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O teor de matéria seca de alimentos volumosos e impactos na produção de leite em fazendas

POR JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

COWTECH

EM 23/10/2014

11 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 26/01/2024

Por João Paulo V. Alves dos Santos (Engenheiro Agrônomo- ESALQ-USP), Paulo Farano Stacchini, (MSci., Engenheiro Agrônomo - ESALQ-USP) Alexandre M. Pedroso (Phd – DSci., Engenheiro Agrônomo- ESALQ-USP) e Carlos Gonzales (Engenheiro Mecânico - UNICAMP).


Trabalhando com produção de leite, sempre ouvimos que a atividade é difícil e complexa. Essa tal complexidade é fruto de uma série de fatores integrados e que interferem, diariamente, na produção de leite. Muitos afirmam que a base da produção de leite é a alimentação ou manejo nutricional realizado em cada fazenda. Essa afirmação é, parcialmente, verdadeira. A nutrição assume importante papel e contribui muito para o resultado de um sistema de produção em si. Entretanto, outras áreas podem afetar muito a produção de leite, como conforto oferecido aos animais (ambiência) e capacitação da mão-de-obra que trabalha junto aos animais. A nutrição pode fazer a diferença se, além de um bom balanceamento e qualidade de mistura de uma dieta ou momento de pastejo, conseguirmos fazer com que os animais, de fato, consumam a dieta predicada. 

Sempre falamos em nossas apresentações que, teoricamente, o papel do nutricionista é relativamente simples, ao propor uma boa e ajustada dieta para um determinado lote em produção. Obviamente que não estamos banalizando o papel do técnico especializado na propriedade e que seu nível de conhecimento e experiência prática no manejo alimentar de bovinos é fundamental para colhermos bons resultados. Entretanto, existem detalhes no dia-a-dia do trato dos animais que podem comprometer, e muito, a produção. Alguns fatores podem ser controlados, como rotina de retirada de sobra (não remontar comida), horários fixos e rígidos para fornecimento do alimento para as vacas, um bom e adequado espaçamento de cocho, entre outros. Outros aspectos são mais difíceis de serem controlados e que também impactam de modo na produção de leite. Dentre diferentes e importantes aspectos, destacamos a variação do teor de matéria seca de alimentos volumosos, assunto-tema do nosso artigo, como importante controle para estabelecimento de programas eficientes de alimentação de rebanhos.

Por quê a matéria seca pode oscilar?

No caso de alimentos volumosos conservados como silagens em geral, o teor de matéria seca (MS) pode variar por diferentes motivos; desde a forma como o material foi processado (colhido e ensilado), até a maneira como é consumido, fornecido e o tamanho das glebas que foram colhidas. Para áreas menores, com silagens colhidas rapidamente (silagens realizadas entre 3 a 5 dias) a tendência é encontramos um material mais padronizado em termos de teor de MS. Áreas mal dimensionadas em relação à capacidade de operacional de corte e condições climáticas costumam resultar em silagens mais problemáticas neste quesito. O produtor toma a decisão, muitas vezes, correta sobre o momento de iniciar a colheita (ponto de ensilagem), mas enfrenta problemas como área a ser colhida muito grande ou quebra de maquinário, por exemplo. Nestes casos, o teor de MS do final do silo (início da colheita), tende a ser menor (e um material mais palatável, de melhor consumo) e o começo deste silo, correspondente ao final de uma roça, pode ser bem mais seco. Esse é um grande problema enfrentado por muitos produtores que não atentam a este detalhe. Além disso, as condições de solo em termos de umidade e textura, mesmo em solos padronizados, podem variar fazendo com que determinadas glebas de áreas plantadas sequem mais rapidamente do que outras. Outro fator que promove plantas com diferentes teores de MS é a qualidade da adubação e fertilidade natural do solo. Em áreas da lavoura em que haja melhor fertilidade, a planta pode se desenvolver mais rapidamente em relação a “manchas de solo” menos férteis, alterando o teor de MS ao longo da roça.

Para melhor ilustrarmos a magnitude deste problema, vamos realizar alguns cálculos simples. Suponhamos que a quantidade predicada de silagem de milho/cab/dia a ser fornecida numa dada dieta seja de 9,0 kg de MS. Se essa silagem tiver um teor de 34% de MS, devemos fornecer, em matéria original (MO), o equivalente a 26,5 kg de silagem. O ideal é que, no momento em que o silo seja aberto, uma amostra representativa seja colhida para avaliação desse teor. Pergunta: em quantas propriedades essa prática é realizada? Na maioria das propriedades, esse valor é “chutado” por técnicos que consideram dados médios de banco de dados de programas formuladores de dietas. Suponhamos que a silagem em questão tenha, efetivamente, 30% de MS e não os 34% de MS. Neste caso, a quantidade fornecida de silagem teria que ser corrigida para 30 kg de MO/cab/dia xs 26,5 kg de MO/cab/dia (valor esse utilizado para arraçoar o rebanho no campo e de carregamento do trato).

