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Algumas considerações sobre os carboidratos não fibrosos na dieta

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/03/2004

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 04/10/2022

A porcentagem de carboidratos não fibrosos (CNF) na matéria seca dietética é estimada pela equação: 100 - (Proteína Bruta + Extrato Etéreo + Cinzas + Fibra em Detergente Neutro). Recomendações norte-americanas indicam que para vacas de alta produção teores dietéticos mínimos seriam em torno de 25-30% da matéria seca, enquanto teores acima de 45-50% seriam extremamente altos. O limite superior é ditado pela maior possibilidade de ocorrência de distúrbios relacionados à acidose ruminal, resultado do excesso de carboidratos de fermentação rápida no rúmen. Os principais sintomas de rebanhos com acidose ruminal subclínica seriam baixo teor de gordura no leite, animais com consumo diário de matéria seca variável entre dias consecutivos, resultando em baixo consumo médio do rebanho, e alta incidência de distúrbios decorrentes de atonia ruminal. A mensuração do pH em amostras de fluido obtidas por aspiração percutânea do saco ventral do rúmen e oriundas de uma parcela representativa das vacas do rebanho pode auxiliar no diagnóstico da condição (Garrett et al., 1999. Journal of Dairy Science v.82 p.1170).

Na condição brasileira de produção de leite, excesso de fermentabilidade não parece ser um problema majoritário em fazendas de leite, mesmo naquelas trabalhando com rebanhos com alta demanda nutricional. Os motivos são vários. O baixo preço do leite no país inviabiliza a formulação de dietas com alto teor de amido oriundo de grãos presentes no concentrado. A forma prevalente de utilização do milho também é na forma de grão maduro seco e moído, de fermentabilidade mais baixa que silagens do grão colhido e moído em estádio de maturação ao redor da linha negra. O milho brasileiro majoritariamente vítreo e de textura dura também é menos degradado no rúmen que o amido de grãos dentados e de endosperma farináceo dos estrangeiros. O alto teor de FDN das forrageiras produzidas e incluídas em formulações que normalmente tentam minimizar a relação entre leite e concentrados também resulta em teor de FDN oriundo da forragem acima do mínimo necessário para atender à exigência dietética de fibra fisicamente efetiva (Armentano & Pereira, 1997. Journal of Dairy Science v.80 p.1416).

O tamanho de partícula das forrageiras ensiladas também é freqüentemente grande, resultado de falhas na moagem, contribuindo positivamente para a efetividade física da fibra, apesar de ter efeito negativo sobre a qualidade da silagem. A presença freqüente de grãos inteiros nas silagens também reduz a disponibilidade do amido no rúmen. O alto teor de fibra das forrageiras, acoplado ao freqüente uso de subprodutos fibrosos nos concentrados, normalmente resulta em dietas onde o teor de FDN total é alto e, conseqüentemente, resulta em teor de CNF abaixo daquele capaz de induzir acidose. O maior problema da vaca brasileira não é acidose ruminal, e sim falta de energia tanto para os microorganismos do rúmen quanto para o animal, por falta de fermentabilidade. Por aqui, baixa produção de leite, longo período de anestro pós-parto e baixa condição corporal são normalmente mais preocupantes que a acidose. Claro que existem exceções.

Uma maneira objetiva de mensurar a necessidade mínima de CNF seria por avaliação da porcentagem de proteína no leite. Em deficiência de substrato de fermentação rápida no rúmen ocorre queda na síntese de proteína microbiana e, conseqüentemente, no aporte de aminoácidos absorvíveis no intestino. Dietas ricas em CNF, mas dentro de uma amplitude química ótima, maximizam a excreção de proteína no leite. Excesso de CNF, levando a queda acentuada no pH ruminal, ou deficiência de CNF, capaz de limitar da disponibilidade de substrato para os microorganismos ruminais, deprimem o crescimento microbiano. Em dietas com teor e forma física da fibra superior ao mínimo necessário para manter a saúde animal, aumento de CNF em uma mesma opção forrageira seria atingível por redução na relação entre forragens e concentrados ou por substituição de subprodutos fibrosos por grãos ricos em amido. Ambas as alternativas normalmente aumentam o custo por kg de dieta, por isto definir o teor dietético de CNF tem alto impacto financeiro, pois define as opções e a quantidade de compra de alimentos.

