Nós do MilkPoint estamos sempre de olho nas redes sociais e outros meios de comunicação para trazer tudo o que há de novidade e curiosidade no setor leiteiro para vocês, nossos leitores. Desta vez, uma seguidora do nosso perfil no Instagram, compartilhou conosco dois artefatos utilizados em sua propriedade que contribuem para o bem-estar e conforto dos animais. Confiram o relato da Eveline, veterinária e uma das proprietárias da Fazenda Zuniga, localizada em Serranos, sul de Minas Gerais:
"Meu nome é Eveline Zuniga. Sou a veterinária responsável pelos animais da Fazenda Zuniga, e filha do proprietário Carlos Zuniga. A história da nossa fazenda é bem bonita e um pouco diferente, mas vou tentar resumi-la... rsrs
Sempre moramos em cidade grande (São Bernardo do Campo/SP), mas frequentamos a região do Sul de Minas desde minha infância (hoje tenho 36 anos). Minha avó paterna nasceu no sul de Minas, temos alguns parentes por lá e foi surgindo o sonho de termos uma propriedade na região.
Meu pai, Carlos Zuniga, foi policial por muitos anos, abriu uma empresa de segurança (em que ele e o sócio eram os donos... e os únicos funcionários!). Essa empresa foi crescendo, e crescendo, e o nosso sonho de uma fazenda começou a se realizar. Nossa primeira aquisição foi o Ventania, um cavalo Mangarlarga tordilho que é vivo até hoje, está com 24 anos.
Aproximadamente dois anos após a compra do cavalo, meu pai comprou as terras. Pouco a pouco construímos nossa casa e posteriormente o curral. Compramos algumas vaquinhas 3/4 holandês e algumas 1/2 sangue girolando. Começamos o trabalho na fazenda com apenas um funcionário (Tião, que se aposentou esse ano!) e assim que as vacas iniciaram a produção de leite, contratamos mais um.
A paixão pela produção leiteira passou de pai para filha, e cursei Medicina Veterinária. Sempre com enfoque na qualidade do leite – mastite, para ser mais específica – passando pela graduação, mestrado e doutorado. Minhas pesquisas sempre foram realizadas com vacas produtoras de leite da região, e claro, muitas eram nossas mimosas.
Atualmente somos criadores de gado holandês preto e branco, utilizamos o sistema Compost Barn (Foto 1) e estamos com 80 vacas em lactação produzindo aproximadamente 2000 litros/dia, em três turnos. No dia a dia da fazenda são cinco funcionários, mais uma no administrativo (de SP), meu pai e eu. Como não somos “filhos da roça” nos esforçamos muito para aprender os mais diversos assuntos relacionados à propriedade e como somos curiosos, tentamos sempre trazer novidades.
Foto 1: Compost Barn da Fazenda Zuniga, 2020.
Em julho de 2019 viajamos de férias para a Islândia e resolvemos inserir em nosso roteiro a estadia em um hotel fazenda. Logo de cara fomos fazer o check in e já avistamos o estábulo (Foto 2). Deixei o marido com a parte burocrática e corri para conhecer os animais. Deparei-me com uma raça, até então desconhecida para mim, chamada Icelandic (Íslenska Kýrin, na complicadíssima língua deles). São vacas de pequeno porte, do tamanho de uma Jersey, mansas e boas produtoras de leite, em sua maioria de coloração avermelhada, e originárias da Noruega (mas isoladas geneticamente há muitos séculos).
Percebi que elas usavam algo que parecia uma cinta por todo o corpo (Foto 3) e na região do úbere era algo como se fosse uma rede (Foto 4). Fiquei me questionando sobre qual seria a função daquele aparato e porque a maioria das vacas utilizava. Logo vi uma pessoa cuidando dos animais e, curiosa que sou, perguntei qual a função. A moça, que depois descobri que era a proprietária da fazenda, ficou indignada com a minha pergunta e respondeu: “Você quer saber para que serve um sutiã?” Demos boas risadas juntas e logo caiu a ficha, “um sustentador de úbere, que ideia genial”!
Ela me explicou que a maioria dos animais utilizava, e não só na propriedade dela, e sim que era padrão de bem-estar animal no país. Imediatamente perguntei onde poderia encontrar um igual. A proprietária me passou o endereço e inserimos no nosso roteiro uma paradinha na loja agropecuária.
Foto 2: Estábulo da Fazenda – Islândia, 2019.
Foto 3: Sustentador de úbere – Islândia, 2019.
Foto 4: Rede sustentadora de úbere – Islândia, 2019.
Encontramos a loja agropecuária e eu estava radiante, como em um parque de diversão rsrs. Compramos um sustentador de úbere para nossas vacas e uma roupa térmica (!) para bezerras. Lembro que os funcionários da loja ficaram indignados porque eu nunca havia visto nenhum dos dois produtos e questionaram se no Brasil fazia frio ao ponto de precisar de uma térmica. Na verdade o inverno no Sul de Minas Gerais é parecido com o auge do verão da Islândia... mas há noites bem frias e como nosso bezerreiro não tem barreira lateral contra vento, pensamos em adquirir um na tentativa de ajudar os animais que sofressem de problemas respiratórios ou bezerras pós-nascimento.
Chegamos com as duas novidades na propriedade e os funcionários “torceram o nariz” inicialmente achando que poderia dar mais trabalho para um dia já tão cheio de afazeres. Logo perceberam que os dois itens seriam aliados e passaram a utilizá-los. O sustentador de úbere testamos em uma vaca mais velha, com o ligamento suspensório médio afrouxado (Foto 5) e o resultado foi excelente. Com o tempo ela se sentiu mais confortável e os quadros de mastites reduziram.
Foto 5: sustentador de úbere original, da Islândia para a Fazenda Zuniga, 2019.
Medimos todas as partes do “sutiã” original, estudamos a ideia de confeccionarmos um para teste e saímos em busca de materiais parecidos ao original. Juntamente com uma querida costureira conseguimos fazer duas réplicas que ficaram excelentes (Foto 6).
Foto 6: Réplicas dos sustentadores de úbere confeccionados para a Fazenda, 2019.
Assim que retornamos da viagem, em Julho de 2019 estava bastante frio e resolvemos utilizar a térmica em uma bezerra que sofria de problemas respiratórios. O resultado foi ótimo. Juntamente com o tratamento convencional (antibióticos e anti-inflamatórios) percebemos que a recuperação do animal foi mais rápida com esse pequeno detalhe (fora a fofura de ver a bezerra de roupinha).
Foto 7: Primeira bezerra a utilizar a roupa térmica na fazenda, 2019.
É incrível que, mesmo após 20 anos, ainda há tanta coisa para aprender nessa trabalhosa, mas apaixonante, atividade. E como ideias tão simples, e ao mesmo tempo geniais, podem aumentar o bem estar de nossos incríveis animais, que nos presenteiam com um produto de excelente qualidade todos os dias".
Caso alguém tenha interesse ou queira saber mais informações sobre o sustentador de úberes, pode entrar em contato com a Eveline pelo e-mail eveline.zuniga@usp.br.
E aí pessoal, já conheciam estes artefatos? Contem pra gente aqui nos comentários o que acharam