Qual seria o impacto de erros na avaliação do teor de MS?

Vamos pensar que a dieta-exemplo acima tenha um consumo de MS/vaca/dia, estimado em 20 kg de MS. Vamos considerar, ainda que, como medida preventiva a propriedade adote o fornecimento de 1 kg de MO de feno/cab/dia como fonte de fibra efetiva com 90% de MS. Logo, nossa dieta predicada (idealizada) ficaria dessa forma:

Situação.1: Silagem com 34% de MS


Agora, vamos pensar nessa mesma situação, em que a dieta não foi alterada no campo (manejo nutricional), mas cujo teor de MS efetivo, não reflete a realidade da silagem. Como ficaria a tabela?

Situação.2: Silagem com 30% de MS


Como fica a relação volumoso xs concentrado das situações acima, caso a propriedade não atentasse para a oscilação no teor de MS da silagem de milho?



Qual seria o impacto dessa variação? Em primeiro lugar, sendo uma situação bem controlada, com dados de dias em lactação (DEL) médio exatos e lotes bem configurados e apartados, teríamos impacto na curva de resposta. Devemos ter em mente o conceito claro de que produção de leite é resultado de eficiência alimentar, ou seja, quantos litros de leite produzimos por kg de MS consumida? Dessa forma, supondo que essa dieta predicada almejasse uma produção de 30 litros de leite, a eficiência alimentar esperada seria de 1,43 litros produzidos para cada kg de MS consumida. Se essa eficiência fosse mantida com a dieta alterada pelo menor teor de MS teríamos uma produção esperada de cerca de 28,2 litros/vaca/dia em média ou uma produtividade cerca de 6% inferior. Considerando uma lactação média potencial de 8.500 litros, seria o equivalente a produzirmos 510 litros de leite, em média, a menos por vaca/lactação. Considerando uma propriedade hipotética, com 100 vacas em produção, estamos falando de um montante de 51.000 litros a menos ou o equivalente a 6 animais com esse potencial de produção, em média, a menos, por ano. Traduzindo em finanças, considerando um preço recebido de 1,15/litro, deixaríamos de faturar 58.650,00 anuais, ou 4.887,50 mensais, montante esse que pode ser significativo e fundamental para uma atividade competitiva e difícil como a produção de leite.

Como controlar e otimizar esse manejo?

No mundo todo, em qualquer fazenda que trabalhe com forragens conservadas iremos enfrentar o desafio da manutenção de um teor de MS constante. Oscilações pequenas são aceitáveis e inevitáveis. No entanto, temos uma série de práticas de controle que podem ser bastante interessantes para melhora esse controle. Uma delas é a tradicional mensuração do teor de MS via microondas. Não seria o processo ideal indicado, como a secagem de amostras em estufas. Mas pode ser útil e serve como parâmetro. A recomendação técnica realizar com a maior freqüência possível. Diária seria exagero, sendo semanal ou ao menos quinzenal uma boa prática. Com forno microondas recomendamos amostrar a silagem e separar uma quantia equivalente a 100 gramas de material. Colocamos no forno em potência máxima, por 5 minutos com um copo d´água e pesamos. Repetimos esse procedimento, até obtenção de peso constante, sendo a segunda e demais secagens feitas de minuto em minuto (não mais 5 minutos!) e a cada procedimento, devemos trocar a água do copo (300 ml de água) para que esta não ferva (e proteja a silagem para não queimar).

Outra opção seria realizar esse procedimento com um secador portátil, muito usado em fazendas chamado Koster. O mesmo possui uma resistência elétrica (aquecedor) e ventilador, para secar a amostra.

Oscilações no teor de MS de volumosos fornecidos em dietas, se não corrigidos, podem causar prejuízo como apresentado no texto acima. Toda vez que, por meio das análises realizadas for diagnosticado alteração no teor de MS o ajuste no trato deve ser realizado de modo que o volumoso participe na dieta com o percentual predicado no arraçoamento. Em outras palavras, hora o rebanho pode consumir mais volumoso ou menos em matéria original (MO), mas nunca em matéria seca (MS).

Cuidados:

