O bem-estar animal não é uma ciência nova, porém sua popularidade cresceu recentemente. E se engana quem acredita que as condições às quais os animais estão submetidos geram ganhos somente para eles. Este é um conceito que possui ligação direta com a rentabilidade, qualidade de trabalho e vida dos trabalhadores rurais e maior produtividade dos animais.
Essa foi a temática do 5º painel do Feras da Rentabilidade, que abordou o bem-estar animal. Como comentado pela Profa. Dra. Lívia Magalhães, da FAZU, pode ser difícil quantificar em Reais (R$) o custo gerado para promover qualidade de vida aos animais, mas as consequentes vantagens são claras: melhor ambiente de trabalho para os colaboradores, melhor produtividade, melhor rentabilidade, além de atender à preocupação dos consumidores com essa temática e gerar grande diminuição do custo de produção e das perdas.
Sentimentos como medo, dor e incômodo com barulho e calor, presentes de forma intensa em animais que não estão em bem-estar, estimulam a produção de cortisol pela glândula adrenal. Este hormônio, conhecido como hormônio do estresse, impacta negativamente a liberação de outros hormônios, como a ocitocina, responsável pela descida do leite, e os hormônios folículo estimulantes (FSH) e o liberador de gonadotrofina (GnRH), responsáveis pelo crescimento folicular nos ovários e posterior ovulação. Ou seja, animais que não estão em bem-estar animal possuem menor desempenho e produtividade.
“A gente do leite é muito focado no ‘quantos litros de leite eu estou colocando no tanque?’ [...]. Mas e aquele leite que não chega no tanque? E aquele leite que ficou perdido nos processos quando uma bezerra morreu, quando uma vaca sofreu de estresse térmico… Muitas vezes essa perda não é considerada dentro da nossa conta”, disse Dra. Lívia.
Para não perder estes litros de leite durante o processo, a promoção de conforto é essencial, e ela tem grande relação com o sistema de produção. Assim como qualquer outra tecnologia, o sistema a ser escolhido deve ser avaliado pensando no animal que está na fazenda e nos manejos realizados no seu dia a dia.
“Em nenhum momento, em nenhuma fala, pode ficar entendido que a instalação por si só é capaz de promover o bem-estar dos animais. Não é. ‘Qual a melhor instalação que promova o melhor bem estar dos animais?’ Não tem. O que vai promover o bem estar animal são os elementos, o que aquela instalação vai oferecer para o animal: vai oferecer uma cama confortável, um local confortável para ela descansar? Vai fornecer um local sombreado ou com boa refrigeração? Esses são os elementos que de fato vão afetar o conforto do animal e não só o ambiente físico” alerta Dra. Lívia.
Uma das possibilidades de instalação para sistema intensivo é o Compost Barn, que completou 10 anos do primeiro barracão no Brasil. Dr. Adriano Seddon, Médico Veterinário e criador deste primeiro galpão Compost Barn no país, também foi palestrante do evento. Durante sua palestra mostrou dados de uma fazenda localizada em Bom Despacho, Minas Gerais, que trabalha com com Girolando e adotou esta acomodação. Nela, foi possível observar um ganho médio de 7 litros de produção de leite por vaca por dia durante o primeiro ano com esta instalação.
Porém, é importante se atentar aos possíveis erros no manejo do Compost Barn para poder usufruir de todo o potencial da instalação. Lívia deu atenção aos erros mais comuns: a frequência de reviragem da cama, tempo que os ventiladores ficam ligados (importantes não somente para o conforto térmico dos animais, mas principalmente para manutenção da umidade da cama), erros no planejamento da instalação gerando falhas e alimentação dos animais dentro do composto. “Ele é um ótimo projeto quando bem executado, mas ele precisa de cuidados, precisa de detalhamento, ele precisa estar bem planejado”, ressalta Dra. Lívia.
A longevidade também é um ponto importantíssimo abordado por Adriano. O especialista apontou que não há equivalência entre o preço de uma vaca de descarte e o de uma novilha, gerando a perda de capital quando há alta taxa de descarte no rebanho. Além disso, apontou que animais mais velhos produzem mais leite e que, idealmente, se a genética não faz mais sentido para o seu rebanho, os animais deveriam ser vendidos para outros produtores, e não para o descarte.
Dito isso, fica evidente a importância de dar a devida atenção à saúde dos cascos, fator diretamente relacionado à longevidade do rebanho. Um exemplo é o tamanho, material e qualidade das camas, seja em free stall ou em compost barn, pois quanto maior o tempo que as vacas passam deitadas, menor a taxa de claudicação, e maior a produção de leite. Para isso, é necessário que elas se sintam confortáveis nas camas.
As razões mais frequentes que levam ao descarte de vacas são a diminuição da produção de leite e taxas insatisfatórias de concepção, variáveis nas quais o estresse térmico tem uma influência negativa importante.
De forma prática, Lívia auxilia a entender quando os animais estão sofrendo por estresse térmico através de alguns sinais apresentados. Os principais indicadores são: busca por sombra, taxa respiratória elevada, aumento na ingestão de água, redução no consumo de alimentos e queda na produção leiteira.
Uma vaca leiteira em estresse térmico produz uma quantidade de leite que pode ser suficiente para pagar sua alimentação, porém se for fornecido a esse animal conforto térmico, a produção aumentará enquanto o custo com a nutrição será mantido. Ou seja, haverá aumento de escala de produção, aumento da eficiência econômica e alimentar e aumento da margem de lucro da atividade.
É bastante evidente a perda do potencial dos animais quando são mantidos em estresse térmico. Investimentos direcionados a diminuição do estresse e promoção de conforto térmico, como sombra e refrescamento, são pagos no primeiro ou segundo ano após sua implementação, tamanho o impacto das altas temperaturas na diminuição da produção de leite.
Lívia também chamou atenção para uma frase dita pela Temple Grandin, zootecnista e psicóloga estadunidense especialista em bem-estar animal: “as coisas ruins se tornam normais”. Ela quer dizer que, após observar diversas vezes vacas apresentando certos comportamentos, eles podem passar a ser entendidos como normais mesmo que, na realidade, indiquem problemas. Um exemplo é quando as vacas entram na água e ficam. É normal, pela característica curiosa das vacas, elas entrarem na água caso tenham acesso, porém saírem em seguida. Se elas permanecerem dentro d’água, é um indicativo importante de que ela está buscando formas mais eficientes de perder calor.
“Naturalmente uma vaca não gosta de deitar na lama ou no barro. Se ela está lá, ou ela não tem alternativa, ou está arrumando uma forma de perder mais calor para o ambiente. Tem algumas regiões, principalmente no Sudeste, que tem um verão úmido. Essa condição traz oportunidade de gerar lama, a vaca sentir calor e ela vai se refrescar nessa lama para tentar perder calor por conta do estresse térmico que está passando”, diz Lívia.
É importante evidenciar, por fim, que não há uma única forma de produzir corretamente. A produção leiteira é complexa e possui diversos fatores a serem considerados no momento de decisão de qual sistema de produção utilizar e quais elementos serão importantes para garantir uma produção de leite adequada quantitativa e qualitativamente, gerando rentabilidade para a fazenda, proporcionando maior escala de produção e aumentando o sucesso e manutenção na atividade leiteira através de melhores condições de vida para os animais.
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