ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Como é possível obter um leite de qualidade em compost barn?

POR KARISE FERNANDA NOGARA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/02/2021

6 MIN DE LEITURA

1
16

Atualizado em 10/02/2021

É possível obter um leite de qualidade em compost barn? A resposta é sim, como em qualquer outro sistema de produção, tanto confinado como a pasto. A diferença está entre o manejo e cuidados individuais de cada instalação.

A cadeia de lácteos vem sofrendo cada vez mais transformações buscando aprimorar a qualidade dos produtos. Com a Instrução Normativa nº 76, de 26 de Novembro de 2018, os regulamentos técnicos sobre a identidade e características de qualidade do leite sofreram algumas mudanças, com a inclusão de algumas restrições.

Dentre as principais alterações, devemos dar uma atenção especial a Contagem Padrão em Placas (CBT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS). Para estes parâmetros é necessário que a média geométrica trimestral respeite o limite de 300.000 UFC/mL e 500.000 céls/mL, respectivamente para o produtor não correr perigo de ter a coleta do leite suspensa em sua propriedade.

Caso isto aconteça, o produtor juntamente com a empresa que capta o leite devem trabalhar em conjunto, buscando implementar medidas corretivas sobre o problema e preventivas de manejo e higiene, buscando atingir pelo menos uma amostra dentro do padrão para sua coleta ser retomada.  

E é possível obter um leite de qualidade em compost barn? A resposta é sim, como em qualquer outro sistema de produção, tanto confinado como a pasto. A diferença está entre o manejo e cuidados individuais de cada instalação.

A implantação do compost no Brasil vem expandindo, justamente pela maior contribuição do sistema quanto a sanidade e o bem-estar animal, e consequentemente na produção de leite.

Isto deve-se as suas características: um galpão com área de descanso biologicamente ativo, onde os animais ficam abrigados dos intempéries climáticos, podem expressar melhor seu comportamento natural (correr, pular, deitar e caminhar livremente) e encontram-se livres para ir até a pista de alimentação e bebedouros quando bem desejarem, além do sistema de ventilação operante que auxilia na dissipação do calor dos animais.

Também, vale salientar que para pequenos produtores e aqueles de mão-de-obra familiar, o compost vem a somar, pois a necessidade de área para a produção de leite é menor quanto comparado com a necessidade de área para a implantação de pastagens. Uma alternativa é o produtor destinar esta área para a produção de alimentos conservados para os animais, como silagem e feno. 

Figura 1: Cama da instalação visivelmente solta e macia.

Mas assim como em toda atividade e sistema, o compost barn tem suas particularidades, dentre elas encontra-se a cama onde os animais permanecem. Geralmente são utilizados materiais como serragem e maravalha para a sua cobertura.

Estes materiais quando em contato com a urina e as fezes dos animais favorecem a formação de um composto biológico, com atividade bacteriana, a qual é capaz de degradar estes resíduos e como consequência a produção de calor, fazendo com que a cama permanece seca e solta. E aí está o grande segredo do compost: a cama e seu manejo.

Os tetos das vacas ficam expostas aos patógenos quando as mesmas deitam sobre a superfície da cama. E por este motivo, é tão importante que o revolvimento da mesma seja realizado pelo menos duas vezes ao dia, facilitando a incorporação de materiais úmidos nas camadas mais profundas e trazendo o material fresco e seco para a superfície. 

Figura 2: Cama do compost após o revolvimento.

Conforme estudo de Zdanowicz et al. (2004), a contagem bacteriana verificada na extremidade do teto correlaciona-se com a contagem bacteriana do material da cama, como no caso, a serragem. As mais numerosas populações bacterianas verificadas são de Coliformes e Klebsiella spp.

Estas bactérias são gram-negativas, porém a Escherichia coli (E. coli) é um coliforme que causa mastite clínica ambiental e a Klebsiella é um agente contagioso que também causa mastite clínica, provocando assim reduções na produção de leite. Mas uma boa notícia é que quando o agente causador da mastite contagiosa é a Klebsiella, a cura espontânea chega a 60%. 

Para os produtores adeptos do sistema compost barn este é um problema o qual deve ser enfrentado e gerenciado, buscando soluções para que a cama não seja um vilão da atividade leiteira.

