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Manejo, nutrição e ritmo anual influenciam a produção e composição do leite

VÁRIOS AUTORES

RODRIGO DE ALMEIDA

EM 23/07/2019

8 MIN DE LEITURA

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A identificação de fatores capazes de influenciar as concentrações de gordura e proteína do leite é essencial a produtores de leite, uma vez que permite maximizar a lucratividade da atividade leiteira. Produzir leite com altos teores de gordura e proteína é particularmente lucrativo em fazendas inseridas em sistemas de pagamento de leite por qualidade. Nesse contexto, um estudo de Woolpert e co-autores (2016) demonstrou como certas práticas de manejo e alimentação podem influenciar os teores de sólidos do leite. Para isso, os autores buscaram entender quais práticas alteravam o perfil de ácidos graxos (AG) por síntese de novo na gordura do leite em tanques de fazendas americanas, tendo em vista que há uma correlação positiva entre estes AG oriundos da síntese de novo e os conteúdos de gordura e proteína no leite (Barbano et al., 2014).

O perfil de AG da gordura do leite, além de variar conforme grupamento racial, genética (Soyeurt et al., 2006) e estádio de lactação (Lynch et al., 1992; Stoop et al., 2009), também é influenciado por práticas nutricionais e de manejo (Palmquist et al., 1993; Bauman e Griinari, 2003). Como exemplo, tem-se que dietas ricas em carboidratos rapidamente fermentáveis e ácidos graxos poli-insaturados podem resultar em depressão da gordura do leite através da biohidrogenação alternativa de AG e consequente produção do CLA trans-10-, cis12 (Harvatine e Bauman, 2011). Além disso, práticas de manejo que alterem o comportamento alimentar, como a limitada disponibilidade de cocho por animal (Sova et al., 2013), podem aumentar o risco de queda acentuada do pH ruminal (French e Kennelly, 1990) e levar a uma redução da gordura do leite (Allen, 1997).

Tendo em vista tal contexto, Woolpert e co-autores (2016) concluíram que os teores de AG de novo são maiores, bem como as concentrações de proteína e gordura no leite, nos rebanhos que normalmente utilizam práticas de manejo e dietas reconhecidas por manter condições ruminais ótimas. No estudo, as 44 fazendas participantes foram classificadas em dois grupos: alta produção de AG por síntese de novo (ADN; 26,18 ± 0,94 g/100 g de AG) e baixa produção de AG por síntese de novo (BDN; 24,19 ± 1,22 g/100 g de AG). Em média, as fazendas ADN possuíam 120 ± 108 vacas em lactação e produção de 26,3 kg/vaca/dia, enquanto as fazendas BDN possuíam 224 ± 274 vacas em lactação e produção de 22,7 kg/vaca/dia.

A produção de leite tendeu a ser maior nas fazendas classificadas como ADN (P=0.06) e essas mesmas fazendas apresentaram maiores (P<0.01) produções de gordura e proteína do leite e teores de proteína, além de apresentarem tendência em produzir leite com maiores (P=0.10) teores de gordura. Esses resultados, sumarizados na Tabela 1, estão em concordância com pesquisas prévias as quais mostram a correlação positiva entre concentração de AG de novo e as concentrações de proteína e gordura no leite.

Tabela 1. Produção e composição do leite de vacas Holandesas em fazendas com alta produção de AG por síntese de novo (ADN) e com baixa produção de AG por síntese de novo (BDN).

Quanto às práticas de manejo, foi possível observar que a densidade do lote (número de vacas/cama) foi menor em fazendas ADN (1,05 vs. 1,20; P=0,05) e o espaçamento de cocho numericamente maior em tais fazendas, porém sem significância estatística (50,6 vs. 42,4; P=0,13). A sobrepopulação, ou densidade acima de 1 vaca/cama, frequentemente reduz o tempo em que o animal passa deitado e ruminando (Batchelder, 2000; Grant e Albright, 2001). E isto altera comportamentos de alimentação como, por exemplo, aumentando a velocidade de ingestão, com um número menor de frequência de refeições, induzindo picos de consumo, o que pode ter impacto negativo sobre as condições ruminais e alterar o perfil da gordura do leite.

