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O que sabemos sobre a mastite? Controle e tratamento

POR MARCOS VEIGA SANTOS

E TIAGO TOMAZI

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 30/05/2018

6 MIN DE LEITURA

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Este é o segundo artigo da série “O que sabemos sobre a mastite”. Neste artigo iremos revisar conceitos e avanços ocorridos no último século em relação ao controle e tratamento da mastite.

Desde os primeiros estudos, no início da década de 1950, os pesquisadores reconheceram que a mastite é uma doença multifatorial. Porém, a carência de evidências científicas não permitia identificar o efeito de práticas de manejo sobre a ocorrência de infecções intramamárias (IIM). Na década seguinte, pesquisadores do Reino Unido desenvolveram um primeiro esquema com foco no entendimento da dinâmica de IIM (Figura 1). A partir de então, foram desenvolvidas medidas de controle para reduzir a taxa de novas IIM, especialmente as causadas por patógenos contagiosos (Strep. agalactiae e Staph. aureus).

Figura 1 – Dinâmica de potenciais eventos no desenvolvimento de infecções intramamárias. Fonte: Adaptado de Dodd et al. (1964).

A partir de 1969, vários estudos avaliaram as práticas de manejo com potencial em reduzir a prevalência de mastite nos rebanhos leiteiros. O conjunto das práticas inicialmente proposto foi o chamado de “sistema de higiene completo”, o qual compreendia as seguintes ações:

  • (a) desinfecção dos tetos pré-ordenha com toalhas individuais;
  • (b) uso de luvas descartáveis;
  • (c) sanitização das teteiras entre vacas; e
  • (d) imersão dos tetos em solução desinfetante pós-ordenha.

Posteriormente, foi  avaliado e recomendado um programa de “higiene parcial”, pois a sanitização das teteiras entre as ordenhas das vacas não foi eficiente para redução de novas infecções. Além disso, a avaliação do tratamento de vaca seca indicou que esta medida reduzia a prevalência de mastite. Nos anos seguintes, esse plano foi amplamente adotado em rebanhos leiteiros, e serviu como base para o desenvolvimento do “programa de 5 pontos para o controle de mastite”:

  • (1) imersão dos tetos em solução desinfetante pós-ordenha;
  • (2) uso de antibióticos de vaca seca em todos os quartos mamários;
  • (3) tratamento adequado dos casos de mastite clínica;
  • (4) descarte de vacas com infecções crônicas; e
  • (5) manutenção apropriada do equipamento de ordenha.

Antes da descoberta dos antibióticos, não havia um tratamento específico para vacas com mastite, e pouco se sabia sobre como controlar a transmissão dos patógenos causadores desta doença. Pesquisas iniciais determinaram que análises periódicas de cultura do leite, seguido de segregação e/ou descarte de vacas afetadas, era a melhor estratégia para controlar Strep. agalactiae nos rebanhos. No entanto, esse plano de controle foi difícil de implantar devido à alta frequência de descarte de vacas.

Com a disponibilidade dos antimicrobianos para uso na medicina veterinária, vários estudos foram conduzidos para determinar como usá-los adequadamente no tratamento de mastite. Os primeiros experimentos com penicilina intramamária começaram na década de 1940 e a eficácia (in vitro) deste composto contra bactérias Gram-positivas foi estabelecida em 1945.

No início da década de 1970 o uso de antibióticos para tratamento de vacas em lactação já estava bem estabelecido, porém algumas limitações ficaram evidentes. Por exemplo, havia menor eficiência dos antimicrobianos para tratamento de IIM causadas por Staph. aureus em comparação com Strep. agalactiae. As maiores taxas de cura de IIM causadas por Strep. agalactiae (90% com uma única aplicação de penicilina) se devia principalmente ao fato de a infecção se estabelecer no sistema de ductos da glândula mamária. Por outro lado, em casos de IIM causadas por Staph. aureus, as taxas de cura eram menores devido à capacidade da bactéria em penetrar nas paredes dos ductos mamários, além da facilidade deste patógeno em colonizar diferentes regiões da glândula mamária. Além disso, este estudo foi o primeiro a descrever que fatores individuais da vaca (idade, estágio de lactação, produção de leite, e gravidade da infecção) devem ser considerados antes de decidir usar antibióticos para tratar IIM causadas por Staph. aureus. Três décadas depois, outros estudos também descreveram baixas taxas de cura bacteriológica (30–50%) para IIM causadas por Staph. aureus, e comprovaram que vacas mais jovens, com baixa CCS, e em estágios iniciais de lactação têm maiores chances de eliminação do patógeno após tratamento com antimicrobianos do que vacas velhas, com alta CCS e em fase final de lactação.

