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Período de transição: sua fazenda está no caminho certo?

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EM 15/03/2018

9 MIN DE LEITURA

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O período de transição classicamente é descrito como as três semanas que antecedem o parto e as três semanas pós-parto. Neste período ocorre uma drástica mudança no metabolismo da vaca.

Com o início da lactação, a vaca precisará em torno de 2 a 3 vezes mais energia do que estava sendo exigida nos primeiros dias do período seco, porém, nesta fase, a capacidade de consumo de alimentos pela vaca é reduzida.

Desta forma, este período está associado com os principais problemas de uma fazenda leiteira, e ainda, diretamente ligado com o desempenho produtivo e reprodutivo da vaca durante a lactação (Figura 1).

Figura 1 – Principais características durante o período de transição associadas com doenças metabólicas, produção de leite e índice reprodutivo do rebanho.

período de transição em vacas leiteiras

Os problemas metabólicos associados com o período de transição podem ser minimizados com estratégias alimentares, manejo, conforto e sanidade durante este período. Porém, para um adequado controle de cada um destes fatores, é necessário conhecer a situação atual do rebanho, os principais fatores que estão contribuindo para qualquer problema relacionado ao período de transição, e, desta forma, traçar metas e plano de ação para melhoria do manejo de transição do rebanho. Isso resultará em maior retorno econômico à propriedade visto sua grande importância para a saúde, desempenho produtivo e reprodutivo durante a lactação.

O primeiro passo é elencar os principais índices de monitoramento e seus respectivos valores de referência que serão utilizados no rebanho. Abaixo segue um quadro (Quadro 1) com exemplos da grande maioria dos índices e ações que estão associados com o sucesso do período de transição.

Quadro 1 – Indicadores do período de transição e sugestões gerais de ações.

Impacto do manejo, conforto e nutrição sobre o período de transição

Escore de Condição Corporal (ECC) ≥ 3,5: vacas que parem com ECC ≥ 3,5 apresentam menor consumo de matéria seca (CMS), maior mobilização de gordura corporal e maior risco de cetose e doenças metabólicas do que vacas que apresentam ECC menor, podendo resultar em menor desempenho produtivo e índices reprodutivos.

Otimização do consumo de matéria seca

a. Disponibilidade de alimentos: em dietas completas (TMR) jamais o coxo deverá estar vazio ou com pouca oferta de alimentos (Figura 2), em qualquer período do dia. Recomenda-se neste período que as sobras (alimento recusado pelo animal) sejam por volta de 10% do total ofertado, e, ainda, entre os horários de alimentação a dieta pode ser aproximada dos animais para que os mesmos tenham o consumo facilitado.

Figura 2 - Baixa oferta de alimentos no cocho, com potencial em limitar o CMS.

período de transição em vacas leiteiras

b. Coeficiente de variação do trato e índice de seleção: coeficiente de variação do trato representa o quanto alguma característica do trato (exemplo: % de partículas retidas em peneiras 19mm, 8mm, 4mm e fundo) variou ao longo da linha de coxo de uma mesma dieta (indica a qualidade da mistura). O índice de seleção é um indicativo de como está o perfil das sobras (tamanho médio das partículas) em relação à dieta oferecida. O ideal é que o tamanho das partículas das sobras do dia seguinte tenham uma variação inferior a 10% em relação à dieta ofertada.   

c. Qualidade da forragem pós-parto: a qualidade da forragem é essencial para otimizar o consumo de energia no pós-parto sem resultar em problemas digestivos e metabólicos. Forragens com fibra de maior digestibilidade permitem maior consumo de matéria seca e fornecem maior quantidade de energia por kg de alimento consumido.

d. Cetose: a cetose pode ser mensurada em vacas com 5 à 10 dias pós-parto. De forma geral, assume-se que a vaca está em cetose quando apresenta >1,2 mmol/l de beta-hidroxi butirato (BHB) no sangue. A fazenda deve ter um protocolo de tratamento de vacas em cetose, os quais geralmente incluem a utilização de “drench” com propilenoglicol (250-300ml) e glicose 50% (500 ml).

e. Identificação de vacas com histórico de problema: há estudos que relataram que vacas com histórico de febre do leite, cetose ou mastite, têm maior chance de repetir este problema nas subsequentes lactações. Isto indica que os registros de problemas destes animais devem ser avaliados antes do próximo parto, com o objetivo de já realizar medidas preventivas para estes animais.

f. Conforto: vacas que não estão confortáveis durante o período de transição irão consumir menos alimento e ruminar menos, e desta forma, estarão mais propensas a doenças metabólicas e redução da produtividade. Entre as principais medidas de conforto destacamos o estresse térmico e o conforto das camas. A climatização no pré e no pós-parto é fundamental para reduzir riscos de doenças metabólicas e aumentar o desempenho produtivo e reprodutivo. Estudos indicam que vacas pré-parto em galpões com aspersão e ventilação produzem 7 litros/dia de leite a mais que vacas sem ventilação e aspersão.

