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Seleção de alimentos por bezerros desaleitados

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E FERNANDA LAVÍNIA MOURA SILVA

CARLA BITTAR

EM 31/10/2016

10 MIN DE LEITURA

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Os bovinos equilibram a ingestão de componentes de maior energia (grãos) com forragem de forma a tamponar o rúmen contra os produtos da fermentação dos carboidratos. Ao contrário de vacas em pasto, que passam entre 7 a 13 h/d pastejando, vacas leiteiras adultas em sistema intensivo gastam apenas 3 a 5 h/d se alimentando. Em sistema confinado, vacas leiteiras são geralmente alimentadas com uma ração completa (ração total), que contém forragem e grãos que variam no aspecto físico (tamanho de partícula) e nutricional.

A seleção de alimentos por animais pode resultar na ingestão desequilibrada de nutrientes e aumentar o risco de distúrbios digestivos, incluindo acidose ruminal. Algumas vezes bezerros também são alimentados com ração total (volumoso e concentrado), antes e depois do desaleitamento, entretanto, poucas pesquisas têm examinado seleção de alimentos em bezerros.

Consistente com pesquisas em animais adultos, um trabalho descobriu que os bezerros selecionam partículas pequenas. No entanto, outro trabalho mostrou que esta seleção pode ser afetada por escolhas alimentares e experiência anterior. Por exemplo, Miller-Cushon e DeVries (2011) observaram que bezerros alimentados com concentrado ou feno durante o desaleitamento consumiram seletivamente o alimento familiar quando foi fornecida uma ração mista.

Bezerros alimentados com componentes separados (volumoso e concentrado) antes do desaleitamento, comparados com aqueles alimentados com uma ração mista, mostraram redução da seleção alimentar após o desaleitamento. Normalmente os bezerros leiteiros tem livre acesso a concentrado antes do desaleitamento, mas nas semanas após o desaleitamento é comum a substituição do fornecimento de concentrado por uma ração total, o que pode permitir seleção e consequentemente desbalanceamento da dieta.

Assim, Costa e colaboradores estudaram se o comportamento de seleção alimentar de bezerros leiteiros submetidos ao fornecimento de ração total foi afetada pela remoção suplementar do concentrado. Foram utilizados 18 bezerros da raça Holandesa, adequadamente colostrados e alojados em baias individuais, sem contato visual, apenas auditivo. Os bezerros foram alimentados com mamadeira duas vezes por dia, recebendo um total de 8 L/d de leite pasteurizado até 28 dias; 6/d do dia 29 ao dia 49 e com redução de 20%/d do dia 50 ao dia 55, com o desaleitamento ocorrendo no dia 55. Os bezerros permaneceram no estudo até 71 dias de vida. A partir de 3 dias de idade, todos os animais tiveram acesso ad libitum à água, ração total e concentrado inicial (Tabela 1). A ração total e o concentrado inicial foram fornecidos com o objetivo de sobra de 1 kg/d; quando a sobra era menor que este valor, a oferta era aumentada em 0,5 kg. Sobras de alimento eram removidas todos os dias antes do novo fornecimento.

O consumo diário foi estimado a cada manhã por meio do desaparecimento do alimento no cocho. Foram coletadas amostra do alimento e das sobras todos os dias. A seleção do alimento foi avaliada após o desaleitamento, aos 65 dias de idade, quando os bezerros tinham acesso tanto a ração total quanto ao concentrado inicial, e novamente aos 70 dias de idade, primeiro dia após a retirada do concentrado inicial. Em ambos os dias, a seleção do alimento foi mensurada por um período de 24 horas. Foi utilizada peneira com separador de partículas com 3 telas (19, 8 e 1,18 mm) e um recipiente para separar amostras dos alimentos por tamanho de partícula, em frações longas (> 19 mm), médias (<19, > 8 mm), curtas (<8, > 1,18 mm), e finas (<1,18 mm) (Tabela 1).

Tabela 1. Composição química e tamanho de partícula do concentrado e da ração total (média em % ± DP; com base na MS).

Composição química e tamanho de partícula do concentrado e da ração total

O comportamento de seleção foi quantificado como a ingestão real de cada fração (longa, média, curta e fina), expresso como uma porcentagem da ingestão predito de cada fração; o consumo predito de cada fração foi calculado como o produto da ingestão de matéria-seca do alimento oferecido, multiplicado pela porcentagem de MS de cada fração da ração total. Valores >100% indicaram seleção por tamanho de partícula, e valores de <100% indicaram seleção contrária ao tamanho de partícula.

