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Fibra fisicamente efetiva para vacas leiteiras: revendo conceitos

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/06/2006

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 27/10/2022

Já se vão quase 10 anos da primeira proposta de uso da fibra fisicamente efetiva como um dos parâmetros a se considerar na formulação de rações para vacas leiteiras. Desde então, a FDNfe vem sendo largamente utilizada (bem e mal) por nutricionistas em todo o mundo.

A definição mais correta da FDNfe é a que a caracteriza como a fração da fibra que estimula a mastigação e contribui com a manutenção do "mat" ruminal, aquela camada de partículas longas que flutua sobre o conteúdo ruminal. A principal característica física relacionada à FDNfe é o tamanho de partículas da forragem ou da ração completa, de forma que muitos esforços têm sido destinados à determinação de técnicas confiáveis para a determinação do tamanho de partículas que possam dar estimativas corretas da atividade de mastigação dos animais.

As recomendações mais consistentes a respeito de tamanho de partículas disponíveis na literatura são as publicadas pela equipe da Pennsylvania State University, dos EUA, que desenvolveu uma metodologia muito eficiente para medir o tamanho de partículas de forragens e rações completas, com o uso de um aparelho bastante simples, o Separador de Partículas Penn State (SPPS).

É um conjunto de bandejas perfuradas, dispostas umas sobre as outras, sendo que cada uma tem perfurações de diâmetros diferentes, com a de aberturas maiores disposta na parte superior do conjunto e a de aberturas menores na parte inferior. A bandeja superior tem aberturas com diâmetro de 19 mm, a segunda tem aberturas de 8 mm e a terceira de 1,18 mm. A bandeja inferior não tem aberturas, e recolhe as partículas que passaram pela bandeja de 1,18 mm.

A recomendação atual para uma distribuição adequada de tamanho de partículas é dada na tabela 1. Esses dados são resultado de diversos trabalhos de pesquisa e observações de campo, e devem ser usados com guia para o monitoramento do manejo alimentar de rebanhos leiteiros.

Tabela 1. Recomendações de tamanho de partículas de forragens e rações completas.


Adaptada de Heinrichs & Kononoff (2002) e Kononoff (2005).

Um trabalho que acaba de ser publicado no Journal of Dairy Science (edição de julho - Yang & Beauchemin, 2006) traz uma questão bastante interessante. O aumento no teor de FDNfe de rações para vacas em lactação pode reduzir a eficiência alimentar. Pelo menos isso é o que diz o título do trabalho. A hipótese dos autores é a seguinte: as características físicas dos alimentos, como o tamanho de partículas, afetam a digestão ruminal, taxa de passagem, e a síntese de proteína microbiana, afetando com isso a digestibilidade total do alimento. A redução no tamanho médio de partículas de rações de vacas leiteiras pode contribuir para aumentar o consumo de matéria seca, em função do aumento na taxa de passagem dos alimentos pelo trato digestivo.

Porém, nessa situação, os alimentos permanecem menos tempo no rúmen, de forma que a digestibilidade ruminal, principalmente da fibra, pode ser reduzida, o que vai causar redução na digestibilidade total dos alimentos. Além disso, diferentes autores mostram aumentos na eficiência microbiana e na digestão de proteínas no rúmen e/ou no trato total com o aumento no tamanho de partículas da forragem.

O grande problema para avaliar dados de trabalhos que avaliaram os efeitos de diferentes tamanhos de partículas sobre o desempenho de vacas leiteiras é a grande variedade de métodos usados para analisar o tamanho das partículas dos alimentos, o que dificulta muito as comparações.

De todos os métodos citados na literatura, o SPPS é o que vem sendo mais utilizado por nutricionistas e pesquisadores, pela facilidade de uso, pelo baixo custo e pela confiabilidade dos resultados. Baseado em dados obtidos com o uso do SPPS, diversos estudos recentes mostraram que o aumento no consumo de FDNfe aumentou a atividade de mastigação e o pH ruminal, além de aumentar a digestibilidade total dos alimentos e o teor de gordura do leite. No entanto, outros estudos não mostraram influência da FDNfe sobre a digestibilidade da ração e composição do leite, ou mesmo efeitos negativos sobre a digestibilidade.

Como os dados relativos à FDNfe não são consistentes, ainda não se sabe qual o teor ideal dessa fração nas rações de vacas leiteiras. Faltam informações envolvendo diferentes tipos de forragens e concentrados para que se construa um banco de dados confiável. Em função disso, decidiu-se realizar o estudo em questão, no qual se avaliou os efeitos do aumento na concentração de FDNfe na dieta de vacas em lactação sobre o consumo de MS e desempenho dos animais.