Em sistemas de confinamento, as características das camas podem ser estimadas pelos seguintes pontos:

Free stall: dimensionamento das camas adequado ao tamanho das vacas; disponibilidade adequada de areia; granulometria da areia (evitar areia com presença de pedras); limpeza das camas e disponibilidade de camas (para vacas pós-parto recomenda-se que a lotação seja de 80 à 85% da capacidade, com espaço de cocho de 76 à 92 cm por animal).

Compost barn: os principais fatores associados com conforto são: umidade da cama, temperatura e lotação (> 12m2/vaca). Em sistemas semi-intensivos, os cuidados com o espaçamento de cocho não é diferente. Nesses sistemas, o fornecimento de áreas extensas de sombra e próximas às áreas de alimentação se torna essencial. 

Dietas do período de transição:

a. Dietas acidogênicas no pré-parto: durante as últimas três semanas pré-parto, recomenda-se a utilização de dieta acidogênica (com balanço cátion-aniônico - BCAD reduzido ou aniônica/negativo). A utilização de dietas acidogênicas objetiva reduzir riscos de doenças como hipocalcemia (clínica ou subclínica) e retenção de placenta. A redução do pH urinário para 6 – 6,5 já é suficiente para estimular os mecanismos de preservação de cátions na corrente sanguínea, e valores como 5 – 5,5 podem reduzir o consumo das vacas.

b. Antioxidantes: os principais antioxidantes são selênio (ideal para transição: >5 mg/d) e vitamina E (1800 – 3000 UI/d). Estudos recentes relataram que principalmente dietas com baixo teor de vitamina E podem causar supressão do sistema imune e resultar em maior incidência de doenças infeciosas e menor desempenho produtivo e reprodutivo.

c. Aditivos para controle do pH ruminal: o uso de aditivos tamponantes e alcalinizantes como bicarbonato de sódio e óxido de magnésio, respectivamente, bem como aditivos moduladores da fermentação ruminal para auxiliar no controle de pH e eficiência de fermentação, como ionóforos e leveduras, também podem ser indicados para inclusão nas dietas das vacas em período de transição.

d. Fibra vs amido: vacas pré-parto devem receber comida a vontade para maximizar o CMS, porém com baixa densidade energética, de forma a não exceder as exigências de energia. Para isto, uso de palhas e alimentos com baixos teores energéticos podem auxiliar, já que o uso exclusivo de silagem de milho geralmente excede as exigências de energia. É importante também baixo teor de K para facilitar redução do BCAD. As recomendações para dieta pós-parto apresentam algumas variações, mas de forma geral, recomenda-se que a dieta tenha pelo menos 33 – 35% (com base na matéria seca da dieta) de FDN, sendo que 24 à 26% de FDN deve ser oriunda de forragens (de boa qualidade), e > 20% da FDN deve ter partículas ≥ 8mm. Há recomendações para limitação de inclusão de amido nas dietas pós-parto para no máximo 22 – 26 % da matéria seca, dependendo da digestibilidade ruminal do amido. Em dietas com fontes de amido de baixa digestibilidade (Figura 3) pode ser necessário incluir maiores quantidades de amido na dieta, sendo observado pela presença de grandes quantidades de grãos de milho nas fezes ou até mesmo pela análise de amido fecal.

Figura 3 - Presença de grande quantidade de amido nas fezes decorrente de milhos com baixa digestibilidade. 

e. Balanceamento adequado de proteína: durante o período de transição, a vaca exige grande quantidade de proteína metabolizável. Porém, o rúmen não consegue fornecer esta quantidade necessária por meio de seus microrganismos (chamada de proteína microbiana), pois neste período o CMS está reduzido. Desta forma, durante o período de transição pode ser recomendado a substituição parcial do farelo de soja por fontes de menor degradação ruminal, como grãos e farelos tratados termicamente (“by pass”). No período de transição pode ser recomendado que 60 – 62% da proteína seja degradada no rúmen, e o restante passe “by pass” (proteína não degradável no rúmen – PNDR) para ser digerido e absorvido no intestino. Outra opção é o uso de aminoácidos protegidos. Estudos indicam que a suplementação com metionina protegida durante o período de transição (relação lisina:metionina de 2,8:1) pode aumentar a produção de leite após o parto em até 4 litros/vaca/dia e ainda auxiliar na redução de distúrbios metabólicos e do desempenho reprodutivo.

Para a aplicação de protocolos de gestão do período de transição, é importante que a fazenda defina um plano de ação e estabeleça a curto e médio prazo suas próprias metas, baseado nos seus atuais resultados e na capacidade de melhorias da fazenda a curto, médio e longo prazo.

A associação de cada um desses indicadores aos processos de alimentação, conforto e manejo geral do período de transição permite que todos os colaboradores entendam a importância do seu trabalho para o período de transição. Dar significado ao trabalho é essencial para que tarefas deixem de ser simples tarefas e passem a ser parte importante para o sucesso da fazenda.

Referências bibliográficas

Carvalho, P.D. et al. Relationships between fertility and postpartum changes in body condition and body weight in lactating dairy cows. J. Dairy Sci., v.97, Issue 6, 3666 – 3683.

