Forrageiras para alimentação de gado leiteiro devem preferencialmente conciliar o alto potencial de produção de matéria seca por unidade de área, maximizando a taxa de lotação animal, com o alto valor nutritivo por unidade de matéria seca, capaz de reduzir a necessidade de alimentos concentrados por litro de leite produzido. A planta de sorgo tem alto potencial de produção por área e alto conteúdo de carboidratos não fibrosos, majoritariamente amido, atributos desejáveis em uma forrageira para alimentação de gado leiteiro. Agronomicamente a planta de sorgo pode ser superior, com relação ao milho, em situações de plantio tardio ou plantio na safrinha e em regiões de baixo aporte hídrico.
O objetivo deste trabalho foi avaliar características agronômicas, químicas e de degradabilidade ruminal da silagem de cultivares de sorgo. Avaliou-se também a possibilidade de conciliar produtividade com valor nutritivo para ruminantes nesta população de plantas com alta variação morfológica e de aptidão agronômica e oriunda de um mesmo campo experimental localizado no sul do estado de Minas Gerais.
Dezoito cultivares de sorgo foram cultivados com espaçamento de 0,70 m e 12 plantas por metro linear. As plantas colhidas ao atingirem o estádio leitoso-pastoso foram ensiladas em laboratório. Onze características agronômicas e químicas foram avaliadas. As silagens foram incubadas in situ e a degradabilidade efetiva da matéria seca no rúmen (DEF) foi calculada assumindo uma taxa de passagem de -0,04/h. Os cultivares foram separados por tipo de planta segundo especificação das empresas produtoras das sementes em forrageiros, duplo propósito e graníferos. Os forrageiros cultivados foram: ACA 726, AG 2002, AGX 202, AGX 213, BR 501, BR 601, BR 700, C 11, C 15, CEPX 9702, CMSXS 755 e P 54037. O de duplo propósito foi: AG 2005. Os graníferos foram: C 51, DK 57, MASSA 03, P 8118 e XB 1502.
Os 12 cultivares Forrageiros foram mais altos, produtivos e fibrosos e tiveram menor DEF que os 6 cultivares Graníferos + Duplo propósito. Híbridos de milho cultivados simultaneamente em áreas adjacentes a este experimento produziram em média 16,0 toneladas de MS por hectare, variando de 9,3 a 21,3. Apesar de alguns cultivares de sorgo poderem produzir mais que híbridos de milho, a média dos 12 cultivares forrageiros foi inferior ao valor médio de 60 híbridos de milho. O menor teor de fibra e o maior teor de CNF dos cultivares Graníferos + Duplo propósito explica a maior DEF que a de cultivares Forrageiros. Carboidratos fibrosos têm degradabilidade lenta no rúmen comparativamente a carboidratos não fibrosos, majoritariamente amido na planta de sorgo.
CNF = Carboidratos não fibrosos = 100-(PB+FDN+EE+Cinzas)
DEF = Degradabilidade efetiva da matéria seca no rúmen = A+B[kd/(kd+kp)]. kp = -4%/h.
Partindo do princípio que tanto o milho quanto o sorgo cultivados no início do período chuvoso do ano seriam ensilados quando o solo apresenta alta umidade e propensão a compactação, e que ambos necessitariam de descompactação do solo após a colheita mecânica com ensilhadeira, fica descartada a utilização da rebrota do sorgo quando o objetivo é o manejo adequado de solo. Neste caso a comparação de produção por área entre o milho e o sorgo deve ser feita em um corte anual, sendo o milho superior. Em cultivo tardio ou cultivo na safrinha, que exploram o potencial de menor sensibilidade a fotoperíodo e deficiência hídrica da planta de sorgo com relação ao milho, a cultura pode ser produtivamente superior ao milho ou mesmo ser uma segunda cultura após o cultivo do milho na área. Em áreas destinadas à ensilagem de milho, o sorgo pode propiciar uma segunda safra de forragem, com ensilagem no período seco do ano de baixa propensão a compactação do solo, possibilitando a manutenção da rebrota para nova colheita ou feitio de palha para cultivo do milho em plantio direto.
Uma comparação direta entre milho e sorgo foi executada neste trabalho. Uma amostra composta de 60 híbridos de milho cultivados simultaneamente na mesma área foi formada por união de quantidades idênticas de material pré-seco e moído. A amostra composta de milho foi incubada no rúmen simultaneamente aos 18 cultivares de sorgo. O teor de FDN da amostra composta foi 48,6% da MS e a DEF foi 57,9% da MS. A DEF média dos 18 cultivares de sorgo foi 84% da DEF da amostra composta de milho.
Diferenças entre milho e sorgo na qualidade da fibra ou na degradabilidade dos carboidratos não fibrosos no rúmen podem explicar este fato. O endosperma do grão de sorgo é mais vitrificado que o do milho, possivelmente limitando a degradação do amido no rúmen. Esta é uma grande limitação desta forrageira, já que o pequeno tamanho dos grãos limita o dano físico dos mesmos pela ensiladeira. Em situações práticas a diferença em digestibilidade entre sorgo e milho pode ser mais acentuada que a verificada neste trabalho. Sorgo não admite erro no ponto de ensilagem, colheita muito tardia pode resultar em perda fecal acentuada de grãos inteiros (amido).
O teor de FDA foi a característica mais correlacionada à DEF (r=-0,64). Como acontece com várias forrageiras, sorgos de alta qualidade devem ter baixo conteúdo de fibra na matéria seca.
Como cultivares altos e produtivos, do tipo forrageiro, também tiveram maior teor de fibra, a correlação entre DEF e produção por área foi negativa. Apesar de existirem cultivares com alta produtividade e digestibilidade, pode ser difícil conciliar o máximo valor nutritivo com a máxima produção de matéria seca por área na planta de sorgo. Na escolha de cultivares de sorgo para produção de silagem é necessário definir se a meta é alta produtividade ou alta qualidade nutricional. Parece ser mais difícil conciliar alta taxa de lotação animal com baixo uso de alimentos concentrados por litro de leite produzido na planta de sorgo do que na planta de milho.
Referência:
Resende, J.A.; Pereira, M.N.; Von Pinho, R.G.; Fonseca, A.H; Silva, A.R.P. Ruminal silage degradability and productivity of forage and grain-type sorghum cultivars. Scientia Agricola, v.60, n.3, p.457-463, 2003.