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Vale a pena suplementar colina às vacas periparturientes?

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 14/09/2020

8 MIN DE LEITURA

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Jorge Henrique Carneiro
Zootecnista, M.Sc., Doutorando em Zootecnia (UFPR)

Deivid Roni Ribeiro
Médico Veterinário, M.Sc., Doutorando em Zootecnia (UFPR)

Milaine Poczynek
Médica Veterinária, M.Sc., Doutoranda em Zootecnia (UFPR)

Rodrigo de Almeida
Médico Veterinário, Professor Associado do Departamento de Zootecnia (UFPR)

 

O período de transição de vacas leiteiras é compreendido como as três semanas que antecedem e as três semanas que sucedem o parto. Nas últimas duas décadas este período tem ganho destaque na pesquisa internacional, pois sabe-se que esta é a fase de maior desafio metabólico, imunológico e social para a vaca leiteira. Quase que invariavelmente, vacas no período de transição irão passar por um período de balanço energético negativo (BEN), no qual o consumo de alimentos não consegue suprir a demanda por energia para mantença, crescimento fetal, colostrogênese e produção de leite. Para suprir essas demandas ocorre a mobilização das reservas corporais do animal, de modo que os triglicerídeos armazenados no tecido adiposo são quebrados em ácidos graxos livres ou não esterificados (AGNE ou NEFA) para posteriormente serem utilizados como fonte de energia pelo animal.

Até aí tudo bem, é natural e esperado que o BEN aconteça em vacas leiteiras de boa produção. O problema é quando a mobilização das reservas é excessiva, o que geralmente ocorre devido a um consumo de MS insuficiente pela vaca recém-parida. Nesse caso, o aporte de ácidos graxos para o fígado é superior à sua capacidade de oxidação completa desses compostos, podendo assim causar problemas já bem conhecidos na atividade leiteira, como, por exemplo, a cetose e a esteatose hepática (fígado gorduroso).

Para entender melhor os problemas citados, é importante compreender quais os destinos que os ácidos graxos podem ter ao chegar no fígado:

(1) oxidação completa: a “queima” dos ácidos graxos gera energia sob a forma de ATP; essa opção é a mais interessante, pois é a mais eficiente sob o ponto de vista de rendimento energético. Infelizmente, apesar de desejável, é uma via que se esgota rapidamente;

(2) oxidação parcial: também chamada de cetogênese, nessa rota os ácidos graxos são convertidos em corpos cetônicos (acetoacetato, acetona e beta-hidroxibutirato). Esses por sua vez podem ser utilizados como fonte de energia pelos músculos e glândula mamária; entretanto, quando em excesso, podem acarretar diversos sinais clínicos, desde perda de apetite até sinais neurológicos;

(3) reesterificação com exportação: nessa alternativa os ácidos graxos são novamente unidos a uma molécula de glicerol (3 ácidos graxos + 1 glicerol) formando os triglicerídeos. Esses triglicerídeos são exportados do fígado na forma de lipoproteínas, principalmente a VLDL (Very Low Density Lipoprotein, ou seja, lipoproteína de muito baixa densidade);

(4) reesterificação com acúmulo no fígado: para que o processo de exportação de VLDL ocorra de forma correta, é necessária a presença de uma molécula chamada fosfatidilcolina. Sem ela os triglicerídeos começam a se acumular no tecido hepático, causando assim a esteatose hepática.

A baixa ingestão de MS no período de transição impacta não somente a ingestão de energia, mas também a síntese de outros compostos pelos microrganismos ruminais. Com o objetivo de amenizar os impactos negativos dessa diminuição do consumo, diversas estratégias de manejo e nutrição são adotadas nas propriedades leiteiras. Uma dessas estratégias é a suplementação de colina, vitamina que está envolvida na formação de membranas celulares e de lipoproteínas através da síntese de fosfatidilcolina, além de também participar do metabolismo de um carbono (importante para a imunidade). Essa suplementação visa mitigar a baixa produção ruminal da colina que geralmente se estende durante o pré e o pós-parto, devendo ser realizada na forma protegida, pois fontes não protegidas dessa vitamina, possuem alta degradabilidade ruminal.

