"A incidência do leite instável não ácido (LINA) causa prejuízo em toda cadeia produtiva"
A exigência por produtos lácteos de qualidade no Brasil é justificada pelo aumento do mercado consumidor cada vez mais preocupado com sua alimentação e saúde. Outro fator é sua importância no cenário internacional, ocupando a terceira posição no ranking dos países que mais produzem leite no mundo, além do alto consumo per capita que chega até 166 litros por habitante.
Apesar disso, problemas relacionados a qualidade do leite ainda são enfrentados pela indústria e a incidência do leite instável não ácido (LINA) se destaca causando prejuízo a toda cadeia produtiva.
Mas afinal, quais são as possíveis causas da instabilidade do leite sem qualquer alteração na sua acidez? E de que maneira podemos prevenir seu surgimento no rebanho?
Sabe-se que os fatores determinantes na qualidade e composição do leite são diversos, sendo os principais os fatores intrínsecos de cada animal, como idade e metabolismo e a genética. A espécie, por exemplo, é capaz de definir a porcentagem das células mamárias que irão se diferenciar em células secretoras, bem como as proporções de lactose, gordura, proteína e sais minerais do leite, influenciando diretamente na estabilidade do produto.
Além destes fatores, o manejo incorreto da dieta dos animais, ocasionando déficit nutricional, tem sido um dos principais fatores responsáveis pela presença de LINA. Dietas desbalanceadas e longos períodos de restrição alimentar podem aumentar a apoptose das células epiteliais mamárias e modificar a composição e o pH do sangue, alterando os componentes do leite e sua estabilidade perante ao teste do álcool.
O desiquilíbrio mineral causado por uma suplementação incorreta ou inexistente e à uma baixa concentração de alfa-lactoglobulina também pode alterar a proporção de cátions iônicos e promover a neutralização dos ânions, causando a precipitação de proteínas. Outra razão seria o desbalanceamento de íons que pode estar associado à longos períodos de jejum dos animais e à baixa glicemia. Considerando-se que esse açúcar é o precursor da lactose, esse fator também se relaciona à instabilidade do leite.
Outra causa relevante é o estresse térmico dos animais. O desconforto causado por alterações bruscas na temperatura ambiente pode fazer com que o animal se alimente menos gerando todo o desbalanceamento citado anteriormente. Além disso, esse estresse pode promover vasodilatação periférica e aumento na sua frequência cardíaca e respiratória, reduzindo a disponibilidade de nutrientes e alterando a composição do leite.
A fase de lactação também influencia para o surgimento do LINA. Vacas no início ou no final do estágio lactante também poderão apresentar alterações nos equilíbrios salinos e nos componentes do leite, afetando sua estabilidade sem alterar sua acidez.
A aquisição de animais geneticamente selecionados e o descarte de susceptíveis a produção de LINA, associado a mudanças simples de manejo tem se mostrado imprescindível na redução do problema.
Algumas medidas podem ser eficientes para prevenção de LINA com consequente aumento da lucratividade da produção, tais como:
- Oferecimento de dietas equilibradas e suplementação alimentar;
- Fornecimento de sombra e água fresca aos animais nos dias mais quentes e abrigo nos dias mais frios;
- Monitoramento preciso do período de lactação das vacas
Quer se especializar? Confira os cursos “LINA: um problema de qualidade ou manejo?" do EducaPoint!
Autores
Maria Eduarda Marques Soutelino – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense (UFF).
Adriana Cristina de Oliveira Silva - Departamento de Tecnologia, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense (UFF).
Michel Abdalla Heylael – Departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense (UFF).
Referências bibliográficas
FAGNANI, Rafael; DE ARAÚJO, João Paulo Andrade; BOTARO, Bruno Garcia. Field findings about milk ethanol stability: a first report of interrelationship between α-lactalbumin and lactose. Journal of the Science of Food and Agriculture. v. 98, n.7, p. 2787- 2792, 2017.
ROSA, Patrícia Pinto; ZANELA, Maira Balbinotti; RIBEIRO, Maria Edi Rocha; FLUCK, Ana Carolina; ANGELO, Isabelle Damé Veber; FERREIRA, Otoniel Geter Lauz; COSTA, Olmar Antônio Denardin. Etiologic factors affecting milk quality, Milk unstable and not acid (LINA). Revista Eletrônica de Veterinária. v.18, p.1-17, 2017.
MARQUES, Lúcia Trepow; FISHER, Vivian; ZANELA, Maira Balbinotti; RIBEIRO, Maria Edi Rocha; JUNIOR, Waldyr Stumpf; MANZKE, Naiana. Fornecimento de suplementos com diferentes níveis de energia e proteína para vacas Jersey e seus efeitos sobre a instabilidade do leite. Revista Brasileira de Zootecnia. v.39, n.12, p. 2724-2730, 2010.
Martins, C. M. M. R., Arcari, M. A., Welter, K. C., Netto, A. S., Oliveira, C. A. F., & Santos, M. V. Effect of dietary cation-anion difference on performance of lactating dairy cows and stability of milk proteins. Journal of Dairy Science. v. 98, n.4, p 2650–2661, 2015.