Hoje discutiremos um sexto erro frequente na formulação de dietas de vacas leiteiras. Nos artigos anteriores desta série, destacamos que na formulação de dietas temos que descrever, com a maior exatidão possível, a vaca que representa a média dos animais do lote para o qual estamos formulando a dieta.
Neste artigo vamos avançar na formulação da dieta, assumindo que o lote de animais foi bem caracterizado e descrito pelo nutricionista.
Praticamente todo grupo de vacas tem uma dieta “praticada” no dia da sua visita. Esta é uma diferença importante em relação a formulação de dietas para bovinos de corte, particularmente os confinados. Neste caso é comum o nutricionista formular uma dieta “do zero”, ou seja, formular uma dieta para animais que foram recém-fechados, e assim não há um registro de consumo inicial.
Já para vacas leiteiras, sempre há um consumo atual e a estimativa do consumo de MS desta dieta praticada é melhor do que qualquer outra estimativa oriunda de uma equação de predição.
Na dieta abaixo, formulada com o auxílio do programa RLM Leite, o consumo de MS observado foi de 27,53 kg MS, enquanto que o consumo de MS predito pela equação do NRC (2001) foi de 27,36 kg MS, uma diferença de apenas 1% que pode ser observada pela Relação CMS obs. / CMS pred. de 101%.
Na nossa modesta experiência, embora isto seja um critério mais prático do que científico, predições de consumo de MS entre 95 e 105% são satisfatórias e devem de certa forma tranquilizar o nutricionista, pois sugerem que os dados de cadastro dos animais estão corretos, que a dieta foi corretamente descrita e nas quantidades corretas, e que os teores de MS dos alimentos, particularmente dos volumosos, foram corretamente estimados.
Por outro lado, se o consumo de MS observado não “bate” com o predito, com valores da Relação CMS obs. / CMS pred. inferiores a 95% ou superiores a 105%, o nutricionista deve investigar possíveis erros no cadastro.
Entre os mais comuns estão:
- Peso corporal incorretamente estimado,
- Um pequeno consumo de pastagem não incluído por esquecimento,
- Uma situação de estresse calórico não caracterizada pelo nutricionista,
- Erros na pesagem dos ingredientes,
- Teores de MS dos volumosos e subprodutos não checados, entre outras razões.
O programa Ração de Lucro Máximo - RLM Leite adota a mesma equação de predição de consumo de MS que o NRC (2001). Apesar de ser uma equação de quase 20 anos, na nossa opinião é uma equação muito robusta e que na prática gera estimativas de consumo muito realistas e condizentes com os consumos observados em rebanhos comerciais. Segue abaixo a equação de predição de consumo de MS do NRC (2001):
Ao observar esta equação, notamos que há 4 dados de entrada ou “inputs”: peso vivo (PV), produção de leite e porcentagem de gordura (que juntos geram a produção de leite corrigida para 4% de gordura) e estádio de lactação (semana).
Uma outra característica e vantagem do programa RLM Leite em relação aos demais é que há uma equação de predição de consumo de MS específica para vacas cruzadas e zebuínas. Esta equação é fruto do trabalho de doutorado da colega Veridiana Souza na ESALQ/USP, aliás também uma das autoras do RLM Leite. Assim, quando o usuário do RLM Leite seleciona como raça predominante animais cruzados e zebuínos, a estimativa de consumo de MS é gerada a partir da equação abaixo.
Mais recentemente um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan nos EUA publicaram um artigo (de Souza et al., 2019) sugerindo melhorias na equação original do NRC (2001). Segue a nova equação sugerida:
Ao observar esta nova equação, notamos que há três principais diferenças;
- Inclusão da variável “parição” ou ordem de parto;
- A troca da produção de leite corrigida para 4% de gordura para produção de leite corrigida para energia;
- A inclusão da variável escore de condição corporal (ECC).
Ao adotar a produção de leite corrigida para energia, estaremos considerando além da porcentagem de gordura, também os teores de proteína e de lactose do leite.
Ao comparar a equação original do NRC (2001) com a nova equação proposta por de Souza et al. (2019), usando um banco de dados independente, os autores concluíram que ambas as equações geram estimativas de CMS similares no início da lactação (1 a 75 DEL).
Mas para vacas de meio e fim de lactação (76 a 368 DEL), a nova equação sugerida parece superar a equação do NRC (2001) e fornece estimativas mais próximas dos consumos observados.
O comportamento das estimativas de consumo de MS das duas equações e comparações com o consumo de MS real observado podem ser visualizados na figura abaixo. Nosso palpite é que esta nova equação sugerida substituirá a atual equação de estimativa de consumo de MS no novo NRC, que será lançado no próximo mês de agosto.
Na próxima semana discutiremos um sétimo erro frequente nas formulações. Mais uma vez, quero fazer um convite aos leitores do MilkPoint para que usem este espaço para compartilhar as suas maiores dificuldades e os erros que consideram mais frequentes na formulação de dietas de bovinos leiteiros.
Como já mencionamos, ao final destes 10 artigos, um para cada erro, teremos um próximo, que será um retrato das contribuições dos leitores, com os erros que vocês consideram mais frequentes.
Portanto, participem! Será um prazer receber as suas contribuições.
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