Até a década de 1990, poucos estudos avaliaram o tratamento da mastite causada por coliformes. Inicialmente, as recomendações para tratamento de coliformes eram empíricas e incluíam aumento da frequência de ordenhas, administração sistêmica e intramamária de antibióticos, fluidoterapia e uso de anti-inflamatórios. Além disso, não havia antibióticos aprovados para mastite com ação contra patógenos Gram-negativos.  De todo modo, os estudos iniciais indicaram que a terapia antimicrobiana não melhorou a cura de IIM causadas por Escherichia coli, o que desafiou conceitos predominantes relacionados ao tratamento de mastite.

O papel da resposta imune da vaca na eliminação de infecções por coliformes (em vez da antibioticoterapia) tem sido objetivo de várias pesquisas nas últimas décadas. Embora alguns antimicrobianos de amplo espectro tornaram-se disponíveis para o tratamento da mastite (ex., ceftiofur), o aumento da proporção de casos de mastite clínica com resultado de cultura negativa (30-50%), juntamente com a grande diversidade de patógenos com potencial de causar IIM, estimularam o desenvolvimento de protocolos de tratamento seletivo de mastite clínica. As recomendações atuais para tratamento de mastite clínica são baseadas no uso seletivo de antibióticos para a maioria das infecções causadas por bactérias Gram-positivas, além de permitir tempo (24-36 horas) para a cura espontânea de casos com outra etiologia (cultura negativa e IIM causadas por bactérias Gram-negativas de gravidade leve e moderada).

Estudos realizados após uso disseminado de antimicrobianos para tratamento de mastite (a partir da década de 1970) demonstraram que aproximadamente 50% das vacas dos EUA apresentavam IIM. O custo do leite descartado e o risco de resíduos de antibióticos foram reconhecidos como limitações do uso destes compostos para tratar uma grande proporção de vacas lactantes infectadas, e isso serviu de estímulo para o desenvolvimento de protocolos de terapia de vaca seca (TVS). A partir de então, estudos definiram conceitos sobre o risco do desenvolvimento de IIM durante o período seco, bem como, os benefícios de reduzir a ocorrência de novas IIM durante este período com o uso de antimicrobianos.

Resultados de um estudo publicado em 1974 comparando um protocolo seletivo de TVS (vacas selecionadas com base no histórico de mastite clínica) com um protocolo não-seletivos (tratamento de todas as vacas) demonstraram redução de cura bacteriológica, aumento de novas IIM e aumento de mastite clínica no início da lactação de vacas pertencentes ao grupo de tratamento seletivo. Com isso o uso de antibióticos em todas as vacas na secagem se estabeleceu como um componente importante do controle de mastite em rebanhos leiteiros dos EUA e Reino Unido. Em 1996, cerca de 77% dos rebanhos dos EUA usavam antibióticos para secagem em todas as vacas. Em contraste, durante o mesmo período, rebanhos leiteiros em países escandinavos (ex., Dinamarca e Suécia) tiveram baixíssimas taxas de IIM e preferiram adotar programas seletivos de secagem.

À medida que os resultados de pesquisa proporcionaram um melhor conhecimento sobre o alto risco de mastite durante o período seco, ficou evidente que a TVS não poderia ser a única medida de controle de novas IIM, especialmente durante o período próximo do parto. A preocupação com o uso abusivo de antibióticos somado à necessidade de reduzir novas IIM durante o período seco, resultou no desenvolvimento dos selantes de tetos. Atualmente, os selantes internos de tetos são amplamente utilizados em rebanhos leiteiros e servem como uma estratégia importante de prevenção de novas IIM e redução do uso de antimicrobianos quando usados em protocolos seletivos de TVS.

 A mastite continua a ser uma das doenças mais frequente em rebanhos leiteiros, e consequentemente, é responsável pelo maior consumo de antimicrobianos administrados em vacas adultas. Com o aumento da pressão global para reduzir o uso de antibióticos em animais de produção, novas pesquisas são necessárias para desenvolver protocolos baseados no uso racional de antibióticos e que possam ser aplicados de forma direcionada de acordo com características das vacas e dos agentes causadores.

Fonte: Ruegg (2017). Journal of Dairy Science. 100:10381–10397. (https://doi.org/10.3168/jds.2017-13023).

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

TIAGO TOMAZI

Médico Veterinário e Doutor em Nutrição e Produção Animal
Pesquisador do Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP

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