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Transfusão de plasma como forma de corrigir a colostragem de bezerros

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MILAINE POCZYNEK

CARLA BITTAR

EM 24/02/2017

5 MIN DE LEITURA

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A transferência de imunidade passiva que ocorre através do consumo de colostro é determinante para a manutenção da saúde e consequentemente do desempenho dos bezerros. Isso por que o colostro é a principal fonte de imunoglobulinas (anticorpos) que os bezerros recebem, já que não ocorre transferência de anticorpos durante a gestação, devido a estrutura placentária da fêmea bovina. Entretanto, pelos mais diversos motivos, é comum que os bezerros tenham falhas na transferência de imunidade passiva (FTIP) como resultado do consumo inadequado de colostro, seja por volume, qualidade ou tempo. A FTIP faz com que os animais sejam mais susceptíveis a doenças até que o seu sistema imune esteja apto a enfrentar os desafios.

Em casos onde o bezerro não teve a correta ingestão de colostro, podendo resultar em FTIP, a transferência de imunidade pode ocorrer de maneira alternativa através da transfusão intravenosa de hemoderivados como o plasma. Esta prática ocorre de forma mais comum na espécie equina, mas ainda há muitas dúvidas nos bovinos com relação a concentração, dose utilizada e tempo de permanência na circulação.

Um estudo foi realizado por Boccardo et al. (2016) para avaliar a eficácia do plasma centrifugado em promover concentração sérica de IgG maior que 10 g/L em animais privados de colostro e quais os efeitos na mortalidade e morbidade dos animais. Os 12 animais do grupo controle receberam 4 litros de colostro de boa qualidade (Brix ≥ 22%) nas primeiras horas de vida. Um outro grupo de 12 animais recebeu a transfusão intravenosa de plasma fresco que foi congelado para armazenamento e descongelado no momento da transfusão. O plasma foi obtido através da coleta de sangue, seguida da centrifugação para obtenção do plasma de vacas sadias em período seco, do mesmo rebanho dos bezerros.

O cálculo da dose para atingir uma concentração de sérica de IgG de 10 g/L foi realizado para cada bezerro, utilizando a fórmula sugerida por Chigerwe e Tyler (2010):
 

Total de IgG a ser transfundido (g) = Concentração desejada de IgG x peso vivo x volume plasmático estimado x concentração de IgG estimada pré transfusão
 

As concentrações de IgG e proteínas totais foram mensuradas antes do recebimento do colostro ou da transfusão, um dia, três dias e uma semana após o nascimento. Também foi realizado exame clínico dos animais todos os dias. A dose de imunoglobulina transfundida para os bezerros variou de 58 to 69 g, correspondendo a um volume de plasma de 2,6 ± 0,3 L (57,6 ± 6,6 mL/kg of PV). Nenhum bezerro apresentou sinais clínicos de reações a transfusão, a qual durou no máximo 3h.

O grupo que recebeu transfusão alcançou a concentração desejada de IgG (>10g/L) até 7 dias após a transfusão, mas as concentrações foram sempre menores que aquelas observadas nos animais que receberam colostro (Figura 1). O resultado mostra que a simples centrifugação seguida do congelamento do plasma, sem uso de tratamentos químicos que podem encarecer e inviabilizar a técnica, foi capaz de manter a integridade das imunoglobulinas levando a manutenção dos níveis de IgG superiores a 10 g/L até a terceira semana de vida. Diferentemente, outros trabalhos não mostram manutenção das concentrações de IgG em animais transfundidos, devido ao maior catabolismo de IgG. 


Já as concentrações de proteína sérica, normalmente utilizadas por produtores para avaliar a eficiência do protocolo de colostragem, mostra valores marginais aquilo que se considera como transferência de imunidade passiva adequada (>5,5 g/dL ou 55g/L). Assim como ocorreu para as concentrações de IgG, as concentrações de proteína sérica foram menores para animais que receberam transfusão do que para aqueles que receberam colostro materno.

Figura 1. Concentração sérica de IgG ao nascer e nos dias 1, 3 e 7, para animais que receberam colostro ou transfusão de plasma.
 
Concentração sérica de IgG

Figura 2. Concentração sérica de proteína ao nascer e nos dias 1, 3 e 7, para animais que receberam colostro ou transfusão de plasma.
 
Concentração sérica de proteína

A taxa de mortalidade foi maior para bezerros que receberam transfusão em comparação aos colostrados. Os bezerros transfundidos apresentaram maior incidência de diarreia, havendo inclusive necessidade de realizar eutanásia em quatro animais devido a severidade da doença. Assim, mesmo com o aumento das concentrações de IgG para os padrões almejados, a imunização através da transfusão de plasma é inferior em comparação a ingestão do colostro. Isso ocorre por que o colostro possui uma série de moléculas imunorreativas e a privação deste faz com que mesmo com concentrações séricas de IgG consideradas adequadas, os animais sejam mais susceptíveis a doenças.

A importância da colostragem é incontestável. Porém, poder lançar mão de técnicas que possam amenizar o efeito da falha da transferência da imunidade passiva, que sejam baratas e de fácil acesso podem ajudar a reduzir as taxas de morbidade e mortalidade no rebanho de cria.

Referências bibliográficas

BOCCARDO; A. BELOLLI; S. BIFFANI; V. LOCATELLI; P. DALL’ARA; J. FILIPE; I. RESTELLI D. PROVERBIO; D. PRAVETTONI. Intravenous immunoglobulin transfusion in colostrum-deprived dairy calves. The Veterinary Journal 209. 93–97, 2016.

Comentários

É muito comum produtores questionarem a possibilidade de corrigir falhas na transferência de imunidade passiva devido ao inadequado consumo de colostro através de transfusões de sangue. Um problema apresentado é que quando se faz transfusão de sangue, o volume utilizado passa a limitar a dose de anticorpos transfundida, muitas vezes não corrigindo o problema. Além disso, alguns trabalhos já mostraram que embora ocorra aumento na concentração de anticorpos (Ig), esta reduz rapidamente devido ao aumento no seu catabolismo. Assim, o aumento na concentração de anticorpos não é persistente. O presente trabalho traz como alternativa a utilização de centrifugação de sangue e obtenção de plasma para a transfusão, o que resulta em aumento nas concentrações de Ig, permitindo um menor volume de transfusão para alcançar as concentrações de pelo menos 10g/L de IgG. Embora as concentrações sejam alcançadas, as taxas de morbidade e mortalidade não foram comparáveis com aquelas apresentadas por animais que receberam colostro materno em tempo, volume e qualidade adequados. Mais uma vez, ressaltamos a importância da colostragem adequada e a necessidade de se ter na propriedade protocolos bem ajustados, além de pessoal treinado para esta função.

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MILAINE POCZYNEK

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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PAULO JOSÉ BASTOS QUEIROZ

GOIÂNIA - GOIÁS - PESQUISA/ENSINO

EM 12/03/2017

Bom dia, parabéns pelo artigo. Neste trabalho, para obtenção do plasma, foi utilizada uma centrífuga de bolsa de sangue?
GUSTAVO ESTEVES

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 03/03/2017

Muito bom trabalho.
RODNEY MOURA

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/02/2017

Excelente matéria, muito bom!

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