Tempo de permanência sobre concreto afeta incidência de laminite

Marcelo Pereira de Carvalho

A incidência de laminite é na maior parte das vezes relacionada à nutrição, especialmente em função de excesso de concentrado, grãos muito moídos, falta de fibra, manejo de alimentação inadequado, mudanças bruscas na dieta e outros aspectos mais. Porém, não é apenas a nutrição que causa laminite: o ambiente tem um papel às vezes tão importante ou até mais em relação à geração deste problema.

A exposição a superfícies duras como o concreto é um aspecto predisponente ao aumento da incidência de laminite. Embora várias observações práticas sejam conhecidas, há um relato de um trabalho realizado na Inglaterra em um rebanho constituído de 2 módulos idênticos de 130 vacas cada (f ree stall). A única diferença entre eles era o sistema de coleta do esterco: um deles apresentava sistema de remoção com água (flushing) e, em função disto, era obrigado a usar apenas 1/4 da quantidade de cama existente no outro barracão.

Enquanto que no barracão que possuia quantidades adequadas de cama a incidência de laminite nos primeiros 4 anos de operação foi desprezível, cerca de 47 a 70% das novilhas em lactação apresentaram laminite no barracão que manteve cama baixa. A razão reportada é que, no barracão problemático, as novilhas em lactação simplesmente deitavam muito pouco, permanecendo muito tempo sobre o concreto.

A tabela abaixo mostra os dados de comportamento obtidos a cada 2 horas e comprova este fato.

Este problema pode ocorrer não só em animais em free stall, mas também animais que ficam presos durante muito tempo em cochos concretados. O animal que permanece em pé rumina menos e, com isto, digere a fibra menos eficientemente, produz menos saliva, menos bicarbonato de sódio e tampona menos o rúmen, aumentando a chance de acidose. A acidose, por sua vez, irá contribuir para a laminite. No caso do concreto, o problema é ainda pior, pois esta superfície é mais nociva ao casco do que por exemplo piquetes de terra batida, especialmente se estiver úmido frequentemente (sem sulcos para escoamento da urina e água, sem queda suficiente).

O ideal é que a vaca deite pelos menos 10 horas diárias. É válida a observação de que se a vaca não estiver comendo, bebendo água, sendo manejada ou em atividade de cio, ela deve estar deitada ruminando. Se em determinado rebanho, você observar um grande número de vacas em pé sem fazer nenhuma das atividades, desconfie. Se houver problemas de casco em excesso, este deve ser um fator a ser avaliado. Temos observado este problema em vacas pós-parto, que passam por várias mudanças bruscas de alimentação (predispõem a acidose) e de tipo de piso. Estas mudanças bruscas em vacas iniciando a lactação são altamente prejudiciais e comprometem o desempenho técnico e econômico deste animal.

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fonte: MilkPoint