Fazendas ADN que utilizavam tie-stall alimentavam suas vacas com maior frequência diária em comparação as fazendas BDN (4,6 vs. 2,9; P=0,05), o que é positivo em termos de manutenção do pH ruminal e do conteúdo de gordura do leite. Em relação às fazendas free-stall, todas alimentavam suas vacas com TMR uma ou duas vezes ao dia, não havendo diferença entre os grupos quanto à frequência de alimentação (P>0,10). O escore de condição corporal foi menor em fazendas BDN (3,08 vs. 2,96; P<0,01), o que, alinhada a menor produção de leite, sugere que as vacas dessas fazendas estavam mobilizando mais tecido adiposo em decorrência de uma possível deficiência na ingestão de energia.

Quanto ao manejo nutricional (Tabela 2), não foram encontradas diferenças em matéria seca (MS), proteína bruta, fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), amido, cinzas ou porcentagem de forragens nas dietas entre as fazendas (P>0,10). Contudo, observou-se maior conteúdo de extrato etéreo (EE) em dietas das fazendas BDN (P<0,01). Nível excessivo de gordura na dieta, particularmente as insaturadas, é um fator de risco à depressão da gordura do leite e segundo o NRC (2001), uma típica dieta de vacas leiteiras de alta produção contém cerca de 4 a 5% de EE.

As fazendas ADN e BDN do presente estudo apresentavam 3.7 e 4.4% de EE na dieta, respectivamente, dessa forma não era esperado que esse conteúdo de EE na dieta tivesse efeito sobre a síntese de novo de lipídios. Segundo os autores, a fim de maiores conclusões, seria necessário entender qual a composição de AG avaliada no EE e se caso continha ácidos graxos poli-insaturados, os quais alinhados a outras práticas de manejo e dieta, podem resultar na redução da síntese de AG de novo nas fazendas BDN (Bauman e Griinari, 2003).

Tabela 2. Composição nutricional da TMR em fazendas com alta produção de AG por síntese de novo (ADN) e com baixa produção de AG por síntese de novo (BDN).

Em conclusão, o estudo de Woolpert et al. (2016) identificou que práticas de manejo, como alta densidade no lote e menor frequência de alimentação, foram relacionadas com menores teores de AG por síntese de novo no leite de tanque. As fazendas com as menores concentrações desse AG, em média, produziram menos gordura e proteína no leite por vaca por dia. Além disso, maior conteúdo de EE na dieta foi relacionado com menor concentração de AG de novo no leite.

Além de, como já mencionados, influenciados por fatores nutricionais e de manejo, a produção e composição do leite ainda seguem um ritmo sazonal ao longo do ano que, apesar de conhecido por produtores e nutricionistas, ainda não é levado em consideração no gerenciamento das fazendas (Wood, 1970). Salfer et al. (2018) estudaram tal ritmo sazonal e atestam que as razões por trás dessas mudanças ainda não são totalmente entendidas e são frequentemente atribuídas a fatores ambientais, como estresse térmico ou mudanças na qualidade das forragens. Contudo, novas pesquisas evidenciam que tais padrões anuais podem ser na verdade resultado de ritmos endógenos os quais controlam a síntese de leite.

Em resumo, o estudo aponta que as concentrações de proteína e gordura são maiores no inverno e menores no verão, enquanto que as produções de leite, de gordura e de proteína têm seus picos na primavera. Os autores destacam que tais ritmos de produção devem ser considerados pelos produtores na tomada de decisões. Os efeitos de mudanças de dieta e implementação de novas tecnologias dentro de um rebanho devem ser interpretados dentro do contexto do ritmo anual de produção. Por exemplo, uma concentração de gordura de 3,60% pode ser considerada baixa (ou não suficientemente alta) no inverno, mas é normal para o verão.

