Autoras do artigo*
Elsa Helena Walter de Santana, da UNOPAR
Rosana De Longhi, da UNOPAR
A mastite subclínica é uma grande preocupação dos produtores de leite, pois é silenciosa e acomete a produção leiteira da fazenda. Alguns testes indiretos para a sua detecção podem ser utilizados como a contagem do número de células somáticas (CCS), California Mastitis Test (CMT) e o medidor de condutividade elétrica (CE) (Figura 1).
As células somáticas do leite são constituídas por células de defesa e células do epitélio da glândula mamária. A contagem do número células somáticas (CCS) indica o grau de infecção da glândula mamária, porém depende totalmente de procedimentos laboratoriais. Uma glândula mamária considerada saudável apresenta CCS inferior a 100.000 células /mL, porém este valor pode variar ao longo da ordenha onde os primeiros jatos (leite residual) e os últimos apresentam grande número de células somáticas. Quando o úbere é saudável, as diferenças de CCS entre as frações são menores.
O teste do CMT é largamente utilizado para determinar o status da doença do animal em lactação. A solução do CMT, a base de um detergente adicionado a um indicador de pH, reage com o material do núcleo de células somáticas presente no leite formando um gel e estima a CCSs presentes. A reação é avaliada por score (zero a 3) e interpretada de acordo com a intensidade de gel formado, o que torna o teste muitas vezes subjetivo.
A CE, que em leite é determinada por equipamento que mede a habilidade de uma solução em conduzir corrente elétrica entre dois eletrodos, é outra alternativa na detecção da mastite subclínica. Em um animal saudável a condutividade elétrica pode variar entre 4 a 5,5 mS/cm a 25°C e o aumento deste índice é proporcional ao aumento da CCS. Em vacas com mastite ocorre um aumento na concentração dos íons sódio e uma diminuição na concentração do potássio e cloro no leite, alterando a CE. Outros fatores como temperatura do leite, estágio de lactação, porcentagem de gordura, intervalo entre ordenhas e raça podem também influenciar os valores da CE.
Com a intenção de realizar um diagnóstico precoce da mastite subclínica e colaborar com os produtores de leite para o manejo adequado dos animais, um estudo realizado pelo Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia do Leite da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), avaliou a eficiência de diagnóstico de mastite por condutividade elétrica utilizando medidor portátil.
Nesta pesquisa foram avaliados 941 quartos mamários de 259 vacas da raça Holandesa e Jersey em 4 propriedades leiteiras do norte do Paraná. Após o desprezo dos três primeiros jatos, o leite foi avaliado para diagnóstico de mastite subclínica por aparelho medidor de CE, pelo teste de CMT e CCS. Para esta última análise foram coletadas amostras individuais por tetos e por úbere.
O equipamento de CE utilizado no estudo indica a diferença da condutividade elétrica (miliSiemens por centímetro - mS/cm) calculado por um sistema chamado inter quarter ratio (IQR), que é baseado no valor entre o quarto com menor condutividade e os outros quartos da mesma vaca. A partir dos resultados obtidos na medição por tetos pode-se determinar a possibilidade do animal estar com mastite subclínica pela combinação da informação entre o valor absoluto (CEA) encontrado e o valor diferencial (CED) entre os tetos (Tabela 1).
Tabela 1. Interpretação dos valores de condutividade elétrica absoluta(CEA) e condutividade elétrica diferencial (CED) em leite.
Segundo os autores, das 941 amostras de leite de cada teto avaliado, 445 (47,2%) foram positivas pelo equipamento de CE (CED > 0,5 mS/cm) e 496 (52,8%) foram negativos pelo teste. Das amostras consideradas positivas pelo equipamento, 19,9% tiveram score 0 para CMT e foram classificadas como falso positivas, enquanto que 25,3% das amostras classificadas como leite normal pela CE, apresentaram scores 1,2 e 3 para CMT, indicando resultados falso negativos. Dessa forma o estudo considerou que 54,8% das amostras foram avaliadas corretamente pelo medidor de CE, quando comparado com o CMT.
Quando o estudo comparou os resultados obtidos de CE com a CCS, concluíram que 35,1% das amostras foram avaliadas de forma correta pelo medidor de CE. Considerando que as amostras de leite com CCS menor que 100,000 cel/ml são provenientes de animais saudáveis, o equipamento de CE diagnosticou 44,3% das amostras como positivas e 16,8% como negativas. Quando a CCS foi maior que 100,000 cel/ml, 20,6% das amostras deste estudo foram classificadas como provenientes de animais saudáveis pelo equipamento de CE e 18,3% foram diagnosticadas como leite de animais com mastite subclínica.
O estudo concluiu que a correlação entre CE e os testes de rotina (CCS e CMT) foi positiva, porém baixa, o que segundo os autores ainda mantém o teste do CMT como uma alternativa mais barata, mais acessível e eficiente para os produtores de leite do país.
Quer saber mais sobre esta pesquisa? O artigo “Evaluation of an electrical conductivity portable device as an alternative for subclinical mastitis detection” foi publicado na Revista Salud Animal (volume 37, nº2, p. 131-135) em 2016 e está disponível pelo link https://scielo.sld.cu/pdf/rsa/v38n2/rsa09216.pdf.
Figura 1 - Metodologias para determinação de mastite subclínica: Contagem de Células Somáticas (A), California Mastitis Test (B) e Condutividade Elétrica (C).