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Erros na formulação de dieta para vacas: não informar o ECC atual e a meta para o momento da secagem

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/05/2021

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 13/05/2021

Hoje discutiremos um segundo erro frequente na formulação de dietas de vacas leiteiras. Como já mencionado na semana passada, quando publicamos o primeiro artigo desta série, na formulação de dietas inicialmente temos que descrever a vaca que representa a média dos animais do lote para o qual estamos formulando a dieta.

Entre as várias informações para descrever essa “vaca média” está o escore de condição corporal (ECC) médio dos animais do lote. Além de descrever o ECC atual, devemos informar também a meta de ECC para este grupo de vacas, bem como o número de dias que os animais têm para alcançar esta meta.

Com estas três informações o RLM Leite (e outros programas de formulação) estimam o ganho médio diário necessário para atingir este novo escore. Segue a janela do RLM Leite onde o usuário preenche estas informações.

Antes de avançarmos, devemos lembrar que a flutuação do ECC durante a lactação é um acontecimento intrínseco da vaca de leite, mas que a sua magnitude pode ser controlada pelo manejo nutricional e reprodutivo do rebanho. Por exemplo, é inevitável que a vaca ganhe peso e escore com o avanço da lactação.

Mas para prevenir que este ganho seja excessivo, e que a vaca chegue gorda à secagem, algumas estratégias podem ser adotadas: 

  • A mais rápida reconcepção possível;
  • Que o rebanho adote dietas específicas para lotes de acordo com a produção (dietas únicas engordam vacas!);
  • Que nas dietas para vacas de baixa produção, no terço final de suas lactações, os teores de amido da dieta sejam baixos (amido alto engorda vacas!);
  • O uso estratégico de somatotropina bovina (bST) pode auxiliar na prevenção de que muitas vacas cheguem gordas à secagem.

 No início da lactação a vaca perde peso (e ECC) por conta do balanço energético negativo (BEN). O BEN tipicamente tem início no dia do parto, ou alguns dias antes, e se estende, em média, até 40-50 dias pós-parto.

Neste período vacas especializadas mobilizam suas reservas corporais, particularmente as de tecido adiposo, para fazer frente ao aumento da demanda energética da glândula mamária em produzir quantidades crescentes de leite.

Como já é bem conhecido, neste período de pós-parto imediato, o consumo de MS também aumenta, mas não na mesma velocidade do aumento da produção, e com isso vacas leiteiras (principalmente as vacas boas!) mobilizam suas reservas corporais e perdem peso.

Uma dúvida que muitos têm é sobre a duração e a intensidade do BEN. Tipicamente a literatura clássica sobre o assunto sugere que vacas leiteiras perdem de 30 a 60 kg de peso corporal, ou seja, de 0,5 a 1,0 ponto de ECC, durante o BEN.

E este período de balanço negativo inicia-se no parto, atinge seu ápice ao redor do 10º dia pós-parto, e se estende até o 40-50º dia de lactação. Ou seja, ao redor dos dias 40 e 50 de DEL, ocorre a “virada”, e as calorias consumidas pela dieta passam a superar as calorias gastas com a produção de leite e a manutenção da vaca. Em resumo, o balanço energético que era negativo, passa a ser neutro e depois ligeiramente positivo.

Nosso Grupo do Leite da UFPR avaliou este assunto anos atrás, usando dados de pesagens diárias de balança de pesagem “por passagem” DeLaval®, num grande rebanho comercial no Sudoeste do Paraná. Estes dados foram publicados pela minha ex-mestranda (e hoje doutora) Jessica Poncheki.

Em resumo, independente da ordem de parição, vacas perderam ao redor de 50 kg (ou 7,5% do peso corporal) e o peso mínimo foi atingido entre 35 e 40 dias. Seguem os principais resultados numéricos na tabela abaixo e na figura está a representação das curvas de peso corporal nos primeiros 100 dias de DEL, por ordem de parto:

tabela RLM

Fonte: Poncheki et al. (2015)

 

Fonte: Poncheki et al. (2015)

Assim, ao formular uma dieta específica para as vacas recém-paridas deste rebanho, eu poderia cadastrar um ECC atual de 3,25, um ECC meta de 2,75, limitar os dias para atingir a meta de ECC em 45 dias e com isso eu teria uma perda de peso estimada em -1,04 kg/dia.