Batajoo & Shaver (1994) (Journal of Dairy Science v.77 p.1580) realizaram um trabalho cientificamente elegante para definir o teor de CNF em uma dieta típica da condição norte-americana de produção de leite. As vacas em lactação foram alimentadas com quatro tratamentos, todos com 205 gramas de FDN oriundo de alfafa por kg de matéria seca de dieta. As dietas foram formuladas para conter 40, 35, 30 e 25% de CNF na matéria seca. A dieta com 40% de CNF foi formulada com 3,4% de subprodutos fibrosos e 33% de amido oriundo de milho. Os subprodutos fibrosos utilizados foram uma mistura de resíduo de cervejaria, farelo de trigo e casca de soja. O menores teores de CNF foram obtidos substituindo o milho do concentrado por proporções crescentes da mistura de subprodutos. Na dieta com 25% de CNF o teor dietético de amido foi 18%. A tabela abaixo mostra a produção diária de leite, a % de proteína no leite e a produção diária de proteína. Com redução no CNF da dieta foi observado queda linear na excreção de proteína no leite, sem afetar o volume produzido.

Nesta dieta, à base de alfafa e milho de alta degradabilidade ruminal, substituição de amido por FDN oriundo de subprodutos de cereais e soja reduziu mais marcadamente a excreção de proteína apenas quando o teor dietético de CNF foi inferior a 30%. Extrapolações destes resultados para outras dietas e outros subprodutos devem ser feitas com cautela. A FDN oriunda de cereais é sabidamente de baixa degradabilidade no rúmen comparativamente à fibra da soja ou da polpa cítrica, por exemplo. Logo, em dietas à base de polpa ou casca de soja o teor dietético de CNF poderia ser teoricamente reduzido. Entretanto, se o amido do concentrado fosse oriundo de milho de baixa fermentabilidade, a necessidade de CNF para manter uma mesma excreção de proteína deveria ser aumentada. Também podem existir interações com o tipo da forragem. Caso forragem rica em amido fosse disponível, como a silagem de milho em vez da alfafa, pode ser que a necessidade de amido oriundo do concentrado fosse reduzida, aumentando a possibilidade de uso de subprodutos fibrosos. A definição do teor mínimo de CNF requer bom senso e conhecimento das características de cada alimento. É importante definir uma dieta padrão para comparação e testar alimentos viáveis para cada região. As vacas dão a resposta.

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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MARCOS NEVES PEREIRA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 27/10/2021

Caro Luciano, sugiro a leitura do capítulo sobre carboidratos do NRC (2001). Existe também uma série de bons artigos sobre fibra no volume 80, numero 7, de 1987 do Journal of Dairy Science (www.adsa.org). Me desculpe por não indicar literatura em português. No curso de formulação do MilkPoint ou no presencial da UFLA existe material em português.
JOSE JOSELI DA SILVA

SURUBIM - PERNAMBUCO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/09/2017

Marcos Neves, em nossa região, agreste setentrional de Pernambuco, em decorrência dos longos períodos de estiagem, está havendo uma troca do rebanho leiteiro por gado de corte. Sou extensionista e pretendo fazer uma planilha de Excel com formulação de ração para bovino de corte, com a finalidade de atender os pequenos produtores familiares daqui. Assim sendo não encontrei em qualquer literatura, os limites máximo e mínimo de Carboidratos não fibrosos, que deve ser dado eficientemente aos bovinos de corte, visando satisfazer suas exigências nesses Carboidratos sem causar-lhes danos em consequência da acidez ruminal. Vemos que para vacas de leite estes limites são de 25 a 30%. Solicito a gentileza sobre a referida solicitação, e antecipadamente agradeço.



Abraços,



José Joseli da Silva
LUCIANO FABRZIO BARIANI JOSE DE OLIVEIRA

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/05/2008

Prof. Marcos,

O artigo interessante, gostei muito. De fato saber estas considerações são de fundamental importância na nutrição animal moderna. Gostaria que indicasse outro artigo sobre FDN e FDA para pesquisa.

Luciano

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