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Bactérias psicrotróficas e estabilidade do leite refrigerado ao teste do álcool

POR MARCOS VEIGA SANTOS

MARCOS VEIGA DOS SANTOS

EM 26/11/2004

3 MIN DE LEITURA

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Entre as causas da instabilidade do leite ao etanol, podemos apontar: o desenvolvimento de bactérias fermentadoras da lactose e a conseqüente elevação da acidez, elevada incidência de mastite no rebanho e desequilíbrio salino no leite.

Tem sido observada em várias regiões a ocorrência de positividade do leite de alguns produtores, mesmo considerando que estas são amostras de leites não ácidos. Uma possível causa da alteração na estabilidade do leite ao etanol pode ser a multiplicação de bactérias psicrotróficas durante o período de armazenamento refrigerado, o que leva à produção de enzimas termoestáveis, como as proteases. Para estudar este assunto, foi desenvolvido um estudo na Embrapa Gado de Leite, avaliando-se a ação de microrganismos Pseudomonas spp. proteolíticos. Além de proteolíticas, as espécies do gênero Pseudomonas são as bactérias psicrotróficas de menor tempo de geração, e passam a predominar no leite cru refrigerado, muito embora correspondam, na maioria dos casos, em menos de 10% da microbiota contaminante do leite fresco.

Para o desenvolvimento do experimento, foi utilizado leite cru, ao qual foram adicionados dois diferentes isolamentos de Pseudomonas spp obtidas a partir do leite cru refrigerado, de forma a obter contagens no leite na ordem de 104, 105 e 106 ufc/mL. O leite foi então incubado a 7,0 ± 1oC, a partir do que foram coletadas amostras nos tempos 0, 24, 48, 72 e 96 horas e analisadas quanto à contagem de bactérias psicrotróficas, acidez titulável (graus Dornic), pH, dosagem de ácido siálico livre e estabilidade ao etanol a 62o GL com incrementos de 2o GL até 88o GL.

Foi observado que o número de Pseudomonas spp. aumentou atingindo a ordem de 107 em 48 horas e 108 ufc/mL em 96 horas de incubação a 7oC. A acidez e o pH permaneceram estáveis para todas as amostras durante o período de estocagem, com valores de 15,5 ± 1oD e 6,75 ± 0,07, respectivamente.

O leite controle que não sofreu inoculação de Pseudomonas spp. foi estável ao etanol até a mais alta concentração testada, de 88 oGL, durante todo o período. A estabilidade do leite sofreu influência da bactéria testada, com a concentração inicial de bactérias ou com o tamanho do inóculo. O leite com menor inóculo inicial (104 ufc/mL) e o com maior inóculo (106 ufc/mL) apresentaram com 24 h de incubação, coagulação a 88 e 80oGL, respectivamente, porém com 72 h, ambos apresentaram contagens em níveis de 107 ufc/mL e coagularam a 80 e 70o GL, respectivamente.

Tabela 1. Número de Pseudomonas (ufc/mL) em leite incubado a 7oC.


As amostras de leite inoculado com Pseudomonas spp. foram submetidas à detecção de ácido siálico livre para confirmação da atividade da protease(s) bacteriana. O ácido siálico aparece no leite associado à micela de caseína (parte C-terminal da k-caseína), mas a ocorrência de proteólise permite sua detecção na forma livre desde que o ponto de clivagem fosse anterior à sua posição na cadeia. As amostras de leite no tempo zero apresentaram resultados negativos quanto à presença de ácido siálico, mas os resultados foram positivos para todas as amostras inoculadas pelo menos em um dos tempos estudados. De acordo com os autores do estudo, os resultados sugerem ação da(s) protease(s) bacteriana(s) na k-caseína, demonstrando correlação entre a perda de estabilidade ao etanol e proteólise.

Tabela 2. Resultados da detecção de ácido siálico livre em leite inoculado com Pseudomonas spp. e incubado a 7oC.


Desta forma, segundo os autores, a multiplicação de Pseudomonas spp. no leite a 7oC influenciou a estabilidade do leite ao etanol, além de resultar em positividade no teste de dosagem de ácido siálico, indicando hidrólise da k-caseína. Pode-se destacar que estes efeitos variaram em intensidade em função da Pseudomonas sp. testada. Os resultados apontam que a ocorrência de bactérias psicrotróficas proteolíticas no leite cru pode implicar em resultados positivos nos testes do álcool nas concentrações normalmente usadas na indústria apenas se estas atingirem altas concentrações no leite cru, em níveis de 107 ufc/mL. Porém, na dosagem do ácido siálico para pesquisa por fraude de leite com soro, resultados positivos poderiam ocorrer para contagens iguais ou maiores que 3,2 x 105 ufc/mL .

Fonte: Arcuri et al, 2004. I Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite - I CBQL, 2004, Passo Fundo-RS. O Compromisso com a qualidade do leite no Brasil. Passo Fundo-RS: UPF Editora, 2004.

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

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FERNANDO JOSÉ RIBEIRO KACHAN

NOVA GRANADA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/12/2004

Considero de fundamental importância que seja esclarecido para que realmente serve a prova do alizarol, que na verdade não indica exclusivamente acidez do leite mas sim sua estabilidade ao aquecimento. Muitos produtores têm seu leite rejeitado pela indústria por não apresentar estabilidade ao teste de alizarol, e a eles apenas é dito que o leite está ácido.

Normalmente ninguém lhe apresenta uma solução e seus prejuízos são enormes.

Parabéns pelas matérias e continuem abordando esse assunto tão importante e ignorado.

<b>Resposta do autor:</b>Prezado Fernando José,

Obrigado pela sua mensagem. Sem dúvida alguma, o assunto de qualidade do leite e sua relação com a estabilidade (medida pela prova do álcool) é um tema de extrema importância, ainda que não tenhamos muitos estudos sobre a sua real função e utilização nos dias de hoje. Infelizmente, não temos um substituto tão barato que possa ser utilizado em seu lugar. De qualquer forma, estaremos divulgando todos os estudos sobre este tema, tão logo os resultados das
pesquisas sejam publicados.

Atenciosamente, Marcos Veiga
ROGERIO SILVA DE LIMA

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 29/11/2004

Marcos,

Deixa ver se eu entendi bem. As pseudomonas, apesar de não acidificarem o leite, estas desestabilizam a micela. O que acontece quando a reação com o alizarol dá resultado ácido?

E se esse leite fosse aquecido, coagularia também?

No caso de leite mastitico, no alizarol, daria resultado alcalino?


<b>Resposta do autor:</b>

Prezado Rogério,

O artigo em questão aponta que o leite com altas contagens de microrganismos psicrotróficos pode apresentar resultados positivos à prova do álcool, mesmo considerando que estes microrganismos não aumentam a acidez do leite (não fermentam lactose). Neste caso, ainda que seja um resultado experimental, pode-se suspeitar do leite armazenado durante 48 horas no tanque, pois neste período ocorre predomínio de psicrotróficos no leite e potencialmente poderiam alterar os resultados da prova do álcool.

Atenciosamente, Marcos Veiga

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