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Qualidade de colostro não é só concentração de IgG

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E GLAUBER DOS SANTOS

CARLA BITTAR

EM 20/11/2012

7 MIN DE LEITURA

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Um dos entraves para tornar a atividade leiteira economicamente viável está na eficiência em produzir fêmeas de reposição na mesma proporção da taxa de descarte das matrizes produtoras de leite. Os sistemas de produção de leite têm como característica recorrente na criação de fêmeas de reposição problemas na colostragem dos animais, resultando em altas taxas de mortalidade e baixas taxas de crescimento. Muito embora estes fatores sejam normalmente abordados de forma independente por técnicos e produtores, estão intimamente relacionados. A falha na transmissão de imunidade passiva ao neonato representa um dos grandes motivos de mortalidade e morbidade de bezerras nas primeiras horas de vida.

A placenta dos ruminantes apresenta cinco membranas entre a circulação materna e a fetal, característica que permite o isolamento do feto de possíveis microorganismos patógenos, mas impede também a passagem de imunoglobulinas, leucócitos, fatores de crescimento, fatores antimicrobianos não específicos e nutrientes. Desta maneira, estes recém-nascidos são dependentes da transmissão de anticorpos para sobreviverem imediatamente após o nascimento. Além de conferir imunidade aos recém-nascidos, o colostro materno tem outra grande função que é a de fornecer energia via fontes de gordura e lactose para manter a temperatura corporal.

As concentrações de imunoglobulinas G (IgG) e conteúdo energético do colostro materno podem sofrer variações em função da presença de bactérias neste alimento. Uma vez presente no colostro, as bactérias podem tornar indisponível a absorção da IgG pelo lúmen intestinal dos bezerros, causando uma redução na eficiência de absorção de IgG. Além disso, bactérias podem utilizar a gordura, a lactose e até mesmo proteínas para o próprio crescimento, levando consequentemente a uma redução na concentração destes nutrientes no colostro materno. A recomendação de técnicos e indústria é para não fornecer para recém-nascidos colostro materno que contenha menos de 50 mg de IgG/mL e mais de 100.000 unidades formadoras de colônia (UFC)/mL.

Na intenção de conhecer um pouco mais sobre a qualidade e composição do colostro de propriedades leiteiras nos Estados Unidos, Morrill et al. (2012) fizeram um levantando em 827 amostras de colostro, proveniente de 67 fazendas leiteiras. Estas amostras foram classificadas quanto ao tipo de armazenamento (Fresco, Refrigerado e Congelado), raça da matriz (Holandês, Jersey, Mestiço), número de lactação (1; 2; 3 e +4) e por região (Nordeste, Sudeste, Centro-oeste e Sudoeste).

Do total de 827 amostras, 734 eram de vacas individuais e 93 foram resultado de um pool de colostro. Com relação a raças, 494 eram de vaca holandesa, 87 de Jersey, 7 mestiça e de 239 a raça não foi identificada. No que diz respeito ao número de lactação, 49 eram de primeira, 174 de segunda e 128 era de terceira ou mais lactação, enquanto que 476 não foram reportadas o número da lactação. Na Tabela 1, está apresentada a composição média de IgG, nutrientes e contaminação bacteriana de todas as amostras de colostro utilizado na alimentação de bezerras, durante o período de junho a outubro de 2010.

Tabela 1 - Média das amostras de colostro para IgG, nutrientes e contaminação bacteriana




A concentração média de IgG (68,8 mg/mL) foi maior do que a encontrada por outros levantamentos Muitos fatores podem afetar a composição do colostro materno como: volume de colostro produzido, número de partos, duração do período seco, vacinação e outros. A literatura recomenda descartar o colostro materno com menos de 50 mg/mL de IgG. Neste estudo, 29,4 % das amostras de colostro analisadas apresentava menos de 50 mg/mL, ou seja, quase 30% dos bezerros, nas regiões estudadas, apresentam risco de terem falha no processo de transferência de imunidade passiva.

De todas as amostras analisadas somente 409 (54,8%) atendiam a recomendação em relação à CBT. Quando se avaliou as duas exigências da indústria, concentração de IgG e contagem bacteriana, apenas 39,4% das amostras estavam em conformidade. Um total de 31,2% das amostras estava de acordo com a recomendação apenas para IgG mas não para CBT e 15,4% atendiam as exigências apenas para CBT e não para IgG, sendo que 14,0% não atenderam a nenhuma das exigências.

