Introdução
Em termos de Contagem Bacteriana Total (CBT), a Nova Zelândia tem, de longe, a melhor qualidade do mundo. A CBT média na chegada da plataforma da fábrica, após o transporte, é de menos de 10.000 por ml. Muitos brasileiros vão à Nova Zelândia todo ano buscando entender e são rapidamente surpreendidos. Eu me lembro de nossa primeira viagem a uma fazenda com ordenha da Nova Zelândia, com um visitante brasileiro há 5 anos. Ele olhou para o ordenhador, colocando as teteiras diretamente nas vacas, sem pensar muito em limpeza dos tetos ou pré-dipping. O brasileiro, espantado, correu para ver o resultado de qualidade. Menos de 10.000 CBT/ml? Como isso era possível? E então, o levamos para uma inspeção nos equipamentos de ordenha, as partes que realmente tinham mais contato com o leite, o interior da planta, eram meticulosamente limpo e brilhante. Em contraste, lembro da primeira visita de um colega da Nova Zelândia ao Brasil há cerca de 5 anos. Ele entrou no fosso e estava tão limpo que você quase podia fazer uma refeição. O ordenhador estava bem asseado e vestindo luvas; os tetos das vacas eram meticulosamente limpos e fez-se o pré-dipping. Meu colega obviamente tinha ouvido que a qualidade brasileira era ruim de forma que, perplexo, ele correu para ver a análise. 500.000 CBT/ml? Como isso era possível?... E então inspecionamos o equipamento para ver como estava por dentro, havia resíduos de leite e depósitos em todo o equipamento, das teteiras ao tanque. Um outro pequeno fato eu me recordo... a fazenda neozelandesa estava ordenhando cerca de 130 vacas por hora com uma pessoa. A fazenda brasileira estava levando cerca de 3 horas para ordenhar 50 vacas com duas pessoas. A qualidade brasileira melhorou significativamente nos últimos anos, então, talvez, a comparação que fiz há 5 anos seja menos relevante. Entretanto, ainda existem diferenças enormes entre os sistemas dos dois países.
A maioria dos brasileiros ainda volta para a Nova Zelândia não entendendo como conseguimos uma qualidade tão boa. Nosso manejo de ordenha parece ir contra o que é ensinado na universidade – então, como pode ser? Eu tentarei explicar. Entretanto, precisarei pedir ao leitor para ter uma mente aberta. O que fazemos na Nova Zelândia é diferente do que o resto do mundo faz, mas funciona para nós e temos resultados para provar isso.
A abordagem neozelandesa para trabalhar com qualidade funcionaria no Brasil? Eu tenho muita experiência nisso, mas deixarei você decidir.
Os próximos tópicos destacam alguns dos principais pontos referentes ao controle da CBT na Nova Zelândia.
Manejo de ordenha
Na Nova Zelândia, temos uma pessoa para cada 170-200 vacas. A mão de obra é cara, de forma que precisamos otimizar o tempo. Como regra geral, colocamos as teteiras diretamente na vaca, com zero preparação. Temos pouco tempo para lavar os tetos ou usar pré-dipping. (De fato, quase todos os produtos de pré-dipping não são permitidos usar na Nova Zelândia, devido ao risco de contaminação do leite). Nossa experiência nos mostra que colocar o equipamento em tetos limpos e secos, sem nenhuma preparação, não causa nenhum aumento de CBT. Tetos sujos sim; a recomendação é quando os tetos estão secos e sujos, limpar manualmente com as mãos e, se estiverem úmidos e sujos, lavá-los e deixá-los secar. Nós também descobrimos que, se os tetos não são bem lavados ou são excessivamente molhados com muita água, obtemos um resultado pior do que quando não fazemos nada. Eles ficam úmidos e lamacentos com muita frequência? As chuvas médias para a maioria das regiões é de cerca de 1.250 mm anualmente. Algumas regiões têm mais de 3.000 mm por ano. A lama é considerada um inimigo (especialmente em sistemas baseados a pasto, pois à medida que a lama é formada, significa que não há pasto e, portanto, que não há alimento) e há grandes investimentos por parte dos produtores para evitá-la. Os corredores e os acessos aos pastos, por exemplo, estão frequentemente em melhores condições do que a maioria das estradas de terra no Brasil.
