Com a decisão da vinda da família real ao país em 1808, uma nova ordem industrial estabeleceu-se com a abertura dos portos e a "descoberta" do Brasil pelo mundo. Além disso, os europeus trouxeram a sua grande tradição de consumo de queijos do velho continente. Entretanto, até o final do século XIX, destacava-se somente a produção incipiente de queijos artesanais (de leite cru) nos rincões das velhas "Geraes", onde os tropeiros e bandeirantes trocavam o ouro por queijos, levando à Capital (Rio de Janeiro) em rotas não tão oficiais assim (como exemplo, a Estrada Real) ligando os estados do Sudeste e abrindo novos caminhos.
A partir do início do século XX, na região da Mantiqueira de MG, começaram a surgir então as primeiras indústrias de laticínios, onde se produziam queijos e manteiga em equipamentos rudimentares, a base de madeira e ferro fundido. O grande objetivo, claro, seria continuar a abastecer as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo que deixavam de ser vilas e se tornavam cidades, ansiando por novidades e novos sabores.
Surgiu então nessa época, fruto da necessidade de capacitar os futuros funcionários dessas fábricas, o Instituto de Laticínios Cândido Tostes em Juiz de Fora - MG. Com o auxílio inicial de professores dinamarqueses, o ILCT cresceu e se consolidou como o principal centro de formação técnica, de pesquisa, difusão e adaptação de tecnologia láctea no Brasil, ajudando a fazer a indústria de laticínios realmente crescer através da formação de técnicos que hoje se espalham do Oiapoque ao Chuí.
Entretanto, se analisarmos do ponto de vista crítico, veremos que ela ainda se encontra extremamente heterogênea. Se há indústrias que recebem mais de 700 t de leite ao dia, extremamente automatizadas e bem gerenciadas, o país ainda conta ainda com centenas delas clandestinas, com produção artesanal dentro de currais em péssimas condições higiênicas de produção. Por outro lado, ainda há funcionários muito antigos com "vícios" de produção e acostumados com equipamentos e instalações ultrapassados. Hoje não é raro entrar numa indústria de pequeno, médio ou grande porte no Brasil e encontrar tubulações com vazamentos, enferrujadas ou equipamentos com válvulas faltando (ou sem manutenção) ou ainda em péssimas condições de uso. É comum também verificarmos paredes, pisos bancadas ou janelas quebradas, sem estrutura para servirem como locais ideais para fabricação de alimentos.
Isso se explica - em parte - pela precariedade/falta de fiscalização sanitária no país e pela falta de conhecimento no setor. Há um engano generalizado em acreditar-se que é possível fabricar bons produtos com péssimos equipamentos. É também um erro supor que tudo se resolve internamente nas fábricas através de remendos e consertos insipientes ("gambiarras" em fios), através de mecânicos sem treinamentos quaisquer e sem um profundo conhecimento das máquinas.
Para ilustrar, conta-se que uma grande indústria tinha uma máquina essencial ao seu processo produtivo e que esta parou de funcionar. Sem saber como consertá-la, o gerente procurou por diversos especialistas, até que um chegou, verificou com calma e pediu uma chave de fenda. Apertou com calma um parafuso e para surpresa geral o equipamento voltou a funcionar. O gerente estupefato questionou quanto seria o serviço. Mais surpreso e satisfeito ficou quando o homem disse que seria somente um real para apertar o parafuso. Perfeito (pensou o gerente). Mas logo depois o homem assertivamente afirmou que seria um real pra apertar o parafuso e mais R$ 4.999,00 porque ele sabia qual parafuso apertar.
Nesse sentido, é importante repensar e trazer à tona discussões e esclarecimentos importantes a todos aqueles que fazem parte da cadeia láctea no Brasil, desde o produtor rural de leite até o varejista para que se possam saber realmente quais os "parafusos" devem ser apertardos.
Nos próximos meses, convidaremos você - nosso leitor - a estar conosco nessa viagem sobre o maravilhoso e extraordinário mundo dos equipamentos, instalações e acessórios e como eles são vitais para a produção eficiente de derivados lácteos.