A maioria dos especialistas em controle de mastite e qualidade do leite concorda que a desinfecção dos tetos antes e após as ordenhas é uma das medidas mais eficazes de controle de novas infecções intramamárias em vacas leiteiras, em particular para os agentes contagiosos. O objetivo primário é reduzir a contaminação da pele do teto através do uso de um desinfetante, o que reduz o risco da entrada do microrganismo na glândula mamária.
Atualmente, está disponível no mercado um grande número de formulações, com os mais diferentes ingredientes ativos e com ampla variação de preço. Como a prática de desinfecção dos tetos é tida como simples, eficiente e muito econômica, é preciso ter em mente que, para que esta prática tenha sucesso, o produto a ser usado deve realmente atingir o objetivo de reduzir a contaminação na pele do teto. Desta forma, existem hoje diversos protocolos cientificamente comprovados para avaliar a eficácia dos produtos para desinfecção de tetos, o que contribuiu significativamente para a melhoria das formulações, e, atualmente, diversos produtos podem reduzir a incidência de mastite de 50 a 95%. Isto não pode ser estendido a qualquer produto comercializado sem que haja testes adequados, que comprovam que determinado fabricante, em uma determinada formulação, é realmente eficiente.
Diversos componentes químicos podem ser usados em formulações de desinfetantes para tetos, como por exemplo: iodo, hipoclorito de sódio, clorexidine, compostos de amônia quaternária, acido duodecil benzenosulfônico, nisina, peróxido de hidrogênio, glicerol monolaureato e ácidos graxos. O mecanismo básico de ação destes compostos sobre os microrganismos é através de ação química ou biológica, como por exemplo pela oxidação/redução, desnaturação e/ou precipitação de proteínas citoplasmáticas, inibição de atividade enzimática e ruptura de membranas das células.
Entendendo a desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping)
A função básica do pré-dipping no momento de preparar a vaca para a ordenha é obter a descontaminação da pele do teto. Esta redução da contaminação apresenta duas vantagens: diminui o número de bactérias no leite (relacionado com a qualidade microbiológica do leite) e reduz a disseminação de microrganismos e, consequentemente, a ocorrência de novas infecções, em especial para os agentes ambientais. Além do foco principal, que é a descontaminação da pele do teto, a prática do pré-dipping melhora a estimulação da descida do leite, que é um reflexo neuro-hormonal que aumenta a velocidade de ordenha e a extração do leite.
Uma das razões para o desenvolvimento da desinfecção dos tetos antes da ordenha foi o aumento de casos de mastite de origem ambiental em alguns rebanhos do Estado da Califórnia, EUA. Com o uso de medidas eficazes de controle para a mastite contagiosa, uma das medidas estudadas foi a desinfecção dos tetos antes da ordenha, que provou ser altamente eficaz, com redução de novas infecções intramamarias causadas por agentes ambientais de até 50%, quando comparadas com a prática de lavagem do úbere com água e posterior secagem.
Para que o pré-dipping atinja o objetivo de descontaminação da pele do teto é extremamente importante considerar as condições do teto no momento de aplicação do produto. Quanto maior a carga de substâncias orgânicas (como esterco, lama, barro, cama) aderidas ao teto, menor será a eficácia do pré-dipping. Desta forma, não adianta aplicar a solução desinfetante em um teto coberto com esterco, pois o produto não irá agir de forma satisfatória.
De forma objetiva, o procedimento de pré-dipping deve ser realizado na seguinte seqüência:
1) lavagem dos tetos (somente quando estritamente necessário),
2) retirada dos primeiros jatos (teste da caneca),
3) aplicação do desinfetante (preferencialmente por imersão) em tetos limpos,
4) aguardar período mínimo para ação do produto (15-30 seg),
5) secagem completa do teto com papel toalha,
6) colocação do conjunto de ordenha na vaca.
Quando possível, recomenda-se sempre evitar o uso de água para lavagem dos tetos antes da ordenha, pois o excesso de água reduz a atividade do desinfetante e aumenta a contaminação, além de facilitar a queda de teteiras durante a ordenha.
A prática do pré-dipping é recomendada atualmente não apenas para rebanhos com problemas de mastite ambiental, uma vez que este procedimento apresenta uma série de vantagens para a melhoria da ordenha e da qualidade do leite. No entanto, deve-se enfatizar que o uso do pré-dipping não substitui uma boa rotina de ordenha.
Entendendo a desinfecção dos tetos após a ordenha (pós-dipping)
Mesmo que a ordenha seja feita da forma mais higiênica possível, sempre ocorre transferência de microrganismos entre os animais ordenhados durante a ordenha. Desta forma, após o término da ordenha, a pele dos tetos fica altamente contaminada, e estes microrganismos podem adentrar a glândula mamaria e causar novas infecções. O pós-dipping tem o objetivo de eliminar os microrganismos presentes na pele do tetos após o término da ordenha, sendo comprovadamente eficaz como medida de prevenção de novos casos de mastite causados por microrganismos contagiosos, como Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae.
É interessante notar que o conceito de desinfecção dos tetos após a ordenha é bastante antigo, com relatos de que, em 1916, esta prática foi usada sem sucesso, pois o produto (óleo de pinho) não era eficaz. No entanto, nas últimas décadas, surgiu um grande volume de informações sobre diferentes produtos e formulações que se comprovaram eficazes para uso como pós-dipping. Um dos principais institutos de pesquisa em gado leiteiro da Inglaterra (NIRD - National Institute for Research in Dairying) foi um dos pioneiros da avaliação científica do uso do pós-dipping como ferramenta para o controle de mastite. Os resultados obtidos na década de 60 foram tão animadores que, posteriormente, esta prática foi disseminada para outros países, e, hoje, é considerada como prática obrigatória para o controle de mastite.
Diversas vezes têm surgido perguntas sobre o uso do pós-dipping em explorações leiteiras com bezerro ao pé da vaca. Esta é uma situação bastante particular, pois a técnica do pós-dipping foi desenvolvida para vacas especializadas, que não tem a presença do bezerro durante a ordenha. Vale dizer que não há o mesmo resultado de redução da transmissão de mastite contagiosa, se, após a imersão dos tetos com a solução desinfetante, o bezerro vai mamar na vaca.