O estresse por calor é uma realidade comum em diversas propriedades leiteiras no Brasil devido ao clima predominantemente tropical. Este fato está ligado a alterações comportamentais e fisiológicas dos animais, que afetam o bem-estar, e esses fatores têm uma relação importante com a principal fonte de renda das propriedades leiteiras: a produção de leite.
Os parâmetros básicos para avaliação do animal com estresse térmico de acordo com McArt (2018) são: aumento da frequência respiratória (mais de 60 movimentos respiratórios por minuto), temperatura corporal (mais de 40,56°C) e batimentos cardíacos (superior a 100 bpm). Os sinais clínicos incluem menor tempo se alimentando e ruminando, maior ingestão de água, boca aberta e salivação excessiva, além de menos tempo deitada, a fim de aumentar a superfície de contato para dissipar calor, levando a menor produção de leite e piora no desempenho reprodutivo, inclusive gerando bezerros mais leves.
As formas de dissipação de calor incluem condução, convecção e radiação. A convecção é a forma mais utilizada na criação de bovinos de leite, e consiste na evaporação da água que proporciona a transferência de calor para o ar, sendo a forma mais eficiente. A condução ocorre principalmente quando a vaca está deitada e o calor é passado para a cama e, para isso, podem ser utilizados bons condutores em seu material, como a areia.
Um estudo da Universidade da California, em Davis, testou 4 tratamentos como forma de resfriamento dos animais em Free stall para vacas com produção de 37,5 kg/dia:
(1) tratamento base, em que era utilizada aspersão na linha de cocho em ciclos de 1,5 min ligado e 6 min desligado com ventiladores direcionados para as camas em temperaturas acima de 22,2 °C;
(2) tratamento base otimizado, semelhante ao tratamento 1, porém utilizando-se metade da quantidade de água em ciclos de 0,5 min ligado e 4,5 min desligado em temperatura superior a 22,2 °C e ventiladores direcionados à pista de alimentação;
(3) tapetes resfriados utilizando recirculadores de água, enterrados a 10 cm na cama de areia, ligados a 18,9°C e, linha de aspersão e ventiladores na linha de cocho em temperaturas acima de 30°C, de forma semelhante ao tratamento base e
(4) ductos que direcionam jatos de ar resfriado para as vacas, tanto na linha de cocho como nas camas ligados a 22,2°C e, acima de 30°C semelhante ao tratamento 2.
Ao avaliar parâmetros fisiológicos, o tratamento que tinha tapetes resfriados teve maior número de movimentos respiratórios por minuto nos horários de aumento de temperatura e índice temperatura e umidade (THI), além de tendência a maior temperatura corpórea nos horário que não tinham resfriamento suplementar, o que indica que somente os tapetes são insuficientes para mitigar o calor. Sendo este o tratamento que mais utilizou água e energia e ainda, mostrou-se ineficiente em relação ao tratamento base – pois a cama de areia oferece normalmente uma troca de calor eficiente e, além disso, as vacas passam menos tempo deitadas quando aumenta a temperatura do ar, o que implica que essa forma de minimizar o calor é limitada pelo comportamento dos animais.
O tratamento 3, constituído por tapetes resfriados sob a cama, mostrou-se o menos eficiente no uso de energia devido à necessidade de dois resfriadores evaporativos. Dentre os quatro tratamentos, o tratamento base otimizado (2) foi o mais eficiente em uso de água e energia, inclusive em temperaturas superiores a 30°C, proporcionando os mesmos parâmetros fisiológicos do tratamento base, mostrando-se uma forma promissora de resfriar vacas, como demonstrado na tabela abaixo.
Foi observado neste mesmo estudo que no horário da manhã, comumente mais fresco, 90% do tempo que os animais passam na pista de alimentação é comendo, enquanto em períodos mais quentes do dia, como à tarde, apenas 40-70% desse tempo é gasto se alimentando, como mostram os gráficos abaixo. Estes resultados sugerem que os animais em períodos quentes do dia priorizam utilizar a área para resfriar-se ao invés de comer, o que pode impactar em menor tempo de alimentação quando são submetidos a estresse térmico e, com isso, menor produção de leite.
Figura 1. (a) tempo gasto próximo à área de alimentação e (b) tempo gasto alimentando-se (%h) quando está na pista de alimentação em resposta ao tratamento de redução de calor. Média por hora da temperatura do ar (TA, °C) apresentado no eixo secundário.
Em suma, há possibilidade de proporcionar conforto térmico aos animais com menor uso de água e energia ao utilizar ciclos mais curtos de aspersão aliado a ventilação adequada, como foi demonstrado no tratamento otimizado (2). Essa é uma oportunidade para o Brasil que, por possuir clima tropical em grande parte de sua extensão, precisa resfriar seus animais para conseguir resultados satisfatórios em produção e reprodução, com o menor custo possível e em propriedades onde a água é um fator limitante. No entanto, é preciso alertar que em áreas de maior umidade relativa do ar, o sistema de ventilação é de extrema importância no resfriamento dos animais e a aspersão deve ser avaliada.
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Referências Bibliográficas
DRWENCKE, Alycia M. et al. 2019. Innovative cooling strategies: dairy cow responses and water and energy use. J. Dairy Sci., 103:5440-5454. https://dx.doi.org/10.3168/jds.2019-17351
MCART, Jessica A.A.; DIVERS, Thomas J.; PEEK, Simon F. Diseases of Body Sistems: Heat Stroke and Heat Stress. In: REBHUN'S Diseases of Dairy Cattle. 3. ed. St. Louis, Missouri: Elsevier, 2018. cap. 16, p. 771-773.
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