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Utilização do refratômetro para avaliar a qualidade do colostro bovino

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E GLAUBER DOS SANTOS

CARLA BITTAR

EM 25/03/2013

7 MIN DE LEITURA

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Na intenção de reduzir as falhas no processo de transferência de imunidade passiva aos bezerros recém-nascidos, é necessário fornecer grande quantidade de imunoglobulinas (Ig) via colostro, auxiliando na proteção do bezerro contra microrganismos até que seu próprio sistema imune se torne funcional. Para que não ocorra falha neste processo três fatores são primordiais: a concentração de imunoglobulinas no colostro; o volume de colostro fornecido ao neonato; e o tempo de vida em que o bezerro recebe a primeira refeição.

A concentração de imunoglobulina G (IgG) no colostro materno tem efeito direto na transferência de imunidade passiva, porém essa concentração é muito variável em função de raça, temperatura, estação do ano, praticas de manejo, etc. Isto torna restrita as ferramentas de manejo para diagnosticar a concentração de IgG do colostro na própria fazenda de maneira rápida e barata. Em 2007, foi realizado um levantamento entre os produtores de leite nos Estados Unidos concluindo-se que somente 13% destes produtores avaliam rotineiramente a qualidade do colostro materno, e desses, 56% utilizam uma análise visual da qualidade, o que é passível de erro. O colostrômetro, instrumento que avalia a qualidade do colostro através de sua gravidade específica, tem sido utilizado como prática de manejo em algumas propriedades. Entretanto, pesquisas têm mostrado que embora este método seja rápido e barato, sofre influência da temperatura, raça e estação do ano (Morin et al., 2001).

A avaliação da qualidade do colostro através de medidas de Brix de refratômetro, método que pode ser realizado de maneira rápida e dentro da própria fazenda, tem sido bastante adotada. Este aparelho é comumente utilizado para avaliar o teor de sacarose (Brix) da cana-de-açúcar, laranja, uva, etc., e quando utilizado em fluido que não contém sacarose, faz uma estimativa da porcentagem de sólidos totais do conteúdo. Outros métodos laboratoriais também podem ser utilizados para avaliar a qualidade do colostro, como a Imunodifusão Radial (RID) e o Imunoensaio Turbidimétrico (TIA). A RID é um processo demorado, caro e também passível de erro nas análises. Já a TIA apresenta um menor custo e é um método mais rápido. Na intenção de correlacionar métodos de análises da concentração de IgG, realizados em laboratórios, com métodos práticos passíveis de serem realizados na própria fazenda, foi realizado um estudo com o objetivo de comparar o uso do refratômetro com os métodos RID e TIA.

Vacas holandesas de 7 propriedades leiteiras, variando de 100 a 1.000 vacas, participaram desta investigação, entre os meses de junho a agosto de 2011. Duas amostras de colostro de 30 mL foram coletadas de todos os animais que pariram neste período, sendo o tempo médio de coleta do colostro de 6,1± 5,6 h pós parto. As amostras foram congeladas e enviadas para laboratório para determinação de cultura bacteriana e de IgG (Tabela 1).

Tabela 1 – Análise descritiva das amostras de colostro utilizadas no estudo.



A média de IgG (medida pelo RID) do colostro de primeira ordenha foi de 73,4 g/L, variando de 7,1 a 159,0 g/L, o que mostra a grande variação que existe na concentração de IgG em colostro de primeira ordenha. A distribuição de frequência da IgG do colostro medida pelo RID e TIA foram comparadas, e um grande número das amostras estavam entre 50 e 89 g/L, sendo que apenas 16% das observações estavam abaixo de 50 g/L de IgG. Dessas, as amostras medidas pelo RID estavam em menor quantidade (n=29), comparado a TIA (n=49). Com relação às amostras analisadas com o Brix, somente 13% apresentaram o valor de conteúdo de sólidos totais <21% (21% de Brix no refratômetro equivale a 50 g/L no método laboratorial de RID).

Foi encontrada uma relação altamente significativa entre a porcentagem do Brix com os resultados das análises de Imunodifusão Radial (RID) (Figura 1), com o r2 da regressão linear de 0,81. Outras pesquisas avaliando a relação entre IgG e Brix do colostro materno geralmente tem usado uma regressão linear, ignorando os efeitos de agrupamento de dados dentro de rebanho. Para efeito de comparação foi calculado o r2 desta mesma maneira (0,56), não ajustando para efeito aleatório de localização, ou seja, propriedade que o material foi coletado.

Figura 1 Relação entre Brix e concentração de IgG (pelo RID) de colostro de primeira ordenha de vacas Holandês (n=183). Y ajustado para efeito aleatório de local.

      

A análise de IgG pelo método TIA como variável dependente e Brix, também foi altamente significante (Figura 2). O r2 estimado do modelo para IgG e Brix foi 0,65., valor inferior ao observado na regressão de IgG pelo RID e sólidos totais do Brix (0,81), sugerindo uma relação linear menos significativa.

Figura 2 - Relação entre Brix e concentração de IgG (pelo TIA) de colostro de primeira ordenha de vacas Holandês (n=183). Y ajustado para efeito aleatório de local. 



Outros métodos tem sido utilizados para estimar a concentração de IgG do colostro materno como: volume de colostro produzido, cor do colostro materno e gravidade específica. O Colostrômetro é um densímetro amplamente utilizado, entretanto vários estudos reportaram um baixo r2 quando o IgG foi medido pelo RID e gravidade específica do colostro. O potencial da cor do colostro para estimar a concentração de IgG foi avaliado em colostro de primeira e segunda ordenha de cabras. Nestas amostras a concentração de IgG (medida pelo RID) variou de <1 a 42 g/L e o r2 da regressão linear entre IgG e cor foi de 0,70. No entanto, não foram ainda realizados estudos deste tipo com colostro bovino.