Amostras originadas do centro-oeste tiveram a maior concentração de IgG bem como, porcentagem de gordura, entre as 4 regiões de estudo (Tabela 2). Já o conteúdo proteico foi maior no nordeste e centro-oeste, e a concentração de lactose foi menor no sudeste. No quesito contagem de células somáticas (CCS), não houve diferença entre as regiões estudadas, já a contagem de coliformes foi maior no sudoeste, enquanto que a contagem bacteriana foi maior no sudeste. Essa maior contagem bacteriana no sudeste pode ser devido ao clima, quente e úmido, o que favorece o crescimento de bactérias.

Tabela 2 - Média das amostras de colostro para IgG, nutrientes e contaminação bacteriana, por região




Similar porcentagem de amostras que atenderam as recomendações da indústria foi encontrada nas regiões nordeste, centro-oeste e sudeste (45,3; 53,7 e 43,2% respectivamente). Enquanto que somente, 14,9% das amostras do sudoeste estavam dentro das conformações estabelecidas.

Armazenagem - Amostras de colostro materno armazenadas em refrigerador antes da coleta tiveram maior teor de proteína, sólidos totais, CBT e coliformes comparado com amostra fresca e congelada. Amostras frescas tiveram menor concentração de proteína e CBT e maior teor de lactose. Não houve diferença entre os métodos de armazenagem e a concentração de gordura e IgG. Colostro congelado ou fresco tiveram a porcentagem de amostras com CBT abaixo de 100.000 UCF/mL semelhantes (61,2 e 67,0% respectivamente), entretanto somente 23,0% das amostras refrigerada ficaram abaixo deste valor. Cerca de 38% das amostras refrigeradas apresentaram a CBT acima de 1 milhão, enquanto que nas amostras fresca e congeladas este valor de 12,1 e 11,2%, respectivamente.

Raça - Amostras de colostro originadas de vaca holadensa tiveram maior CCS, contagem de coliformes e CBT comparado com amostras de Jersey. Não houve diferença dos demais nutrientes entre as raças e a concentração de IgG foi similar.

Número de parto - A concentração de IgG aumentou com o aumento no número de partos e a CCS reduziu. Tem sido sugerido que o aumento da concentração de IgG é devido a um aumento da exposição a patógenos e incidência de doenças. Além disso, a produção de colostro é baixa na primeira lactação em função da glândula mamária ainda não estar completamente desenvolvida, o que reduz a capacidade de transportar IgG da corrente sanguínea para o colostro. O conteúdo de gordura e lactose foram maiores em amostras de vacas em terceira lactação, não havendo diferença no teor de proteína. Os coliformes e a CBT foram maiores em amostras de segunda lactação.

Pool de amostras - Amostras coletadas de vacas individuais tiveram uma maior concentração de IgG, proteína e sólidos totais comparadas com amostras originadas de um pool. Contrariamente, a contagem de Coliformes, CBT e CCS foram maiores em amostras originadas de um pool. Possivelmente, essa maior concentração de IgG em amostras individuais é devido a não diluição da amostra em colostros de menor qualidade.

Nos Estados Unidos 19,2% dos bezerros têm falha na transferência de imunidade passiva (NAHMS, 2007), mas o adequado fornecimento de colostro materno pode reduzir este valor. Embora uma grande quantidade de amostras analisadas esteja em conformidade para IgG (70,6%) ou com contagem bacteriana abaixo de 100.000 UFC/mL (54,8%), apenas 39,4% das amostras atendem ambas recomendações

Os autores concluem que o método de armazenamento de colostro tem efeito significativo na contaminação por bactérias. Baseados nestes dados os autores sugerem que o colostro deva ser fornecido fresco ou congelado imediatamente após sua coleta, não sendo recomendado o armazenamento em refrigerador. Embora parte do colostro avaliado tenha atendido de forma adequada as exigências em termos de concentração de IgG, boa parte apresenta problemas quanto a contaminação microbiológica.

Comentários

O levantamento mostra que a maior parte dos sistemas de produção de leite ainda tem problemas no que se refere a qualidade do colostro fornecido a recém-nascidos. Embora a recomendação técnica seja sempre baseada na concentração de IgG como referência para classificação de colostro de boa, média ou baixa qualidade; a composição nutricional e sua contaminação microbiológica são aspectos também importantes para sua avaliação. Assim, fica claro que devemos avaliar o colostro de forma a atender requisitos diversos que beneficiam o processo de transferência de imunidade passiva e, consequentemente, o bezerro recém-nascido.

Em condições brasileiras, qual a porcentagem de bezerras leiteira que passaram por falha na transferência de imunidade passiva? Quanto do colostro materno tem uma concentração de IgG acima de 50mg/mL? E com relação a contaminação bacteriana, qual o índice de CBT do colostro que estamos fornecendo as nossas bezerras? Essas são algumas questões que devemos ter a resposta para melhorarmos os índices de produtividade na criação de bezerras.