Aos 65 dias de idade, bezerros selecionam preferencialmente longas partículas da ração total, consumindo mais destas partículas do que o esperado (134 ± 9%; P<0,01; Figura 1a). Por outro lado, os bezerros consumiram apenas 92 ± 3% do predito de partículas pequenas (P = 0,02).

A ingestão de partículas médias e finas não diferiu do predito, com bezerros consumindo 99 ± 5% (P = 0,90) e 107 ± 5 (P = 0,14) do consumo predito, respectivamente. Nessa idade, bezerros consumiram a dieta de tal forma que nenhuma mudança ocorreu no teor de PB da Ração Total (106 ± 4%; P = 0,24) após 24 h (Figura 2). Da mesma forma, FDA e FDN foram consumidos nas proporções esperadas (100 ± 6%; P = 0,98 e 99 ± 4,90%; P = 0,81, respectivamente). Ainda aos 65 dias, os bezerros não mostraram evidências de seleção do concentrado inicial oferecido ad libitum; Também não foi observada diferença na PB (97 ± 7%P = 0,20), ou FDA e FDN (98 ± 7%; P = 0,31 e 101 ± 5%; P = 0,44, respectivamente), entre o concentrado inicial oferecido e as sobras.

Por outro lado, no dia 70, quando o livre acesso ao concentrado inicial foi interrompido, o consumo de partículas finas excedeu os valores preditos (113 ± 4%; P = 0,01; Figura 1b). O consumo de partículas grandes foi como esperado, com bezerros consumindo uma média de 101 ± 11% (P = 0,95) do consumo predito. Da mesma forma, bezerros não selecionaram o alimento a favor ou contra partículas pequenas e médias, consumindo 99 ± 6% e 97 ± 4% do consumo previsto de partículas médias e pequenas, respectivamente. No dia 70 a seleção também foi evidente na avaliação dos componentes dietéticos da ração total (Figura 2). A seleção do alimento diminuiu o teor de PB da ração total (93 ± 2%; P = 0,01), e de FDA (112 ± 7%; P = 0,09) e aumentou o conteúdo de NDF (113 ± 5%; P = 0,02).

Figura 1. Média de ingestão ± EPM das frações de partículas de ração total (expressos como % da ingestão predita) quando os bezerros foram oferecidos: (a) ração total e concentrado aos 65 dias, e b) apenas ração total aos 70 dias.
ingestão - bezerros
Figura 2. Média ± EPM do FDN, FDA e PB da oferta e sobra da ração total.
Foi observado que bezerros selecionam frações de partículas específicas na ração total. Quando o acesso a ração total e ao concentrado foi ad libitum, aos 65 dias de idade, os bezerros mostraram preferência por partículas longas. Preferência inicial para a forragem tem sido associada à familiaridade com o alimento e ao desenvolvimento da seleção dos alimentos. Uma vez que ruminantes aprendem através de mecanismos fisiológicos de feedback pós ingestivo, os autores do presente estudo sugerem que bezerros alimentados com ração total e concentrado inicial desde o nascimento aprendem a equilibrar o consumo de grãos e de forragem de maneira que mitiguem os efeitos do menor pH ruminal.

Após a retirada do concentrado, com a idade de 70 dias, os bezerros modificaram seu comportamento de seleção, preferindo partículas finas na ração total. O consumo preferencial por partículas finas de alta energia tem sido relatado em estudos com vacas. Foi observado seleção de grãos na ração total apenas quando a fonte de grão suplementar foi removida. Outro estudo observou que o comportamento de seleção em bezerros pode depender da disponibilidade de outras fontes de alimento. Os autores sugerem que os ruminantes são capazes de fazer escolhas alimentares desde idade jovem, e essas escolhas se devem às exigências nutricionais, função ruminal, ou sua motivação para mastigar e ruminar.

De acordo com os autores, os bezerros selecionam forragem da dieta, estando motivados desde o início da vida. O fornecimento de forragem para bezerros leiteiros tem sido controverso, devido à diminuição do consumo de concentrado, prejudicando o desenvolvimento do rúmen. Muitos bezerros não têm acesso a forragem até que estejam completamente desaleitados, tendo o concentrado como única fonte de alimento sólido antes do desaleitamento. Os resultados do presente estudo mostram que os bezerros selecionam forragem, sugerindo melhoria no bem-estar ao possibilitar acesso a forragem no início da vida.