Dairy Extension. Top 10 strategies to improve early lactation performance for higher peak milk yield. University of Minessota. 2017.

Erskine, R.J., P.C. Barlett, T. Herdt, and P. Gaston. 1997. Effects of parenteral administration of vitamin E on health of periparturient dairy cows. J. Amer. Vet. Med. Assoc. 211:466-470.

National Research Council. 2001. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 7th rev. ed. Natl. Acad. Press, Washington, D.C.

Weiss, W.P., J.S. Hogan, D.A. Todhunter, and K.L. Smith. 1997. Effect of vitamin E supplementation in diets with a low concentration of selenium on mammary gland health of dairy cows. J. Dairy Sci. 80:1728-1737.

Weiss, W. Update on Vitamin Nutrition of Dairy Cows. 2013. Disponível em: https://articles.extension.org/pages/25924/update-on-vitamin-nutrition-of-dairy-cows. Acesso em: 07 de Fevereiro de 2017.

Zhou, Z., Vailati-Riboni, M., Trevisi E., Drackley, J. K., Luchini D., N., Loor, J. J. 2016. Better postpartal performance in dairy cows supplemented with rumen-protected methionine compared with choline during the peripartal period. J. Dairy Sci., 99(11):8716-8732.

Amanlou, H., Farahani, T. A., e Farsuni, N. E. (2017). Effects of rumen undegradable protein supplementation on productive performance and indicators of protein and energy metabolism in Holstein fresh cows. J. Dairy Sci., 1–13.

Overton, M. W., Boomer W. G., & Gorden P. J. (2011). Transition Management Checklist. https://articles.extension.org/pages/25100/transition-management-checklist. Acessado em 25/02/2018.

Peter J. Hansen, Serdal Dikmen, Miki Sakatani and Geoffrey E. Dahl. Cooling Strategies During Heat Stress. https://articles.extension.org/pages/63354/cooling-strategies-during-heat-stress. Acessado em 25/02/2018.

GRUPO APOIAR

O "Grupo Apoiar" foi criado com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento da pecuária leiteira, através de trabalhos de pesquisa e de consultoria em diversos segmentos da cadeia agroindustrial do leite.

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EUGENIO FARIA BARBOSA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 09/04/2019

Boa noite e parabéns pelo artigo!

Como que o teor excessivo de PDR (Figura 1) pode reduzir o consumo de matéria seca de vacas leiteiras no pós parto?

Abraços, Eugenio
GRUPO APOIAR

PATOS DE MINAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/04/2019

Boa tarde Eugenio,
Apesar da imensa importância da proteína degradável no rúmen (PDR) sobre o aumento da digestão da fibra e por consequência aumento do consumo de matéria seca, o consumo de PDR em excesso pode ter potencial em reduzir o consumo de matéria seca. Segundo ALLEN; BRADFORD; OBA, 2009, apesar de NEFA e propionato serem os principais combustíveis hipofágicos, o excesso de amônia no fígado apresenta potencial em aumentar a oxidação hepática e por consequência reduzir o consumo de matéria seca. BRODERICK; REYNAL, 2009 demonstraram que o aumento do fornecimento de PDR via uréia provocou redução do consumo de matéria seca de vacas leiteiras alimentadas com dietas com a mesma quantidade de PDR. MARTINS et al., 2019 demonstrou que vacas leiteiras alimentadas com milho moído como principal fonte de amido, tiveram redução do consumo de matéria seca em dietas com teores de PDR de 10,7% da MS, em comparação a vacas alimentadas com dietas com 9,5% de PDR da MS. Assim, acreditamos que o fornecimento em excesso pode ser prejudicial a vacas leiteras em uma fase que o consumo de matéria seca normalmente é reduzido. Para o pós-parto imediato, aparentemente, segundo os resultados dos trabalhos de AMANLOU; FARAHANI; FARSUNI, 2017, dietas pós-parto com teores de proteína próximos a 19%, com 60-62% da proteína vinda de PDR parecem adequados, por proporcionarem maior produção de leite, maior consumo de matéria seca, maior digestibilidade do FDN e menor redução do escore de condição corporal.
ALLEN, M. S.; BRADFORD, B. J.; OBA, M. Board-invited review: The hepatic oxidation theory of the control of feed intake and its application to ruminants. Journal of Animal Science, v. 87, n. 10, p. 3317-3334, 2009.
AMANLOU, H.; FARAHANI, T. A.; FARSUNI, N. E. Effects of rumen undegradable protein supplementation on productive performance and indicators of protein and energy metabolism in Holstein fresh cows. Journal of Dairy Science, p. 1-13, 2017.BRODERICK, G. A.; REYNAL, S. M. Effect of source of rumen-degraded protein on production and ruminal metabolism in lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 92, n. 6, p. 2822-2834, 2009.
EM RESPOSTA A GRUPO APOIAR
EUGENIO FARIA BARBOSA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 16/04/2019

Bom dia Gabriel !

Obrigado pela reposta.

Abraços

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