Referência

K. M. Morrill , E. Conrad , A. Lago , J. Campbell , J. Quigley , H. Tyler .Nationwide evaluation of quality and composition of colostrum on dairy farms in the United States Journal of Dairy Science, 95 :3997-4005, 2012.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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TIATRIZI SIQUEIRA MACHADO

BETIM - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 27/10/2021

Luiz Miranda, li um texto recentemente que fala sobre a utilização de silo de colostro. O título dele é "A busca por alternativas economicamente viáveis na alimentação e manejo da pecuária leiteira".
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 09/06/2021

Ricardo,

para o sucesso no processo de colostragem é importante que sejam considerados alguns fatores:

1) o tempo para fornecimento;

2) a qualidade do colostro, principalmente quanto a concentração de IgG;

3) volume de fornecimento.

O ideal é que o fornecimento de colostro de alta qualidade ocorra o mais cedo possível, uma vez que com o tempo o animal perde sua capacidade de absorver grandes moléculas como as imunoglobulinas. Assim, existem várias recomendações de fornecimento, sempre baseadas em volume fixo, sem considerar o peso ao nascer dos animais. O mínimo aceitável para que o animal tenha adequada transferência de imunidade passiva é o fornecimento de 5% de seu peso vivo em duas refeições. Por volta das 14-16h após o nascimento o animal já perdeu a capacidade de absorção e portanto, as duas refeições devem ocorrer bem antes. Para animais que nascem com 40kg, o volume de 2L corresponde aos 5%. No entanto, vários trabalhos mostram que quanto maior o consumo de colostro, maior o potencial de produção desta bezerra na primeira e segunda lactação.Assim, quanto mais e mais cedo, melhor...desde que seja colostro de qualidade.

Com relação ao uso da sonda, não há interferência na absorção de anticorpos.

Abs.,

Carla
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/11/2012

Felipe,

No mercado internacional já existem diversos substitutos e suplementos de colostro. Estamos aguardando a chegada destes aqui no Brasil, o que deve ocorrer num futuro bem próximo!

Abs.,

Carla
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/11/2012

Caro Luiz,

A silagem de colostro não deve ser utilizada para fins de transferência de imunidade. Com o processo de fermentação a concentração de anticorpos é reduzida drasticamente, de forma que este alimento não é mais adequado para animais recém-nascidos. A silagem de colostro pode ser utilizada no entanto para alimentação de bezerras mais velhas.

Abs.,

Carla
FELIPE SECCO

RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/11/2012

Ola! Achei o artigo interessante e gostaria de questionar se o autor(a) conhecem algum sucedaneo de colostro ou se isto porventura já existe e está disponivel como acontece para o leite?


Atenciosamente,


M.V. Felipe Secco
RICARDO MICAI

SÃO PAULO

EM 21/11/2012

Boa tarde Carla,

Ótima matéria, parabéns!

Gostaria da sua opinião referente ao fornecimento de colostro nas primeiras horas de vida.

Diversos autores indicam fornecer 6 litros de colostro nas primeiras 2 horas, porém os animais na maioria das vezes, relutam em mamar essa quantidade de colostro nesse curto período de tempo. É necessário fazer esse volume de 6 litros nas 2 primeiras horas de vida, mesmo com um colostro com no mínimo de 50 mg/L? Os animais que relutam, o uso da sonda esofágica interfere na absorção? Pode ocorrer diarreia devido a esse excesso de colostro nas primeiras horas de vida?

Obrigado pela atenção!

VINICIUS LIMA MATERA

ILHA COMPRIDA - SÃO PAULO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 21/11/2012

Luiz Miranda,



Talvez você entrando em contato com esse e-mail você obtenha suas respostas.



cqmendes@gmail.com
LUIZ MIRANDA

SALVADOR - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/11/2012

Gostaria de saber da eficiência de imunização, quando da utilização de silo de colostro armazenado em garrafas pet utilizado na suplementação de bezerras.
FERNANDO MELGAÇO

GOIÂNIA - GOIÁS - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 20/11/2012

Parabenizo os autores deste brilhante trabalho de pesquisa. Sem pesquisas, nenhuma ciência avança. Sempre digo que, as pesquisas estão nas universidades. Fora delas existem poucas pesquisas confiáveis.

No entanto, não custa lembrar aqui, que quando os bezerros forem amamentados nas tetas das próprias mães ou nas de outra vaca, esta primeira amamentação deverá ocorrer o mais breve possível, após o nascimento. Isto porque, as concentrações de IgG, caem rapidamente  no colostro com o passar do tempo.

Atenciosamente,

Fernando Melgaço

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