Embora a seleção não seja convencionalmente considerada como uma forma de avaliar as motivações para a alimentação, os autores acreditam que a classificação pode ser vista como um método naturalista de julgar a dificuldade dos ruminantes em acessar os componentes alimentares. Este tipo de seleção maximiza a ingestão de energia.

Conclui-se que os bezerros podem usar seleção de alimentos para consumir preferencialmente partículas longas ou curtas em uma ração total, dependendo da disponibilidade de outros alimentos. A seleção de partículas mais longas possivelmente indica que os bezerros são motivados a consumir forragem quando permitidos a livre acesso ao concentrado.

Referências bibliográficas

Miller-Cushon, E. K., and T. J. DeVries. 2011. Effect of early feed type exposure on diet selection behavior of dairy calves. J. Dairy Sci. 94:342–350.

Overvest, M. A., R. Bergeron, D. B. Haley, and T. J. DeVries. 2016. Effect of feed type and method of presentation on feeding behavior, intake, and growth of dairy calves fed a high level of milk. J. Dairy Sci. 99:317-327.

Costa, J. H. C. , Adderley, N. A. , Weary, D. M. and von Keyserlingk, M. A. G. Short communication: Effect of diet changes on sorting behavior of weaned dairy calves J. Dairy Sci. 99:5635–5639.

Comentários

Temos falado sobre alguns fatores que afetam o consumo de concentrado por bezerros leiteiros como o volume de dieta líquida fornecida. Este é um aspecto fundamental na criação de bezerros leiteiros, considerando a necessidade do desenvolvimento ruminal para adequado desaleitamento destes animais. A composição nutricional pode afetar o consumo principalmente por seus efeitos na fermentação ocorrendo em um rúmen ainda em desenvolvimento. Estes animais ainda têm os sistemas de tamponamento, como a ruminação e a salivação, ainda pouco eficientes. Embora pouco estudada, a ocorrência de acidose nestes animais é bastante frequente, principalmente quando os teores de FDN e FDA da concentração são marginais às recomendações para manutenção da saúde ruminal em bezerros. O fornecimento de feno ou outro volumoso durante o período de aleitamento é assunto bastante controverso e que em alguns trabalhos tem gerado resultados positivos e em outros, resultados negativos - devido à substituição e menor consumo total de nutrientes.

O trabalho de Costa e colaboradores mostra que quando animais têm acesso à vontade a um concentrado com 16% de FDN, além do acesso a uma mistura de volumoso e concentrado (ração total), acabam por consumir mais partículas longas desta mistura. Quando deixam de receber o concentrado, tendo somente a ração total disponível, alteram o seu comportamento de seleção e passam a consumir mais partículas longas. Esse comportamento é comumente observado em sistemas que fornecem concentrados com inadequados teores de fibra, além de feno à vontade. Nestes sistemas, os animais têm uma grande variação diária no consumo de concentrado, pois acabam por substituir o consumo deste alimento, com altos teores de PB e energia, pelo consumo de feno, que invariavelmente têm baixos teores de PB e energia.

Esta substituição se deve provavelmente à ocorrência de acidose e acaba por resultar em menores taxas de ganho em decorrência do menor consumo de nutrientes. Embora no trabalho de Costa o consumo de nutrientes não tenha sido afetado aos 65 dias, provavelmente por apresentar em torno de 16% de PB, não temos observado isso em sistemas que fornecem feno com, na melhor das hipóteses, em torno de 12% PB. Tenho sugerido que o fornecimento de feno não seja realizado durante o período de aleitamento por este motivo. Para resolver os problemas relacionados à acidose, que neste caso fazem com que o animal procure alimentos de maior tamanho de partícula, o ideal é ajustar os teores de FDN e FDA nos concentrados iniciais incluindo ingredientes como farelo de trigo (o mais utilizado na indústria), polpa cítrica e casquinha de soja. Valores entre 15 e 25% de FDN e de 6-20% de FDA são recomendados na literatura.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

FERNANDA LAVÍNIA MOURA SILVA

Doutoranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP.

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JOAO COSTA

SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 01/11/2016

Prof. Carla, novamente muito obrigado por divulgar o nosso trabalho. Esse é um tema muito importante e que necessita atenção.

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