A grande maioria dos pecuaristas de leite tem relatado dificuldade na tomada de decisão no momento de levar adiante a criação de bezerros, principalmente de machos. Esta indecisão tem origem basicamente no desconhecimento do custo de desmame e de criação desta categoria animal dentro da atividade. Algumas alternativas para fazer com que o bezerro deixe a propriedade precocemente, muitas vezes são escolhidas sem ao menos terem sua viabilidade econômica discutida e a verificação se ela é a mais adequada para a região. É o caso da doação do animal assim que mama o colostro, o abate logo após o nascimento e a venda por qualquer quantia com o animal de 20 dias até 6 meses de idade.

Assim, torna-se bastante importante saber ao menos mensurar os custos de alimentação e sanidade deste animal na propriedade. Por que somente estes dois fatores ? Porque, além destes custos serem os de maior expressão, eles são variáveis com o número de cabeças que a propriedade abriga, diferentemente do custo da mão-de-obra ou das instalações que não sofrerão alterações significativas com a variação na quantidade de bezerros que a fazenda passará a criar. Estes cálculos são interessantes de serem realizados tanto para os animais que serão vendidos até o desmame (caso mais comum dos machinhos) quanto para aqueles que permanecerão na propriedade (fêmeas para reposição ou machos para engorda/reprodução).

Neste contexto gostaríamos de discutir um trabalho do departamento de zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria/RS que avaliou o custo da alimentação de bezerros desaleitados aos dois meses de idade, independentemente do sexo. As quantidades de leite ofertadas no referido período variaram nos tratamentos em 180 e 240 litros. A partir do quarto dia todos os animais receberam diariamente feno de alfafa picado e um concentrado com: farelo de trigo, grão de milho, farelo de soja, sal comum, calcáreo calcítico e sal mineral. O custo total deste concentrado mais a alfafa picada ficou em US$ 0,16 e o litro de leite custou US$ 0,15. Os autores observaram que o custo por bezerro desmamado (60 dias) chegou ao valor de US$ 28,98 para os que tomaram 180 litros de leite e US$ 34,03 para os que tomaram 240 litros de leite. Assim, concluíram que o desmame aos 60 dias de idade com o uso de 180 litros de leite é economicamente e fisiologicamente viável, não sendo necessário a utilização de mais leite no período para obter um melhor resultado, seja financeiro ou de peso ao desmame.

Este experimento foi realizado nos meses de abril a agosto de 1.999 e apresentado na última reunião da SBZ (Sociedade Brasileira de Zootecnia) em julho/2001. Portanto, se considerarmos os valores atuais do dólar (US$) verificaremos que o custo dos referidos bezerros é de aproximadamente R$ 70,00 a R$ 80,00 aos 60 dias de idade, somente com alimentação. Se somarmos a isso alguns outros custos como sanidade, associação da raça, mão-de-obra e perdas, certamente este valor se aproximará de R$ 110,00 por bezerro desmamado.

Deste modo, conhecendo os custos inerentes ao criatório, fica mais fácil tomar uma decisão adequada no momento de se “livrar” ou criar os bezerros. Se na região onde está a propriedade existe um mercado que absorva estes animais desmamados, este deve pagar, no mínimo, o custo da alimentação, caso contrário é bem mais interessante deixar de criá-los. Por outro lado, se a propriedade tem custos mais altos ou o manejo dos bezerros não é bom e a taxa de mortalidade é alta, vale a pena comprar animais já desmamados (bezerras e novilhas) de outros criatórios, pois já se tem idéia de quanto isto custaria para a fazenda.

É sabido que nos Estados Unidos é comum a prática da comercialização de animais jovens por criadores específicos, que não produzem leite. Estes agem basicamente de duas formas: são contratados pelas fazendas produtoras de leite, que “encomendam” os animais, determinando a genética e o potencial produtivo que desejam ou para fazer a recria dos bezerros nascidos nestas fazendas que só produzem leite. Nesta segunda opção o criador recebe por novilha prenha entregue à fazenda.