Com relação ao tempo entre o parto e a coleta do colostro, observa-se uma diminuição da concentração de IgG ao longo do tempo (Figura 3). Foi realizada uma regressão entre a concentração de IgG, medida pelo RID, e o tempo de coleta do colostro depois do parto. A Figura 3 indica que a concentração de IgG colostral começa a declinar quando o colostro é coletado, aproximadamente 8 horas pós-parto, entretanto, o autor ressalva que o objetivo principal do trabalho não foi esse, o que poderia causar algum efeito de confundimento.

Figura 3 – Concentração de IgG no colostro materno de primeira ordenha e tempo da coleta.

   

O método TIA como estimador de IgG em colostro bovino foi altamente correlacionado com o método RID, mas diferenças foram encontradas entre as técnicas, principalmente a quantidade de amostras com a concentração de IgG >50g/L. Pode ser que o conteúdo sólido não IgG, como gordura e proteína IgG, tenham interferido com a formação de complexos imunitários, o que causaria uma subestimação do conteúdo total de IgG na amostra. Outro ponto de interferência nas respostas, tanto do RID como TIA, para análise de colostro bovino, é que a maioria dos kits padrão comercial, são derivados de IgG sérica, a qual contém diferentes relações de IgG1:IgG2 comparado ao colostro materno. Essas diferenças nas subclasses podem causar quantificação errônea de IgG, mas a extensão na qual as análises podem ser afetadas por esses fatores ainda é desconhecida.

Neste estudo foi concluído que o refratômetro fornece uma aceitável estimativa de IgG do colostro bovino de primeira ordenha, graças a sua boa correlação com a IgG medida pelo método de Rádio Imunodifusão. Este seria um método barato, rápido e que requer o mínimo de equipamento e treinamento, podendo ser amplamente utilizado em campo para avaliação da qualidade de colostro e tomada de decisão de fornecimento ou armazenamento em banco de colostro. Recomenda-se que utilize colostro com mais de 21% de Brix, valor que equivale a um colostro com >50 g de IgG/L (medido pelo RID) e que o colostro seja coletado o mais rápido possível após o parto.

Referências bibliográficas

J. D. Quigley; A. Lago; C. Chapman; P. Erickson; J. Polo. Evaluation of the Brix refractometer to estimate immunoglobulin G concentration in bovine colostrum J. Dairy Sci. 96 :1148–1155.

Comentários

A utilização de métodos rápidos, práticos e principalmente de baixo custo para a avaliação da qualidade de colostro é de extrema importância para o sucesso da transferência de imunidade passiva. Embora muitos produtores realizem o fornecimento em volume e tempo após o nascimento dentro das recomendações, a baixa qualidade, em termos de concentração de IgG, tem sido responsáveis por falhas no processo de transferência de imunidade passiva. A utilização de refratômetro de medidas de Brix, assim como aqueles refratômetros de medidas de proteína, já tem ocorrido em várias propriedades para avaliação não só da qualidade do colostro, como também da avaliação do sucesso de transferência a partir de medidas no soro dos bezerros neonatos. O treinamento de pessoal para a realização do protocolo de colostragem é de suma importância e deve contar não somente com conceitos importantes como o volume de colostro fornecido ao neonato e o tempo de vida para o fornecimento, mas também da qualidade do colostro fornecido. Estes métodos também são eficientes no controle de qualidade de colostro que será (ou não) armazenado em banco de colostro para fornecimento futuro. O investimento em um refratômetro não é alto, mas seu retorno é elevadíssimo!










 

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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MURILO TORRES DE MELO PEDROSA

FORTALEZA - CEARÁ - ESTUDANTE

EM 14/07/2013

Dra Carla e Dr Glauber,



Em relação ao teste em si, tudo ok...mas e a amostra? Deve-se coletar após 24h à ingestão do colostro? Em caso de parto no final de semana e o funcionário de folga, tem como armazená-lo? Seria indicado esperar dessorar pra depois resfriar ou poderia resfriar o sangue e dessorar depois? Há alguma metodologia alternativa para casos pontuais como este?



Att.
NATÁLIA SOBREIRA BASQUEIRA

ARARAS - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 17/05/2013

Parabens pelo artigo , estou interessada em saber em que local do refratometro devo olhar para avaliar os ST e qual e o número ideal 13%? grata Natalia
GUSTAVO SALVATI

PIRACICABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/04/2013

Parabéns Glauber pelo artigo
MARCO ANTONIO COSTA

CAMPO BELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/04/2013

Bom dia,

Poderiamos utilizar para monitorar o nivel de proteina, gordura, CCS que é entregue ao laticinio como forma de acompanhar a bonificação que é paga por qualidade ?

Resumindo, como produtores de leite queremos saber na fazenda a qualidade do produto que vendemos.

Obrigado
PAULO CESAR DIAS THOMAZELLA

SOROCABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/03/2013

Parabéns pela matéria .Sou médico veterinário da Casa da Agricultura de Piedade e tenho o refratômero e gostaria de saber como é realizado esse procedimento pois atuo num projeto de atividade leiteira no município e gostaria de estar realizando está técnica para os produtores rurais.

Obrigado pela atenção

Paulo Thomazella

CRMV/SP 7548
MARIO SOSSELLA FILHO

CASCAVEL - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/03/2013

parabens pela reportagem
RENATO TÂNGARI DIB

GOIÂNIA - GOIÁS - ZOOTECNISTA

EM 25/03/2013

Parabéns pelo artigo.

Precisamos de metodologias simples, baratas e eficientes para nosso trabalho de campo.

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