Segundo o NRC (2001), para vacas com ECC igual a 3,0, a mobilização de 1,0 kg de tecido corporal representa 4,68 Mcal de ELlac. Quanto isto representa em leite? Assumindo que 1 kg de leite com 4,0%G e 3,3%P (típica composição do leite de uma vaca “nova” no leite), o valor energético de 1 kg de leite seria 0,75 Mcal/kg.

Assim esta mobilização diária de 1,04 kg/dia (ou 4,87 Mcal; 1,04*4,68) representa 6,5 kg/dia (4,87/0,75) que estão sendo produzidos às custas da mobilização corporal! É por isso que dificilmente uma dieta de recém-parida vai “fechar” se você não contabilizar esta energia que está sendo “emprestada” pela mobilização corporal, fruto do BEN.

Vamos agora descrever uma vaca “de meio” de lactação: esta vaca já está com 150-200 dias de DEL, está no Lote 2 ou 3 do rebanho, está idealmente consumindo uma dieta com menos energia (ou menos ração concentrada), mas por conta da produção de leite decrescente, esta vaca já está em balanço energético positivo (BEP), e assim, é hora de recuperar a condição corporal que foi mobilizada no início da lactação.

Esta recuperação de ECC é bem-vinda, mas o produtor de leite deve tomar cuidado, principalmente em vacas que demoram para reemprenhar, pois estas têm uma lactação muito longa e um risco de “passar do ponto”, ou seja, de chegar à secagem com um ECC superior a 3,50.

Dezenas de trabalhos publicados na última década demonstram quão desastroso é quando a vaca chega à secagem gorda, perde peso durante a secagem, e assim o BEN que deveria iniciar ao parto, já se inicia durante o período seco.

Esta vaca quando pare tem mais riscos de ficar doente (em particular de apresentar cetose e fígado gordo), produz menos leite e demora mais para reemprenhar.

Assim ao formular uma dieta específica para as vacas de meio ou fim de lactação, eu poderia cadastrar um ECC atual de 2,75, um ECC meta de 3,25, distribuir este ganho de escore ao longo dos dias que restam até a secagem (por exemplo, 150 dias) e com isso a vaca teria um ganho de peso estimado em +0,32 kg/dia. Segundo o NRC (2001), para vacas com ECC igual a 3,0, a deposição de 1,0 kg de tecido corporal representa 5,34 Mcal de ELlac.

Quanto isto representa em leite? Assumindo que 1 kg de leite com 3,8%G e 3,3%P (típica composição do leite de uma vaca de meio/fim de lactação), o valor energético de 1 kg de leite seria 0,72 Mcal/kg.

Assim esta deposição diária de 0,32 kg/dia (ou 1,71 Mcal; 0,32*5,34) representa 2,4 kg/dia (1,71/0,72) que tem que ser “desviado” do consumo ao invés de ser utilizado para a produção de leite! É por isso inclusive, que a vaca de meio ou fim de lactação é menos eficiente que uma de início de lactação!

Pode parecer complicado, mas com o auxílio de um bom programa de formulação como o RLM Leite, basta cadastrar corretamente a vaca “média” do lote e deixar que o programa calcule todas estas estimativas.

Mas percebam que se eu não informar dados corretos, eu posso comprometer a qualidade das minhas recomendações técnicas. É como dizem: “garbage in, garbage out”, ou seja, “lixo que entra, lixo que sai”. Por isto que todo nutricionista deveria andar no meio das vacas antes de formular as dietas no computador. Se você tem 2 horas para formular uma dieta, é melhor você gastar 1,5 hora no meio das vacas, no pasto, no silo, etc. e somente 30 minutos formulando, e não o contrário!

E aí, gostaram da leitura? Na próxima semana discutiremos um terceiro erro frequente nas formulações.

Mais uma vez, quero fazer um convite aos leitores do MilkPoint e particularmente aos leitores que também sejam nutricionistas de rebanhos leiteiros do Brasil, para que eles usem este espaço para compartilhar as suas maiores dificuldades e os erros que eles consideram mais frequentes.

Ao final destes 10 artigos, um para cada erro, escreveremos um 11º artigo que será um retrato das contribuições dos leitores, com os erros que eles consideram mais frequentes. Portanto, participem! Será uma honra receber suas contribuições.