Essa correção não pode ser confundida com prática muito comum em fazendas que é a famosa “mexida por conta” de dietas. É muito comum produtores resolverem não mexer na quantidade fornecida de concentrados e/ou subprodutos por estes serem caros, mas alterarem “sem medo” a quantidade fornecida de silagens, em geral, por exemplo. Essa medida é comum para corrigir deficiências no consumo, como por exemplo, casos de “cocho limpo” ou excesso de sobra. No caso de falta de comida, ou seja, uma situação de cocho limpo, o aumento do consumo pode ser multifatorial, como por exemplo, uma situação de menos calor e redução de MS da silagem. O produtor desavisado, por conta, aumenta o fornecimento de volumoso. Em alguns casos, acaba até corrigindo a deficiência de MS da dieta, mas ao não realizar os procedimentos que descrevemos e que deve ser feito por um consultor capacitado, o produtor pode aumentar seu consumo de silagem, sem aumentar sua produção, pois em muitos casos essa correção não é precisa e pode acabar diluindo a dieta. No caso de sobra excessiva, a correção “por conta” e, somente do volumoso, no caso reduzindo seu fornecimento, podemos comprometer o fornecimento de fibra da dieta, tamponamento da dieta via produção adequada de saliva (taxa de ruminação) e causarmos distúrbios metabólicos. Dentre estes, o maior vilão são os casos de acidose ruminal. Esta é demasiadamente ruim para um rebanho, pois pode ocorrer de maneira subclínica, que são os casos em que ocorrem quedas por períodos do pH ruminal comprometendo consumo e produção de leite. Nos erros mais grosseiros e por período maior de tempo, é muito comum encontrarmos rebanhos com problemas de casco, sendo a laminite e lesões secundares causadas pela mesma um dos maiores problemas e motivos de descarte para muitas fazendas.

Pastejo e particularidades:

No caso de sistemas de produção de leite a pasto, os desafios são ainda maiores pois o pasto é um alimento volumoso em constante transformação. Em condições de confinamento, as oscilações acontecem, mas são mais pontuais e, relativamente, mais fáceis de serem diagnosticadas. Os problemas só não são maior em pastagens porque a quantidade fornecida de concentrado nestes sistemas, geralmente não são altas, quando comparadas a confinamentos mas erros e problemas podem acontecer sim, quando não direcionamos atenção à qualidade da pastagem oferecida aos animais. No caso, estamos falando do controle de altura de entrada e saída dos animais. Quanto mais controle nesse quesito, mais padronizado tende a ser o volumoso fornecido no caso, minimizando problemas. No entanto, pastos mal manejados, com maior teor de MS são verdadeiros desafios para vacas em termos de consumo de MS, principalmente no verão quando o pastejo diurno é reduzido por conta do calor. Dessa forma o produtor de leite a pasto deve estar sempre a atento no fornecimento de uma forrageira de qualidade, de modo que os animais consuma a quantidade de pastagem estimada por nutricionista de modo que a expectativa de produção seja atendida.

Considerações finais:

Muitos produtores, técnicos e demais profissionais da cadeia acreditam, sempre, que uma boa dieta é capaz de produzir o leite desejado. O conceito é verdadeiro, mas infelizmente, a realidade prática é bem diferente. Se pudéssemos comparar uma dieta realizada pelo melhor nutricionista do mundo num sistema de produção sem que a mesma seja controlada, teoricamente, teremos menos resultado do que uma dieta mais modesta, mas com um simples controle de MS implantado. Uma prática muito comum em fazendas é tentar criar “uma dieta excepcional”, atentando para vários indicadores, controlando níveis e teores desde uma simples concentração de energia e proteína até balanceamento de aminoácidos, por exemplo. De fato estes detalhes são importantes para uma propriedade quase perfeita em termos de manejo e com índices invejáveis. O grande problema é que esse é o “conceito universal a ser empregado” diante de uma “realidade prática universal”, totalmente, diferente.

No presente artigo, abordamos apenas a mera e simples questão do controle da matéria seca pelos impactos que sua variação pode causar no sucesso de um programa de alimentação. Muitos outros fatores em termos de manejo nutricional devem ser observados, como tipo e eficiência de equipamentos empregados, qualidade de tempo de mistura, granulometria e textura de dietas, teor de MS da dieta total, quantidade de tratos (número), horário de fornecimento, qualificação da mão-de-obra e tantos outros. A lista é bem grande e cada item pode ser determinante se avaliado em conjunto num manejo ou pouco significativo, se avaliado ou corrigido, isoladamente. Recomendamos sempre que produtores e propriedades busquem uma assistência técnica ou consultores capacitados, pois se trata de monitoramento e investimento fundamental e muito econômico para maioria dos sistemas de produção de leite quando resultados positivos são colhidos através desse trabalho.

JOÃO PAULO V. ALVES DOS SANTOS

Espaço para artigos e debates técnicos expostos por especialistas e equipe de consultores.

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ANTONIO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/10/2014

Parabéns pela matéria, acrescenta bastante ao manejo, que é bastante complicado, e pior sem reconhecimento...
PEDRO HENRIQUE

PRATA - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 28/10/2014

Excelênte matéria de suma importância para atentarmos não só nas dietas e formulações como também no básico do dia a dia!!!! Parabéns
VITOR PALHARES PEDRO

SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/10/2014

Parabéns , pela abordagem de um tema de grande importância porem muito esquecido infelizmente no setor.
JOSÉ ROBERTO PASSOS CANDEIAS

ATIBAIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/10/2014

Excelente o artigo, esclarece em termos comuns uma atividade complicada e difícil como é a produção de leite. Fez dessa explanação, utilizando palavras simples e compreensivas, uma ajuda fundamental e sem limites. Obrigado e parabéns pela ajuda e cooperação.

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