Estudos comprovam que o crescimento de bezerras e o ganho de peso no período de aleitamento podem ser melhorados quando os animais são alimentados com maiores quantidades de dieta líquida durante este período. Além disso, maiores taxas de crescimento durante os primeiros estágios da vida do animal podem ser mais rentáveis e compensar o investimento, por resultar em animais maiores para o período de crescimento pós-desaleitamento. Assim, o período de aleitamento é uma fase de extrema importância na vida do bezerro, não só com relação a maiores taxas de ganho e redução nas taxas de mortalidade, como também no que diz respeito à produção futura.
Baseado nisto, pesquisadores da Universidade de Michigan realizaram estudos com o fornecimento de sucedâneos com maior teor de energia e proteína, objetivando-se maiores taxas de ganho de peso durante o período de aleitamento, com o objetivo de avaliar em longo prazo o crescimento corporal, idade a puberdade, idade a parição e produção de leite na 1ª lactação.
Os animais foram divididos em 2 tratamentos:
1)Controle: Sucedâneo com 21,5% de gordura e 21,5% de proteína (1,2% do peso vivo, fornecido com base na MS) e ração concentrada com 19,9% de PB.
2)Intensivo: Sucedâneo com 16,1% de gordura e 30,6% de proteína (2,1% do peso vivo, fornecido com base na MS) e ração concentrada com 24,3% de PB.
Neste estudo foram utilizadas 80 fêmeas da raça Holandês, alojadas em abrigos individuais, por um período de 56 dias (o desaleitamento ocorreu aos 42 dias), com livre acesso à água e ração concentrada. Os animais foram avaliados semanalmente quanto ao peso e medidas corporais, assim como consumo de concentrado. Após os 42 dias de idade os animais foram desaleitados e mantidos por mais duas semanas nos abrigos individuais para estimular o consumo de concentrado.
O consumo de matéria seca foi maior pelos animais do tratamento intensivo, até os 42 dias, resultado do maior fornecimento de sucedâneo, muito embora tenham apresentado baixo consumo de concentrado. No entanto, no período subsequente, do 42º ao 56º dia, o consumo de concentrado foi similar entre os tratamentos.
Tabela 1. Ingestão de matéria seca (IMS) por bezerros em aleitamento intensivo ou controle.
1 Média de ingestão diária de sucedâneo 0,51; 0,55; 0,59; 0,60; 0,63 e 0,64 kg para as semanas 2,3,4,5 e 6 respectivamente.
2 Média de ingestão diária de sucedâneo 0,69; 0,93; 1,09; 1,17; 1,20 e 0,89 kg para as semanas 2,3,4,5 e 6 respectivamente.
O ganho de peso médio diário foi maior para os animais do tratamento intensivo até a 5ª semana, porém os animais do controle ganharam mais peso durante as semanas 6 e 7, sugerindo que estes animais tiveram um crescimento mais eficiente durante este período (Figura 1). Entretanto os animais do tratamento intensivo permaneceram mais pesados e mais altos durante todo o período avaliado (8 semanas), conforme pode ser observado nas Figuras 2 e 3. O aumento na ingestão de energia e proteína por animais do aleitamento intensivo resultou em animais mais pesados e maiores, entretanto estes animais consumiram menor quantidade de concentrado durante a fase de aleitamento, o que pode ter resultado em um desenvolvimento mais lento do rúmen e um crescimento menos eficiente no pós-desaleitamento.
Figura 1. Ganho de peso de animais em aleitamento convencional ou intensivo.
Figura 2. Peso vivo (PV) de bezerros em aleitamento convencional ou intensivo.
Figura 3. Altura da cernelha de bezerros em aleitamento convencional ou intensivo.
O escore fecal dos animais foi monitorado diariamente (1= firme e seca; 2= macia; 3= pastosa; 4= aquosa; 5= consistência líquida) e os animais do tratamento intensivo permaneceram cerca de 4,04 dias com fezes de escore médio de 3,21 enquanto os animais do tratamento controle permaneceram cerca de 2,79 dias com fezes de escore médio de 3,01. Assim, os animais aleitados com maiores quantidades de dieta líquida, contendo também maiores teores de proteína bruta, apresentaram fezes mais fluídas, o que em alguns sistemas poderia resultar em aumento no custo com tratamentos.
Concluindo a primeira parte do trabalho, o fornecimento de dietas com alta energia e proteína proporcionou melhor desempenho. Com isso, espera-se que o aleitamento intensivo proporcione benefícios produtivos e reprodutivos na vida futura dos animais.
Referência:
L. E. D. Rincker, M. J. VandeHaar, C. A. Wolf, J. S. Liesman, L. T. Chapin, M. S. W. Nielsen. Effect of intensified feeding of heifer calves on growth, pubertal age, calving age, milk yield, and economics. Journal of Dairy Science, n.94, p.3554-3567, 2011.
Comentários
Já não existem mais dúvidas quanto aos benefícios do maior investimento em dieta líquida para se obter animais mais pesados ao desaleitamento. Muito embora ainda não tenhamos no mercado nacional sucedâneos com maiores teores de proteína bruta, já observamos tendência de fornecimento de maiores volumes de dieta líquida para estes animais. Em algumas situações, no entanto, observam-se animais com menores taxas de ganho no período subseqüente, devido ao inadequado manejo ao desaleitamento. Animais em sistema de aleitamento intensivo podem apresentar baixo consumo de concentrado no momento do desaleitamento de forma que sua menor taxa de ganho neste período pode fazer com que a vantagem de se desaleitar animais mais pesados seja perdida neste momento devido ao baixo consumo de concentrado.
No próximo radar vamos tratar da segunda parte deste interessante trabalho de pesquisa, onde são abordados os efeitos na idade a puberdade, idade ao primeiro parto, produção de leite e, o mais importante, aspectos econômicos do aleitamento intensivo. Fique atento e boas festas!