas ordenhas com robôs não há um método para avaliar a sujeira dos tetos, as falhas na limpeza são frequentes e podem ser responsáveis por aumentar a CBT do leite de tanque. Outro fator associado ao aumento deste parâmetro é a baixa frequência de utilização da SOV. Se o sistema não for utilizado continuamente pode ocorrer leite residual, que permanece por algum tempo nas tubulações e favorece a multiplicação microbiana. No entanto, embora os SOV possam causar ligeiro aumento de CBT do leite, a qualidade microbiológica não depende apenas do sistema de ordenha, mas também é afetada por outros parâmetros como higiene das instalações, limpeza do equipamento e intervalo entre ordenhas, que determinam a duração da multiplicação bacteriana na cisterna do teto.

Após a implantação de SOV, os estudos indicam que pode ocorrer aumento na CCS do leite e piora no estado de saúde do úbere, durante um período de adaptação das vacas (cuja duração é variável). O aumento da frequência de ordenha com a implantação do sistema robotizado é uma das causas responsáveis do aumento da CCS, embora apresente diferentes efeitos na saúde do úbere. Por um lado, o aumento da frequência de ordenha permite drenagem de bactérias da glândula mamária reduzindo o tempo de colonização destas nos quartos mamários. Por outro lado, a ordenha frequente aumenta os riscos e oportunidades de invasão bacteriana à glândula mamária, pois os esfíncteres dos tetos permanecem abertos com maior frequência expondo quartos mamários às bactérias ambientais.

A irregularidade dos intervalos de ordenha pode ser um fator adicional responsável pela alta CCS em SOV, especialmente se o intervalo de ordenha dos quartos mamários infectados se tornar mais longo. Adicionalmente, o aumento da carga de trabalho dos funcionários durante e imediatamente após a implantação de SOV, piora o gerenciamento do rebanho, o que também pode estar associado com o aumento da CCS. Aliado a estes fatores, a transmissão de mastite de vaca para vaca é maior na ordenha com robôs. Enquanto na ordenha convencional as vacas infectadas podem ser ordenhadas por último para reduzir o risco de transmissão entre vacas, no SOV a ordem de ordenha é aleatória. Para superar esse problema, alguns sistemas de SOV são equipados com sistemas de desinfecção das teteiras entre as ordenhas, mas a redução da contaminação por patógenos nem sempre é completa.

Apesar dos relatos que associam a implantação dos SOV com aumento de CCS, outros estudos descreveram que a CCS não difere entre SOV e sistemas com ordenha convencional. Isso pode estar associado ao aprimoramento técnico do equipamento e das configurações operacionais, que permitiu às fazendas que utilizam SOV obter valores mais baixos de CCS no leite (exemplificando, semelhante à CCS de sistema de ordenha convencionais) após um período adequado de adaptação das vacas. Os SOV permitem coletar amostras de leite individual de vaca e de quarto mamário, e dessa forma, é uma ótima alternativa para detectar aumentos na CCS em estágios iniciais de lactação. Outra vantagem associada ao seu uso é que a ordenha individual por quarto mamário evita a sobreordenha nos demais quartos de menor produção e reduz a contaminação cruzada entre os quartos mamários da mesma vaca através do equipamento de ordenha.

Os SOV foram projetados para obter vantagens em termos de economia de mão de obra, melhoria da qualidade do estilo de vida e aumento da produção de leite sem prejudicar a saúde e o bem-estar das vacas. No entanto, antes da implantação do SOV, é essencial uma avaliação criteriosa da saúde do úbere (evitar a introdução de vacas com mastite contagiosa) e de locomoção das vacas, além de investir tempo para treinamento das vacas para a correta utilização dos SOV.

Referências bibliográficas

Hogenboom, et al. Journal of Dairy Science, v. 102, n. 9, p. 7640-7654, 2019.

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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MARCOS VEIGA SANTOS

PIRASSUNUNGA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/09/2019

Obrigado pelos comentários e pelas informações, Toloi, um abraço, Marcos Veiga
ALEXANDRE GALLUCCI TOLOI

BAURU - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 27/09/2019

Bom dia Marcos, otimo material para esclarecer alguns pontos ligados a implantação de SOV, temos muito a evoluir nesse sistema, alguns pontos que gostaria de comentar:
O fluxo guiado dos animais busca efetuar o numero de ordenhas que deseja, de acordo com o DEL e ou produção, visando aumentar a eficiencia do processo com a menor influencia da MO no sistema (buscando vacas), onde ja se tem observado que quanto menos influencia da MO no sistema produtivo mais os animais se adaptam a rotina e mais favoravel ao Bem estar é o sistema, temos analisado isso em muitas fazendas que implantamos o sistema no Brasil. Outro motivo diretamente ligado ao fluxo é a melhor frequencia de ordenha, onde o sistema pode ajustar o intervalo entre ordenhas de acordo com o planejamento da fazenda, DEL, plano de alimentação e outros fatores.
Outro fator importante citado é sobre a qualidade do processo de ordenha, o mesmo tem que dar segurança na qualidade do prepado dos tetos, uso de pré dip eficiente, bem como o processo mecânico com eficiencia e sem risco de contaminar o leite, o mesmo se busca no pós dip, aplicação do pós dip eficiente (cobertura de tetos adequada), consumo adequado para o processo, ja estamos com mais de 40 propriedades trabalhando com SOV no Brasil com numeros de CCS e CBT semelhantes as da Europa.
A DeLaval tem alguns protocolos de pré implantação do SOV que prevê evitarmos desafios maiores pós start e dentre ele esta avaliação de tetos, cultura.
Um ponto de muita relevância, que fora comentado na materia, é a adaptação dos animais, quanto mais tempo e melhor manejo para adaptarmos as vacas menor será o stress, e mais rapidamente o sistema não dependerá de manejo humano para rodar com eficiência.
Mais uma vez parabéns pela materia, temos muito que aprender ainda com as vacas e os SOV.
Quanto mais tempo dedicarmos a estar nos SOV analisando o que é bom para as vacas, mais eficiencia teremos dos animais e dos sistemas.
Abraço
MAURO ARAUJO DIAS

ANÁPOLIS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/09/2019

Gilney um robô custa em torno de 530.000,00 e atende até 80 vacas, mais custo de adaptações das instalações( estou em estudo para implantar, no meu caso as adaptações vão girar em torno de 250.000,00(vou colocar 02).
OLIVIO JUNIOR

EM 18/08/2020

Mauro, gostaria de conversar contigo. Se puder entrar em contato (41)99577-1056
GILNEY RODRIGUES VENTURA

ITAMARAJU - BAHIA - ESTUDANTE

EM 26/09/2019

Bom dia, eu gostaria de saber o CUSTO para produzir um litro de leite nesse fantástico sistema???

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