Torna-se cada vez mais comum que produtores recebam mensalmente um extrato sobre a situação de qualidade do leite do rebanho, descrevendo o histórico de CCS, CBT e composição do leite (porcentagem de gordura, proteína, lactose e sólidos totais). Entendo que essa seja uma enorme mudança conceitual nos sistemas produtivos, já que a qualidade do leite, avaliada objetivamente, passa a ser uma variável a mais a ser considerada nas decisões do produtor.
Se por um lado o maior acesso das informações é um fato a ser comemorado, não se pode deixar de mencionar que ainda sobram desafios em termos de controle de mastite no Brasil. Dentre as diversas deficiências encontradas, uma das mais limitantes e críticas é baixa qualificação dos produtores e funcionários em relação às causas, medidas de controle e de estimativa de perdas econômicas. Na grande maioria dos rebanhos, faltam ainda medidas simples como o monitoramento da mastite subclínica, o emprego do tratamento de vaca seca, a utilização de pré e pós-dipping, entre outras. Tais medidas simples e de grande potencial de retorno econômico têm sido empregadas com sucesso e vantagens em outros países.
Um estudo recente levantou informações importantes e bastante úteis sobre a ocorrência de mastite subclínica em rebanhos holandeses do estado de Minas Gerais. Os objetivos foram os de estabelecer as relações entre CCS e o número de lactações, assim como verificar qual o impacto da CCS sobre a produção e composição de leite em rebanhos do controle leiteiro da Associação de Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais.
O estudo foi desenvolvido com dados de quatro anos (2000 a 2003) e totalizou cerca de 161.500 amostras analisadas, sendo consideradas vacas com mastite subclínica aquelas que apresentaram CCS > 250.000 céls./ml. Foram monitorados dados relativos à produção de leite, CCS, porcentagem de gordura e de proteína total, assim como o ano, mês e ordem de lactação.
Os resultados do estudo indicam uma progressiva redução da porcentagem de vacas com mastite subclínica nos rebanhos estudados, conforme tabela 1. Pode-se verificar que nos anos de 2000 e 2001 aproximadamente 44% das vacas analisadas apresentaram mastite subclínica, o que significa que quase uma em cada duas vacas apresentou a doença nesse período. Ainda que a redução tenha sido significativa no ano de 2003, pode-se considerar que para esses rebanhos a mastite resultou em perdas econômicas acentuadas.
Tabela 1. Ocorrência (%) de mastite subclínica em vacas de leite segundo os anos estudados.
Conforme esperado, os resultados apontaram para um aumento da CCS em função do aumento do número de parições, uma vez que o risco de infecções é maior quanto maior a idade do animal (Tabela 2). Foi identificada correlação significativa negativa entre a CCS e a produção de leite, ou seja, quanto maior a CCS da vaca menor a produção registrada, no entanto, as correlações entre CCS e porcentagem de proteína e gordura foram positivas.
Os dados de CCS foram distribuídos em classes para verificação do impacto da CCS sobre a produção de leite e a porcentagem de proteína e gordura, conforme apresentado na Tabela 3. É possível verificar uma redução significativa da produção de leite conforme a CCS aumenta. A título de exemplificação, a redução foi de 7,1% entre a classe de < 101.000 e a de 101.000-250.000, e de 19,4% entre as classes de < 101.000 e > 3.000.000.
Verificou-se, entretanto, aumento dos teores de proteína e gordura com o aumento da CCS. Foi verificado aumento de 6,2% na porcentagem de proteína entre os animais da classe de CCS > 3.000.000 cels/ml e os da classe < 100.000 cels/ml, enquanto para a porcentagem de gordura o impacto foi de 4,3% para esta mesma comparação. Esses últimos dados apontam que não existe uma relação única entre CCS e porcentagem de gordura e proteína, uma vez que existe variação de resultados sobre o efeito da CCS sobre a composição.
Em resumo, o estudo aponta que a ocorrência de mastite subclínica é alta, com média de 42,5% de vacas infectadas. Além disso, o estudo mostra que existe um impacto negativo da CCS sobre a produção de leite e que vacas mais velhas apresentam maior CCS.
Fonte: Cunha et al., Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.60, n.1, p.19-24, 2008. (íntegra do artigo pode ser acessada em: https://www.scielo.br/pdf/abmvz/v60n1/a03v60n1.pdf)