MILAINE POCZYNEK

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

DAIANE DE SOUZA MILCZEVSKI

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GLAUCIO MANOEL DE LIMA BARBOSA

ARARIPINA - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/05/2021

EXCELENTE, AGORA TENHO DÚVIDA COM RELAÇÃO A MINHA RAÇÃO QUE FORNEÇO AOS ANIMAIS DE LEITE:
11 SACOS DE MILHO, 4 SACOS DE FARELO DE ALGOODAO, 6 SACOS DE FARELO DE SOJA, 20 KILOS DE BOVIGOLD E 12 KILOS DE BICARBONATO.
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 17/05/2021

Boa tarde Glaucio

Obrigado por sua participação. É difícil fazer críticas e sugestões a distância, principalmente porque vc não compartilhou as informações das vacas (produção, composição, raça, DEL, peso corporal, ECC, etc., etc.). Mas a fórmula do seu concentrado me parece adequada e corresponde a uma ração de 24% de PB (assumindo que os sacos que vc usou como unidade têm 50 kg). Se esta ração atende ou não as exigências dos seus animais, vai depender dos animais e de sua produtividade, bem como da qualidade das suas pastagens e/ou da quantidade e qualidade de silagem ofertada.

Como eu disse no texto, se as informações ou dados de entrada não são suficientes, a qualidade da recomendação técnica não é a mais adequada. Desculpe não ajudar mais, mas tentei fazer o possível.

Prof. Rodrigo de Almeida
JEAN CARLOS STEINMACHER LOURENÇO

TOLEDO - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 14/05/2021

Prezados, parabéns pelo texto.

Realmente o escore de condição corporal (ECC) é um fator importante que deve ser considerado no momento da formulação!
Os efeitos negativos de um elevado ECC no momento do parto têm impacto significativo sobre a saúde e desempenho produtivo da vaca leiteira. Fato que pode causar sérios prejuízos ao produtor de leite.
Pelo que tenho encontrado na literatura, vacas com elevado ECC (principalmente da raça Holandês) podem ter mais "chance" de passar por problemas de parto e distúrbios de saúde, podem ter mais dificuldade para emprenhar e consequentemente ficarem mais tempo em lactação. Além disso, há outro problema importante, pois é possível que os efeitos negativos se estendam sobre o futuro desempenho da bezerra recém-nascida.
Dentro deste aspecto, gostaria de saber o que vocês acham sobre as soluções em alternativas digitais como o uso da aplicativos ou aplicação de inteligência artificial para o monitoramento do ECC de vacas leiteiras dentro do rebanho. A estimativa de ECC gerada por estas tecnologias poderiam ser levadas em conta no momento da formulação? com que frequência poderíamos monitorar o ECC do rebanho?

Obrigado.
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 17/05/2021

Bom dia Jean Carlos

Inicialmente obrigado por seus comentários e por sua participação. Sobre sua pergunta, concordo que cada vez mais estas soluções como uso de aplicativos para monitoramento do ECC serão cada mais mais frequentes nas propriedades leiteiras. O uso de sensores no animal e no ambiente para monitorar atividades de ruminação e de manejo de cocho é uma tendência mundial. O crescimento no número de animais por rebanho torna estas práticas mais necessárias para que a nutrição de precisão seja cada vez mais adotada nestes rebanhos.

Assim, respondendo sua pergunta, sim a estimativa de ECC por estas tecnologias poderiam ser levadas em conta no momento da formulação, desde que obviamente validadas. Com o uso de sensores, podemos fazer análises muito mais frequentes, mas na verdade as análises de ECC realmente prioritárias são: 1) no momento do parto; 2) no pico de produção de leite (ao redor de 45-60 dias pós-parto); 3) no meio da lactação, quando esta vaca deixa o lote de alta e vai para o lote de média/baixa; e 4) na secagem.

Por último, talvez até de uma forma conservadora, me permita opinar que não podemos deixar que estes sensores nos substituam completamente! Acho que mesmo no futuro, com uma ampla gama de recursos e tecnologias, nada substituirá a experiência de um nutricionista andando no meio das vacas, olhando o cocho, checando o escore, passando a bota no esterco, etc.

Abraços

Prof. Rodrigo de Almeida

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