Nas últimas décadas diversos estudos foram conduzidos para avaliar a suplementação de colina durante o periparto. Objetivando a sumarização e o aumento do poder estatístico desses estudos, Arshad e colaboradores (2020) realizaram uma meta-análise (trabalho que avalia em conjunto os dados de vários trabalhos publicados sobre determinado assunto) sobre o tema. Os autores utilizaram 21 trabalhos distintos contendo avaliações de 1.313 vacas para avaliar o efeito da colina sobre diferentes variáveis de interesse.

Os principais resultados obtidos pelos pesquisadores estão descritos e comentados abaixo. Vale ressaltar que esses resultados se aplicam somente a fêmeas multíparas (vacas), já que não haviam dados suficientes sobre suplementação de colina em nulíparas (novilhas).

Duração do tratamento e dose

o período médio de utilização da colina protegida foi de 81,8 ± 47,4 dias, abrangendo tanto o pré quanto o pós-parto, sendo que a quantidade média fornecida foi de 12,9 g/vaca/dia de colina protegida da degradação ruminal, valor esse utilizado como sendo o padrão para as comparações nesse estudo. No que tange à duração da suplementação, há estudos sugerindo que não é necessário suplementar colina além dos 21 dias de lactação (Bollatti et al., 2020). Porém a suplementação apenas antes, ou apenas depois do parto, também não mostraram a máxima resposta como a suplementação durante todo o período de transição. Isto é particularmente importante no Brasil, pois muitos nutricionistas estão recomendando sua suplementação somente no período pré-parto.

Já quanto a dose, apesar do nível utilizado ter sido 12,9 g/vaca/dia, os autores enfatizam que as respostas foram lineares até 25,2 g/vaca/dia, valor máximo encontrado no banco de dados.

A resposta não é dependente do ECC da vaca

Nas fazendas e até mesmo na academia, particularmente na década passada, era comum a afirmação de que a colina teria maior efetividade de resposta (seja em saúde ou em desempenho) em animais que apresentavam ECC mais elevado antes do parto. Para ser franco, muitos de nós (Grupo do Leite da UFPR) também acreditávamos nisto e já fizemos tal afirmação em outras oportunidades. Porém, neste ano Bollatti e colaboradores (2020) parearam animais por ECC no pré-parto e estudaram o efeito da suplementação de colina em animais magros (3,25 ECC) e obesos (3,75 ECC). Estes autores mostraram que, diferentemente do que se pensava, a resposta à suplementação de colina foi semelhante para ambos os grupos, com excesso ou não de escore. Além disso, a suplementação de colina não foi seguida necessariamente de uma melhora na saúde hepática destes grupos, como se esperava.

Efeitos no pré-parto

O principal achado nessa fase foi o maior consumo de MS, de modo que vacas recebendo 12,9 g de colina/dia ingeriram 0,2 kg de MS a mais por dia, quando comparadas àquelas que não receberam colina. Esse maior consumo pode ter contribuído ao maior peso vivo e maior escore de condição corporal (ECC) nos animais suplementados (23,0 kg e 0,08 unidades de escore corporal, respectivamente).

Efeitos no pós-parto

Consumo de matéria seca

A suplementação de colina aumentou linearmente a ingestão de MS de vacas no pós-parto, um aumento de 0,5 kg a mais por dia. Da mesma forma que no pré-parto, esse maior consumo levou a um maior peso vivo e maior ECC (30,0 kg e 0,09 unidades de ECC a mais que animais não suplementados) e os autores atribuíram esse maior consumo ao possível efeito de manutenção da integridade de mucosa intestinal.

Produção de leite e eficiência leiteira

A produção de leite aumentou em 1,3 kg/vaca/dia nas vacas suplementadas, e mesmo com a maior ingestão de MS, a eficiência leiteira também foi superior neste grupo de vacas, já que elas produziram 0,12 kg de leite corrigido para energia a mais por kg de matéria seca ingerida.