Nota dos autores: as análises de perfil de AG da gordura do leite por cromatografia gasosa são feitas em alguns poucos laboratórios brasileiros, mas estas análises são trabalhosas e de alto custo, variando entre R$ 150 e R$ 250 por amostra. Por isto vemos com otimismo a determinação dos AG de síntese de novo em equipamentos automatizados de laboratórios centralizados de análise de leite, via metodologias indiretas (transformada de Fourier) mas muito mais baratas. O laboratório paranaense da APCBRH deverá ofertar esta análise em breve.

Referências bibliográficas

Allen, M. S. 1997. Relationship between fermentation acid production in the rumen and the requirement for physically effective fiber. J. Dairy Sci. 80:1447-1462.

Barbano, D. M.; C. Melilli; T. R. Overton. 2014. Advanced use of FTIR spectra of milk for feeding and health management. Pages 105-113 in Proc. Cornell Nutrition Conf., Syracuse, NY. Cornell University, Ithaca, NY.

Batchelder, T. L. 2000. The impact of head gates and overcrowding on production and behavior patterns of lactating dairy cows. Pages 325-330 in Dairy Housing and Equipment Systems. Managing and Planning for Profitability. Natural Resource, Agriculture, and Engineering Service, Camp Hill, PA.

Bauman, D. E.; J. M. Griinari. 2003. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annu. Rev. Nutr. 23:203-227.

French, N.; J. J. Kennelly. 1990. Effects of feeding frequency on ruminal parameters, plasma insulin, milk yield, and milk composition in Holstein cows. J. Dairy Sci. 73:1857-1863.

Grant, R. J.; J. L. Albright. 2001. Effect of animal grouping on feeding behavior and intake of cattle. J. Dairy Sci. 84(Suppl.):E156-E163.

Harvatine, K. J.; D. E. Bauman. 2011. Characterization of the acute lactational response to trans-10,cis-12 conjugated linoleic acid. J. Dairy Sci. 94:6047-6056.

Lynch, J. M.; D. M. Barbano; D. E. Bauman. 1992. Effect of a prolonged-release formulation of n-methionyl bovine somatrotropin (Sometribove) on milk fat. J. Dairy Sci. 75:1794-1809.

Palmquist, D. L.; A. D. Beaulieu; D. M. Barbano. 1993. Feed and animal factors influencing milk fat composition. J. Dairy Sci. 76:1753-1771.

Salfer, I. J.; Dechow, C. D.; Harvatine, K. J. 2018. Annual rhythms of milk and milk fat and protein production in dairy cattle in the United States. J. Dairy Sci. 102:742–753.

Sova, A. D.; S. J. LeBlanc; B. W. McBride; T. J. DeVries. 2013. Associations between farm-level feeding management practices, feed sorting, and milk production in freestall dairy farms. J. Dairy Sci. 96:4759-4770.

Soyeurt, H.; P. Dardenn; A. Gillon; C. Croquet; S. Vanderick; P. Mayeres; C. Bertozzi; N. Gengler. 2006. Variation of fatty acid contents of milk and milk fat within and across breeds. J. Dairy Sci. 89:4858-4865.

Stoop, W. M.; H. Bovehuis; J. M. Heck; J. A. van Arendonk. 2009. Effect of lactation stage and energy status on milk fat composition of Holstein-Friesian cows. J. Dairy Sci. 92:1469-1478.

Wood, P. D. P. 1970. A note on the repeatability of parameters of the lactation curve in cattle. Anim. Prod. 12:535-538.

Woolpert, M. E. et al. 2016. Management, nutrition, and lactation performance are related to bulk tank milk de novo fatty acid concentration on Northeastern US dairy farms. J. Dairy Sci. 99:8486–8497.

TAINARA CRISTINA DE ABREU MICHELOTTI

GUILHERME FERNANDO MATTOS LEÃO

Médico Veterinário e Dr. em Zootecnia (UFPR). Contato: (42) 9 9928-5109 dairy.innovationbrazil@gmail.com @dairy_innovation

TIMOTHEO SOUZA SILVEIRA

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