A mastite clínica (MC) pode ser classificada de acordo com a gravidade dos sintomas. Os casos leves (somente alterações no leite) juntamente com os moderados (alterações no leite e no úbere) compreendem acima de 85% do total de casos nas fazendas leiteiras. Embora os custos da mastite subclínica (MSC) sejam superiores, as vacas com MC trazem prejuízos diretos pelo descarte de leite com resíduos de antibióticos, tratamentos, descarte precoce das vacas e impacto negativo no desempenho reprodutivo.
Os casos de mastite causados por bactérias Gram-negativas, como E. coli e Kleb. pneumoniae, apresentam diferenças significativas quanto à duração e à patogenicidade. Isso ocorre em razão da interação destes microrganismos com características específicas da vaca, como idade, estágio de lactação, contagem de células somática (CCS) antes do caso clínico e histórico de MC, o que resulta em diferentes respostas de acordo com a vaca e o tipo de bactéria. Por exemplo, o comportamento típico da CCS após um caso de mastite clínica causada por E. coli ou por vacas com cultura negativa é de um rápido aumento, com posterior redução, retornando aos valores observados em vacas sadias. No entanto, a variação da CCS de vacas com mastite clínica causada por Kleb. pneumoniae ainda é pouco estudada.
Em razão da importância crescente da Klebsiella spp. como causador de mastite crônica e persistente foi desenvolvido uma pesquisa nos EUA sobre as variações da CCS nos quartos mamários de vacas com MC leve e moderada, em comparação com MC com cultura negativa ou causados por E. coli. Para avaliar a CCS das vacas com MC, foram agrupados os casos de MC com cultura negativa e os casos de mastite causados por bactérias Gram-negativas (E. coli e Kleb. pneumoniae). As vacas selecionadas foram monitoradas durante 90 dias após o início do caso clínico, por meio de coletas semanais de leite para cultura microbiológica e CCS por quarto mamário.
Os resultados deste estudo indicaram um comportamento diferente da CCS dos quartos mamários após o diagnóstico de MC de acordo com o tipo de agente. Em relação aos casos clínicos com cultura negativa, não houve associação da CCS durante os 90 dias de avaliação com o uso ou não de tratamento com antibiótico. A CCS logo após o diagnóstico da mastite clínica foi alta, porém houve diminuição rápida a partir da 2ª a 3ª semana após o caso clínico. No entanto, a CCS foi maior nas vacas que já apresentavam valores altos antes do caso clínico, em comparação com aquelas que não apresentavam esse histórico. Os fatores de risco associados com as mudanças da CCS foram o histórico de mastite subclínica e a ocorrência de novas infecções intra-mamárias (IIM), indicando que o risco de mastite clínica é maior nas vacas que já apresentam mastite subclínica.
Dentre os casos clínicos causados por bactérias Gram-negativas, a CCS foi maior nos casos de Kleb. pneumoniae comparados aos causados por E. coli. De maneira similar aos casos com cultura negativa, não houve diferença da CCS das vacas que receberam ou não tratamento com antibióticos, no entanto ao longo do tempo, houve associação da CCS com o tipo do patógeno (E. coli ou Kleb. pneumoniae) (Figura 1).
Figura 1. Médias semanais de CCS por quarto mamário de acordo com o tipo de patógeno causador (Fonte: adaptado de Fuenzalida e Ruegg, 2019).
Quando a mastite clínica foi causada por E. coli, a CCS no momento do diagnóstico foi alta, porém diminuiu rapidamente até a quarta semana de avaliação, indicando rápida resolução da mastite. Por outro lado, nas mastites causadas por Kleb. pneumoniae, a CCS diminuiu nos primeiros 7 dias, porém permaneceu mais alta durante todo o período de avaliação. Sendo assim, após casos de mastite clínica causados por Kleb. pneumoniae a CCS permanece elevada e uma alta proporção destas vacas infectadas apresentam mastite crônica, as quais podem ser potenciais fontes de transmissão deste agente.
Fonte: Fuenzalida e Ruegg, J. Dairy Science, 2019. https://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(19)30909-9/fulltext