As dietas continham silagem de cevada como volumoso, e os tratamentos foram determinados de acordo com o tamanho médio de partículas: fino (tamanho teórico de corte de 4,8mm), médio (proporções iguais de silagem longa e fina) e longo (tamanho teórico de corte de 9,5mm). O teor de FDNfe de cada tratamento foi determinado multiplicando-se a proporção de partículas (em base seca) retidas nas 2 peneiras superiores do SPPS pelo teor de FDN da dieta, sendo que os valores obtidos foram de 10,5, 11,8 e 13,8% de FDNfe para os tratamentos fino, médio e longo, respectivamente. Todas as dietas tinham composição bromatológica similar, pois a única fonte de variação era o tamanho das partículas da silagem. Os dados de consumo e desempenho estão na tabela 2.

Tabela 2. Efeitos do aumento no teor de fibra fisicamente efetiva (FDNfe) na dieta sobre a produção e composição do leite de vacas leiteiras.


Adaptada de Yang & Beauchemin (2006)

Houve uma tendência de aumento no CMS para o tratamento médio, em relação aos demais, mas essa diferença desapareceu quando se considerou o consumo em relação ao peso vivo dos animais. Também se observou tendência de redução na digestibilidade da MS das dietas com o aumento no teor de FDNfe. Com relação aos parâmetros de produção e composição do leite, só se observou uma tendência de queda no teor de proteína do leite como o aumento na concentração de FDNfe nas dietas. Não houve qualquer efeito sobre a produção de leite, nem sobre a produção de leite corrigido para 4% de gordura.

Apesar de não haver recomendações definidas para efetividade de fibra em dietas de vacas leiteiras, é senso comum entre os nutricionistas de que o tamanho de partículas é um item importante a se considerar na formulação de rações, especialmente no que se refere à redução no risco de ocorrência de acidose. Os efeitos do teor de FDNfe da dieta sobre o CMS pode depender de quais fatores são mais limitantes ao consumo em cada situação.

Os autores do trabalho em questão argumentam que é possível que, neste caso, a falta de efeitos do teor de FDNfe sobre o consumo possa significar que fatores metabólicos, e não físicos, limitaram o CMS dos animais no experimento. Com isso, mesmo com tendência de maior digestibilidade para a dieta com menor tamanho de partículas, não houve diferenças no consumo.

A falta de efeitos sobre os parâmetros produtivos também não foi surpresa, face à ausência de diferenças no CMS. Os autores citam que diversos outros trabalhos recentes também não mostraram efeitos do tamanho de partículas sobre a produção e composição do leite. Respostas em produção de leite refletem primariamente diferenças no CMS ou no consumo de amido quando se altera o tamanho de partículas da forragem.

Os valores de eficiência alimentar ficaram dentro do esperado pelos autores, uma vez que metade das vacas avaliadas encontrava-se em final de lactação, período no qual boa parte dos nutrientes ingeridos é destinada à reposição da condição corporal.

Com base nos resultados, observa-se que uma concentração de FDNfe equivalente a 10% da MS total da dieta foi adequada para manter o teor de gordura do leite em torno de 3,5%. Como conclusão, os autores argumentam que o aumento na concentração de FDNfe a fim de estimular a mastigação, minimizando o risco de ocorrência de acidose, deve ser bem avaliado face à possibilidade de redução na digestibilidade da dieta, o que pode resultar em menor síntese de proteína microbiana no rúmen, levando a uma menor eficiência alimentar e produtiva.

Literatura consultada

HEINRICHS, J.; KONONOFF, P. J. Evaluating particle size of forages and TMRs using the New Penn State Forage Particle Separator. Pennsylvania State University, College of Agricultural Sciences, Cooperative Extension DAS 02-42. 2002, 14 p.

KONONOFF, P. J. Understanding Effective Fiber in Rations for Dairy Cattle. University of Nebraska-Lincoln Extension G1587. 2005, 4 p.

Yang, W. Z.; Beauchemin, K. A. Increasing the Physically Effective Fiber Content of Dairy Cow Diets May Lower Efficiency of Feed Use. Journal of Dairy Science, Vol. 89, No. 7, p. 2694-2704, 2006.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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GLADSTON PEREIRA DOS ANJOS

ARACAJU - SERGIPE - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/06/2013

Bom dia,



Pode ser utilizado somente cevada umida como volumoso para vacas com produção de 15/20kg/dia? Se possível, qual seria o concentrado para compor o teor de fibra, energia, proteína, etc, contendo: caroço de algodão, fuba de milho, farelo de soja, ou outro produto indicado?



Obrigado.
LAERCIO

ERECHIM - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/09/2011

Parabéns ótimo trabalho, necessitamos cada vez mais de proficionais interessados em melhorar a produtividade em nossa cadeia leiteira no país, dessa formar buscando cada vez mais o limite de produção coletivo de nossos rebanhos leiteiros.
JOVANI SCHERER BECKER

JÚLIO DE CASTILHOS - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/08/2006

Fantástico este trabalho, precisamos pesquisar mais sobre este assunto porque é um fator limitante em vacas de alta produção. Parabéns.

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