Sabe-se que a colina é um importante composto fonte de grupos metil e estes, por sua vez, participam de diversos processos de síntese. Além dos já citados acima (formação de membrana celular, por exemplo), estes grupos metil são utilizados na biossíntese da carnitina, outro composto essencial para o transporte de ácidos graxos do citosol para dentro da mitocôndria, onde são oxidados. Especula-se que uma maior disponibilidade de grupos metil maximizaria este processo de biossíntese, e, assim, a oxidação completa dos ácidos graxos em vacas recém paridas poderia ser mais eficiente, corroborando com os resultados encontrados de maior eficiência alimentar nos animais suplementados com colina. Outra especulação para a maior produção de leite é de que a colina contribui para uma maior renovação do epitélio da glândula mamária, bem como formação de membrana celular, influenciando assim em todo o processo de síntese de leite e sólidos.

Um fato importante na produção de leite corrigido para energia foi de que a resposta da suplementação de colina foi maior em dietas contendo baixo teor de metionina na proteína metabolizável (1,80%) do que em dietas com maior teor de metionina (2,30%), com respostas de 2,13 e 1,20 kg/vaca/dia, respectivamente.

Composição do leite

Não foram observados efeitos em teores de proteína e gordura do leite, entretanto a produção em kg/dia desses componentes foi maior em animais suplementados com colina. Tanto a maior integridade da glândula quanto a maior facilidade de transporte de lipoproteínas do fígado são fatores que podem explicar esse aumento, entretanto o principal fator reside no aumento de produção de leite por si só.

Metabólitos do sangue

Houve aumento da concentração de glicose e uma diminuição do teor de ácidos graxos livres no sangue de vacas tratadas com colina, entretanto, mesmo se esperando um resultado mais significativo para essa variável, houve somente uma tendência de redução de beta-hidroxibutirato. De forma geral, apesar de não expressivos, esses resultados parecem demonstrar uma melhor “adequação” do animal ao BEN.

Incidência de doenças

A suplementação de colina apresentou uma tendência de redução de retenção de placenta e de mastite, efeitos provavelmente ligados a uma melhor resposta imune dos animais. Porém um dos efeitos mais esperados que era o de diminuição do teor de triglicerídeos no parênquima hepático não foi observado, e esta ausência de resultado pode ter relação com a maior produção de leite dos animais suplementados.

Em resumo, pode-se afirmar que o uso de colina protegida da degradação ruminal é benéfico à produção de leite de vacas multíparas, mesmo que os efeitos mais esperados não tenham sido encontrados, como, por exemplo, a redução de gordura no fígado. As melhorias na produção e na eficiência leiteira demonstram seu potencial como aditivo para utilizar no período de transição. Outro ponto importante que o estudo levanta é a dependência da resposta da suplementação colina em função ao balanceamento de aminoácidos da dieta, principalmente de metionina, provavelmente devido ao fato deste aminoácido também atuar como doador de grupo metil no ciclo de 1C. Vale ressaltar que, no atual mercado do leite, mesmo com os resultados positivos demonstrados nestes trabalhos, a avaliação econômica do uso da colina no período de transição (bem como de qualquer outro aditivo) deve ser realizada sempre com cautela, principalmente por não se tratar de uma suplementação de baixo custo.

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HIGOR BALDUINO RODRIGUES DE SOUZA

MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 23/09/2020

Ótimo artigo, parabéns!
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 28/09/2020

Valeu Higor, abraços!
LORENA MARTINS ARAUJO

COROMANDEL - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/09/2020

Muito Bom!!
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 15/09/2020

Obrigado Lorena, ficamos satisfeitos em saber que o artigo foi útil para vc.
VALDIR CHIOGNA JUNIOR

RIO VERDE - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/09/2020

Excelente artigo pessoal! Parabéns
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 15/09/2020

Obrigado Valdir, abraços!

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