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Avaliação do manejo nutricional: o negócio é observar as vacas! - parte 1

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 02/03/2006

8 MIN DE LEITURA

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É desnecessário enfatizar o peso da alimentação no custo total de produção em fazendas leiteiras, então também não é necessário repetir que o manejo da alimentação tem que ser permanentemente monitorado. As vacas estão efetivamente consumindo aquilo que foi planejado? A ração que está no cocho, ou a forragem que está no pasto, é igual à que foi utilizada na formulação?

A avaliação da alimentação dos rebanhos leiteiros sempre foca os índices produtivos e reprodutivos das vacas, e também os resultados das análises laboratoriais dos alimentos, mas para fazer uma avaliação realmente completa do seu manejo nutricional o produtor tem que passear no meio das vacas.

Essa interação mais próxima com os animais é fundamental para que o produtor possa observar seu comportamento, o manejo do cocho, a disponibilidade de água, o conforto das vacas, seu escore de condição corporal, e muitos outros itens, como ruminação, aparência geral, problemas de casco, etc. Além disso, é importante que essa visita às vacas seja feita em diferentes horários, para se ter uma idéia melhor das variações ao longo do dia. Junte as informações do escritório com as que você coleta entre as vacas para montar um quadro da situação. Está esperando o quê? Mãos à obra!

Avaliando as áreas de alimentação e circulação

Procure fazer o mesmo percurso das vacas, da sala de ordenha até o local de alimentação (cocho ou pasto), com calma, observando todos os detalhes. Responda às seguintes perguntas:

 O piso é confortável e seguro?
 Há pedras ou buracos nos corredores? Qual a profundidade da lama que se forma quando chove?
 Qual a distância entre a sala de ordenha e o local de alimentação?
 Há áreas de sombra disponíveis no pasto? No caso de galpões, a ventilação é boa?
 As vacas têm locais confortáveis para deitar?
 Quantas horas por dia as vacas passam no pasto ou nos galpões?

Se as vacas não conseguem andar ou descansar com conforto, provavelmente vão produzir menos leite. Uma vaca que tem conforto não precisa destinar energia extra para "sobreviver" ao ambiente. Superfícies lisas, que fazem as vacas escorregar, superfícies irregulares, que as fazem andar como se estivessem pisando em ovos, ou lama tão profunda a ponto de "sugar" as botas de algum desavisado, possivelmente vão contribuir para que as vacas façam menos visitas ao cocho, ou, no caso de vacas no pasto, para que os ciclos de pastejo sejam reduzidos.

Corredores cheios de pedras e buracos são ótimos para aumentar muito a incidência de problemas de casco no rebanho. Se nem você consegue andar direito pelos corredores destinados às vacas, isso significa que elas estão sendo obrigadas a gastar mais energia do que deveriam em atividades não produtivas.

Observe as vacas enquanto se movimentam. Elas vão te mostrar se estão confortáveis ou não. A distância entre a sala de ordenha e as áreas de alimentação e descanso determina quanta energia adicional elas terão que gastar para se locomover, acima do que normalmente já está incluído nas exigências de manutenção. E isso será subtraído da energia líquida disponível para produzir leite.

Ou seja, quanto mais tiverem que andar, pior. "Viagens" de mais de 500m são indesejáveis. Proporcionar às vacas um lugar confortável para deitar, ruminar e descansar é fundamental para mantê-las saudáveis e produtivas. Em galpões, se as vacas não deitam nas baias, reavalie seu desenho e dimensões, e verifique se a cama está limpa e em quantidade adequada.

Para vacas mantidas em pastagens, se elas passam a maior parte do tempo em pé, ou se vão deitar nos corredores ou em áreas ensolaradas, é preciso verificar o estado da pastagem, presença de pedras, e condição e disponibilidade das áreas de sombra, que devem estar sempre secas.

Vacas com estresse térmico ficam mais suscetíveis a distúrbios metabólicos, a problemas reprodutivos, e normalmente consomem menos alimentos. Consequentemente produzem menos leite.

Cuidar muito bem das áreas de sombra nos pastos e da ventilação nos galpões é a melhor forma de prevenir a ocorrência de estresse térmico pelo calor. Aumentar os níveis de potássio, sódio e magnésio das rações de vacas em estresse térmico é recomendável, mas alterações na alimentação nessa situação são apenas medidas paliativas, o que resolve mesmo é refrescar as vacas!

Há controvérsias sobre o teor de concentrados em rações para vacas sob estresse térmico, mas é evidente que dar mais concentrado para esses animais não é uma boa alternativa. Uma vez que o estresse calórico aumenta o risco de acidose, o ideal é fornecer às vacas volumoso de boa qualidade e reduzir a oferta de amido (grãos de cereais). Nessa situação, o uso de subprodutos fibrosos no concentrado é uma boa opção.

Quanto mais tempo as vacas passam longe do galpão ou do pasto, menos tempo elas terão para se alimentar, beber água ou descansar. De maneira geral, as vacas devem ser agrupadas de forma que não passem mais de 2 horas por ordenha longe do galpão ou do pasto.

No caso de vacas que recebem concentrado depois da ordenha, e só então vão para o pasto, esse período pode ser um pouco estendido, mas 2 horas a cada ordenha é um tempo bem razoável. Há que se considerar que quanto mais tempo as vacas permanecem em pé, principalmente em pisos duros e abrasivos, sem chance de deitar, maior o risco de ocorrência de problemas de casco.