Sistema de limpeza
Novamente uma enorme diferença com o resto do mundo aqui. A Nova Zelândia usa um sistema baseado em ácido para limpeza dos equipamentos. Algumas diferenças – o sistema de lavagem na maioria dos dias é rápido, levando cerca de 5-15 minutos para ser realizado. A lavagem ácida não é reciclada, passando somente uma vez pelo equipamento. O sistema usa grande volume de água quente, porém apenas uma vez ao dia. Os produtos são altamente concentrados e a temperatura é muito quente, em 80-85 graus. Nossa experiência nos mostra que a água precisa estar quente para limpar bem. Além disso, a Nova Zelândia frequentemente é fria, a água esfria muito mais rápido, de forma que nossa temperatura inicial precisa ser um pouco maior do que nos países tropicais.
Outra diferença importante, quase todas as plantas têm uma bomba a vácuo para lavar. Antes de estas bombas serem instaladas, os produtores precisavam limpar manualmente as linhas de ordenha com uma escova uma ou duas vezes por mês para manter bons resultados.
Apenas uma nota – eu não recomendo esse sistema para o Brasil. Os mesmos produtos não estão aqui, nem a maioria das fazendas no Brasil tem tamanhos corretos de caldeira. Eu recomendo que se lave manualmente a linha de ordenha regularmente se esta não limpar muito bem com o sistema automático.
Refrigeração
As leis neozelandesas referentes à refrigeração são as mesmas do Brasil, as fazendas precisam resfriar o leite até 4 graus em menos de três horas. A grande diferença é que todas as fazendas da Nova Zelândia, por lei, precisam ter uma placa de resfriamento. Essa resfria o leite de 37 graus para a temperatura ambiente (na maioria dos casos, cerca de 17 graus) instantaneamente. Um grande impulso para eficiência de energia e resfriamento.
Sistema de pagamento
A qualidade na Nova Zelândia é obrigatória. Se você não fornecer leite de qualidade, é penalizado ou tirado da cadeia de fornecimento. Uma típica tabela de pagamento referente à CBT está exemplificada abaixo. Uma tabela similar é usada por todas as companhias de lácteos. Elas escolheram adotar o mesmo sistema, de forma que as mesmas regras se aplicam a todos os produtores.
Alguns pontos sobre a tabela: 1 ponto demérito = 5% de penalidade no valor do volume do leite para esse lote, de forma que 20 pontos deméritos [1] = 100% de penalidade; Ao atingir 20 pontos deméritos seguidos = possível suspensão do fornecimento.
Em termos de frequência de testes, uma vez que a fazenda obtenha um ponto demérito, ela recebe testes diários até que o resultado esteja dentro do padrão novamente. O padrão mais difícil de cumprir é o dos termodúricos, pois é muito difícil ficar abaixo de 1.500 e requer vigilância constante. Assim, as fazendas não são comumente penalizadas pela CBT, porque a penalidade dos termodúricos normalmente vem antes.
Suporte à fazenda/Assistência Técnica
- Treinamento
A assessoria técnica sobre qualidade do leite é passada às fazendas através de cursos padronizados de treinamento em todo o país (que são normalmente conduzidos pela QCONZ. A importância disso é que todos recebem o mesmo treinamento e os mesmos conselhos. Todo mundo canta a mesma canção.
- Assistência técnica
Quando uma fazenda recebe uma penalidade, rapidamente ocorre uma visita técnica para resolver seu problema (que é normalmente conduzida pela QCONZ. Isso envolve uma inspeção completa na planta e uma revisão dos procedimentos de limpeza, manejo de ordenha, entre outras coisas. Se o problema persistir, então o consultor técnico retorna e coleta amostras de leite em vários locais na planta durante a ordenha para determinar como o leite está sendo contaminado e a fonte exata de contaminação (podemos determinar se é na refrigeração do leite, um problema de limpeza ou um problema no manejo de ordenha e, se for um problema de limpeza, podemos determinar a localização exata do depósito de resíduos de leite que está causando a contaminação). Nós também monitoramos a temperatura do processo de limpeza e o processo de refrigeração usando “etiquetas”.
Sobre o QCONZ (Quality Consultants of New Zealand)
A QCONZ é uma empresa de serviços que fornece treinamento, consultoria, assistência técnica e serviços de auditoria para a indústria de lácteos na Nova Zelândia, Austrália, Brasil, América do Sul e Ásia. No Brasil, o QCONZ inspeciona fazendas BPF para DPA e implementou o Sistema Mineiro de Qualidade do Leite (SMQL) em mais de 120 companhias de lácteos em Minas Gerais. A QCONZ também já realizou outros projetos para DPA, BRF, Itambé, Bela Vista, LBR, Unilever, Sebrae Minas, SENAR Minas, SECTS Minas, Emater Minas e Balde Cheio Rio, entre outras organizações líderes na indústria de lácteos.
CEO at QCONZ (Quality Consultants of New Zealand) America Latina