José Roberto Peres
Todo nutricionista deve saber observar e "interpretar" as fezes dos animais. Elas são um indicativo da qualidade da dieta que os animais estão consumindo e da extensão e local de sua digestão. De forma prática, o que se pode observar é o seguinte:
* As fezes, dentro de um mesmo lote, variam sua consistência de firme à diarréia? - boas ou ruins, as fezes de um lote recebendo a mesma dieta devem parecer similares, se elas estiverem consumindo a mesma dieta. Isto não ocorrendo, a probabilidade de estar ocorrendo seleção ou variação no consumo por parte de alguns animais é bastante grande.
* O esterco está espumoso apresentando bolhas de gás? Existem pedaços de "muco" no esterco? - o alimento deve ser digerido preferencialmente no rúmen e abomaso, com a absorção dos nutrientes ocorrendo principalmente no rúmen e no intestino delgado (trato digestivo anterior). Quando parte do alimento passa por estes compartimentos sem ser totalmente degradado ele é fermentado no intestino grosso (trato digestivo posterior), que não possui capacidade de absorção de nutrientes. Sendo assim, parte dos nutrientes é perdida. Neste caso os gases resultantes da fermentação aparecem nas fezes. Somado a isto, a fermentação tem como produto final vários ácidos, que irritam a parede do intestino grosso e provocam como reação de defesa a secreção de muco. Isto evidencia a ocorrência de danos na parede do intestino. Estes danos podem ser parcialmente responsáveis pela ocorrência de diarréias freqüentemente vistas em casos de acidose ruminal (que não permite a completa digestão dos alimentos no trato digestivo anterior). Portanto, este tipo de ocorrência indiretamente evidencia problemas a serem corrigidos na digestão ruminal.
A avaliação de porções de fezes cuidadosamente lavadas em peneira com malha de 1,5 mm permite o exame da fração sólida das fezes. As amostras devem ter 250 gramas, obtidas de montes de diversas vacas para maior representatividade. Neste material pode ser observado:
* Existem muitas partículas de fibra maiores que 1 cm de comprimento? - grandes partículas de fibra ou concentrado moído em tamanho visível nas fezes sugerem que o alimento não está sendo retido no rúmen por tempo suficiente para ser ruminado/digerido. Observe e corrija a quantidade de fibra efetiva da dieta.
* Existem nas fezes alimentos não digeridos como polpa de laranja ou caroço de algodão com línter ainda intacto? - estes alimentos normalmente são de fácil digestão. Caso não estejam sendo digeridos suspeite de acidose ruminal pois ela prejudica a digestão da fibra da dieta. Novamente verifique o teor de fibra efetiva na dieta.
* Existe nas fezes uma quantidade visível de grãos em partículas grandes? - a presença de alimento não digerido nas fezes é indicativo de uma redução geral na digestibilidade da dieta. Tanto a fibra quanto o amido podem escapar da digestão. Os grãos são retidos para digestão no rúmen no meio das partículas de fibra, sendo esta uma das razões para o atendimento dos requerimentos de fibra. Também o processamento que é dado aos grãos pode influir em seu aproveitamento. Quando moídos muito grosseiramente a eficiência no seu aproveitamento é menor e portanto eles ficam mais evidentes nas fezes. Grãos muito maduros em silagens colhidas tardiamente também podem "passar" pelo trato digestivo anterior sem ser digeridos; seu processamento seria necessário através de ensiladeiras que processem os grãos.
Comentário do autor: a observação das fezes é uma ferramenta subjetiva mas útil na identificação de problemas nutricionais. A existência de material não digerido nas fezes indica problemas na formulação ou manejo nutricional do rebanho.
fonte: Adaptado de: Hall, M. B., 1999. Southeast Dairy Herd Management Conference.