Mais algumas perguntas a serem respondidas nesse processo de avaliação do manejo alimentar:

 Há bebedouros suficientes para as vacas? Eles estão estrategicamente dispostos, inclusive nos corredores?
 Os bebedouros estão limpos? A vazão da água é suficiente para atender todo o lote?

O leite contém em torno de 88% de água. Sem água, não tem leite. E as vacas são animais preguiçosos, de forma que quanto mais fácil for o acesso à água, mais vão beber e melhor será o seu desempenho produtivo.

O consumo de água é afetado pelo nível de produção da vaca, consumo de alimentos, sódio e potássio, e temperatura ambiental. Via de regra, vacas leiteiras necessitam de aproximadamente 3 litros de água para cada kg de leite produzido.

Essa água pode vir dos alimentos ou do bebedouro, e sempre se deve levar em conta que sob estresse calórico a ingestão de água pode aumentar mais de 50% com o aumento da temperatura.

Passando pela água, agora é hora de observar o que as vacas estão comendo.

 Elas têm comida sempre disponível? Há boa oferta de forragem nos piquetes? O pasto é de boa qualidade?
 No caso de vacas confinadas, a ração completa no cocho está bem misturada? O tamanho médio de partículas está adequado? A ração está quente? Há sinais de mofo?
 Há espaço suficiente nos cochos de alimentação?
 As vacas têm alimento fresco (ração completa ou concentrado) à disposição depois das ordenhas?

Falta de comida significa menos leite. Para assegurar que as vacas consumam tudo o que precisam é necessário que os piquetes tenham boa oferta de forragem, e que o concentrado seja fornecido na quantidade correta. No caso de vacas confinadas, que recebem ração completa, a recomendação geral é trabalhar com sobras em torno de 5% do que foi ofertado, e que a sobra tenha a mesma aparência da ração que foi colocada no cocho.

Essa prática dá às vacas a possibilidade de consumir tudo o que precisam para produzir leite, repor condição corporal, e nutrir o feto (quando houver).

No caso de vacas alimentadas no cocho, a ração deve sempre estar muito bem misturada. Se o tamanho médio de partículas for muito pequeno, as vacas não terão fibra efetiva suficiente para estimular a mastigação, o que prejudica o bom funcionamento do rúmen.

Por outro lado, se o tamanho médio for muito grande, as vacas poderão selecionar os alimentos, o que também é ruim. Para saber se as vacas estão selecionando, observe-as enquanto comem. Se elas empurram a mistura pra lá e pra cá e depois "mergulham" a boca no cocho provavelmente estão empurrando a forragem para o lado para comer o concentrado.

Para evitar isso, a mistura deve ser muito bem feita, e o tamanho médio de partículas deve ser monitorado, evitando-se partículas muito grandes de forragem. O ideal é que o tamanho médio das partículas fique entre 3 e 5 cm. Se o teor de matéria seca total da ração ficar acima dos 50-60%, adicionar água à mistura, ou utilizar algum alimento úmido, como o resíduo de cervejaria, pode ajudar a manter a ração mais homogênea, o que dificulta a seleção pelas vacas.

Outro ponto muito importante é que a composição da ração colocada no cocho deve ser a mais próxima possível da composição da formulação. Como rotina, deve-se sempre checar os teores de matéria seca dos alimentos, principalmente dos volumosos, e conferir o funcionamento dos vagões misturadores e balanças. É relativamente comum encontrarmos a ração do cocho com composição bem diferente daquela formulada. Isso certamente leva a redução no desempenho das vacas.

Se a ração no cocho apresenta problemas de aquecimento ou sinais de mofo, é preciso investigar a origem do problema, que via de regra encontra-se em algum dos alimentos utilizados. Se a ração não tiver sabor agradável para as vacas, elas vão comer menos, e produzir menos leite.

Presença de mofo acende o sinal amarelo para ocorrência de micotoxinas, que podem causar sérios prejuízos. Para quem usa silagem, é fundamental fazer uma boa limpeza na parte superior da porção a ser utilizada, onde normalmente se acumula material deteriorado. Caso parte dessa silagem estragada vá para o cocho pode causar problemas (diarréia, intoxicações) nas vacas desavisadas que a consumir.

A questão do espaço na linha de cocho é outro ponto muito importante, que inclusive foi tema de artigo anterior publicado neste radar (clique aqui para ler). Se o espaço for limitado, as vacas podem apresentar consumo errático, com longos intervalos entre períodos de alimentação.

Isso pode levar a acidose ruminal e menor eficiência alimentar, e com certeza resulta em menor consumo total, o que leva diretamente à redução na produção de leite. Se cada vez que a vaca sair da ordenha houver comida á sua disposição, é certo que ela vai comer. Se não houver, ela irá procurar um lugar para deitar, e depois irá pensar 2 vezes antes de levantar seus 500-600 kg de peso para fazer uma refeição.

Há vários outros aspectos envolvidos com a observação das vacas para avaliar o manejo nutricional. Há que se analisar diretamente as vacas, os alimentos individualmente e os dejetos produzidos pelas vacas, que podem nos dar informações valiosas. Para não ser muito cansativo para os leitores, esses aspectos serão abordados na segunda parte deste artigo, a ser publicada num futuro breve. Até lá!

Literatura consultada

HALL, M. B. The cows are always right!: Evaluating rations. Proceedings of the 6th Western Dairy Management Conference. Reno, NY, 2003.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL.. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. Washington, D.C.: National Academy Press, 2001, 7th rev. ed. 381p.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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