Renata de Oliveira Souza Dias
O protozoário Neospora sp. constitui uma das mais novas causas de aborto e problemas congênitos em bovinos. A neosporose já é a causa mais comum de aborto em várias fazendas em todo o mundo.
A Neospora sp. foi inicialmente identificada como um Toxoplasma, protozoário causador de encefalomielite em cães. Mais tarde, em 1991, foi isolada a primeira Neospora sp. em um bovino, sendo obtida de um feto abortado.
A espécie que determina os problemas reprodutivos em bovinos ainda não foi determinada, sendo chamada de forma generalizada Neospora sp. Entretanto, alguns trabalhos já citam a Neospora caninum como a espécie determinante de abortos em bovinos.
Desde 1987, tem sido diagnosticado a ocorrência da Neospora sp. ocasionando abortos em bovinos em diversos países, tais como USA, Canadá, México, Inglaterra, Austrália, Israel, Nova Zelândia, Japão, África do Sul, entre outros.
Patogenia
Até o momento, a única rota confirmada de sua patogenia é via transplacentária. A vaca infectada contamina o feto através da placenta. Como a vaca pode ter sido contaminada, ainda não foi determinado ao certo; entretanto, suspeita-se que haja a ingestão do oocisto advindo das fezes de cães ou gatos contaminados. Infelizmente, qualquer afirmativa feita neste sentido ainda é uma especulação. A pesquisa tenta identificar qual seria o hospedeiro definitivo deste parasita e, quando este hospedeiro for determinado, grandes avanços poderão ser feitos no campo da prevenção e controle da doença.
Aspectos Clínicos
A grande maioria dos abortos causados pela Neospora sp. ocorre após o quarto mês de gestação.
A doença ocorre em gado de corte e leite, sendo mais comum em gado de leite confinado. Suspeita-se que o armazenamento dos ingredientes da dieta na forma de baias abertas propicia a contaminação do alimento devido à facilidade de animais, tais como cachorros e gatos, defecarem próximo ao alimento. Os abortos causados pela Neospora sp. estão distribuídos durante todo o ano, mas a incidência aumenta na época das chuvas.
Durante um ano, todos os fetos abortados recolhidos de 26 fazendas da Califórnia (EUA) foram submetidos ao diagnóstico de neosporose. De um total de 266 fetos, em 113 (42,5%) foi diagnosticada a doença. Além de aborto, fetos mumificados também podem estar associados com a ocorrência deste parasita.
Muitos bezerros filhos de vacas infectadas podem nascer clinicamente normais mas, posteriormente, podem apresentar anormalidades neurológicas congênitas. É possível, ainda, ocorrer a morte de neonatos devido a problemas cardíacos pois a Neospora sp. causa lesões no miocárdio.
Os animais infectados que nascem, crescem normais e tornam-se novilhas, mantêm a doença no rebanho, e são potenciais candidatos a abortos .
Diagnóstico
O teste de ELISA (Mastazym tem sido utilizado como rotina para diagnosticar a Neospora sp. Este teste é rápido, tem menor custo que os demais, alta sensibilidade (88,6%) e especificidade (96,5%). Além de diagnosticar abortos, este teste tem sido usado para estimar a soroprevalência de rebanhos. Para isto deve-se coletar amostras de sangue das vacas cerca de 2 meses após o parto. Até o momento, não há testes para serem realizados diretamente no leite.
Outra alternativa para a confirmação de uma suspeita de Neospora sp. é enviar para o laboratório, no caso de aborto, o feto e a placenta, sempre que possível. Exames histológicos irão identificar lesões no cérebro e coração.
Controle e prevenção
Até o momento não há método de tratamento ou prevenção para esta doença. A recomendação tem sido o abate, já que animais que apresentaram abortos por Neospora podem ter outros abortos ou parirem animais com defeitos congênitos. Entretanto, esta decisão é muito complexa, uma vez que não foi comprovado que um animal acometido contamine os demais do rebanho. Sabe-se apenas da contaminação vertical (mãe/feto).
Nos EUA, como a compra de novilhas para reposição é muito comum, a tendência é haver no futuro um certificado de Rebanho Livre de Neospora, possibilitando assim uma maior segurança no programa de reposição.
Uma recomendação prudente é eliminar fetos abortados e placentas do ambiente, os quais podem ser fontes de infecção para o hospedeiro da doença. Além disso, deve-se evitar o contato de pequenos animais, principalmente cachorros, com os ingredientes da dieta dos bovinos e com cochos d´água.
Por fim, a existência de animais domésticos juntamente com rebanhos leiteiros pode ser uma causa de aborto nas fazendas, uma vez que ainda não há preocupação crescente neste sentido.
********
fonte: Irish Veterinary Journal, Março / 2000