Para isso alguns cuidados de manejo e higiene são necessários no momento da ordenha e secagem das vacas, para evitar que esta carga bacteriana presente na cama e consequentemente na extremidade do teto passe para o tanque de refrigeração a granel, contribuindo para o aumento da CBT.

Em seguida são levantados alguns pontos importantes para minimizar a ação destes patógenos sobre a qualidade do leite:

  • É importantíssimo prezar pelos procedimentos antes da ordenha, ou seja, a utilização de pré-dipping ou espuma para remover as sujidades presentes na pele e na ponta do teto;
  • Utilizar papel toalha para a limpeza dos tetos (não reutilizar a mesma toalha para diferentes vacas);
  • Retirada dos três primeiros jatos antes da ordenha para descarte do leite presente no canal do teto, o qual apresenta maior carga bacteriana, e também auxiliar na descida do leite; 
  • A higiene do ordenhador também é um fator importante, por isso indica-se manter as mãos sempre bem limpas e/ou utilizar luvas;
  • Pós-dipping para agir como uma barreira após a ordenha até o canal do teto fechar novamente;
  • A máquina de ordenha deve estar funcionamento em boas condições (exemplo: conjunto de teteiras com troca periódica);
  • No momento da secagem das vacas utilizar selantes visando a proteção durante o período seco;
  • Uma ação preventiva para agentes ambientais é a vacinação contra E. coli ou Streptococcus uberis;
  • Para aquelas vacas que já apresentam algum indício de mastite é aconselhável realizar a terapia de vaca seca, com antibióticos.
  • Fazer linha de ordenha, ou seja, aquelas vacas com alta CCS devem ser ordenhadas por último. E quando houver casos de mastite crônica no rebanho é importante segregar estas vacas e retira-las do rebanho, visando contaminar as vacas sadias. 

Também devemos considerar que é ideal manter a pista de alimentação sempre limpa, evitando que pés e jarretes das vacas fiquem imersos sobre os dejetos. Se isto acontecer, no momento em que a vaca deitar estes dejetos vão ao encontro do úbere e tetos, contribuindo para a sujidade e contaminação desses locais.

Outro problema é se a umidade da cama estiver muito alta, com baixa taxa de secagem, fazendo com que torrões sejam formados. Essa umidade da cama também contribui para que mais patógenos entrem em contato com a glândula mamária. 

Neste sentido, para evitar que a deposição de dejetos (urina e fezes) na cama seja maior do que a capacidade de degradação pelas bactérias é necessário o ajuste da lotação na instalação. Sempre deve-se prezar por um ambiente arejado, limpo e seco tanto para as vacas em lactação, como para as vacas secas, vacas no pré-parto e novilhas.

Estas dicas podem ser aplicadas em qualquer propriedade, independente do sistema utilizado. Porém, fica claro que em compost barn a exposição a estes patógenos através da cama é mais evidente e o cuidado deve ser redobrado. Não são procedimentos difíceis de fazer, mas exigem uma rotina para que os resultados sejam satisfatórios.

 

Referências
Instrução Normativa nº 76, de 26 de novembro de 2018. Brasília: Diário Oficial da União 1, 9-10

ZDANOWICZ, M.; SHELFORD, J. A.; TUCKER, C. B.; WEARY, D. M.; VON KEYSERLINGK, M. A. G. Bacterial populations on teat ends of dairy cows housed in free stalls and bedded with either sand or sawdust. Journal of Dairy Science, v. 87, n. 6, p. 1694–1701, 2004. Elsevier. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(04)73322-6>. 

 Leso, L., M. Barbari, M. A. Lopes, F. A. Damasceno, P. Galama, J. L. Taraba and A. Kuipers. 2020. Invited review: Compost-bedded pack barns for dairy cows. J Dairy Sci 103:1072–1099.  

KARISE FERNANDA NOGARA

Zootecnista formada pela UFSM/campus Palmeira das Missões/RS. Atualmente mestranda do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Paraná. Trabalha com a qualidade e composição do leite e sistema de confinamento compost barn.

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

JOSÉ APARECIDO ANDRADE

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 23/02/2021

Muito bom!

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures