No entanto, a retirada do leite da alimentação das bezerras é geralmente estressante aos animais, principalmente quando o consumo de concentrado no momento do desaleitamento ainda é pequeno. Muitos pesquisadores recomendam o desaleitamento dos animais somente quando o consumo de concentrado esteja entre 700-800 g/dia, durante 3 dias consecutivos, para animais de porte grande e 450-500g /dia para animais de porte pequeno.
Porém, na prática, as condições para uma correta avaliação do consumo de concentrado por bezerras são bastante difíceis. O fornecimento de concentrado geralmente é realizado em baldes, sendo fornecida quantidade desconhecida, baseada em uma média do consumo diário pelos animais, havendo a necessidade diária de pesagem das sobras para o conhecimento do consumo de cada animal.
Dessa forma, uma alternativa à pesagem diária seria o fornecimento do concentrado através de alimentadores providos de pequenos silos acoplados ao cocho, que podem armazenar grandes quantidades de ração, facilitando, por exemplo, a mão-de-obra com o fornecimento e pesagem diários de concentrado, já que a pesagem pode ser realizada somente no momento do abastecimento do silo.
Assim, métodos para alimentação de bezerros têm sido desenvolvidos, para facilitar o manejo dos animais nas fazendas. Com este propósito, pesquisadores espanhóis (Bach et al., 2010) avaliaram as vantagens e desvantagens da utilização de um alimentador para bezerras com silo acoplado para armazenagem de ração, em relação ao sistema de fornecimento de ração comumente utilizado, ou seja, através de baldes.
O alimentador avaliado apresentava dimensões de 78,5 × 30 × 30 cm e tinha uma abertura para o acesso do animal de 28 cm de largura, 22 cm de profundidade e 44,5 centímetros de altura, conforme mostra o esquema da Figura 1.
Figura 1. Representação esquemática do alimentador para fornecimento de concentrado para bezerras em aleitamento
Durante os experimentos realizados, um grupo de animais que utilizava os alimentadores foi comparado com um grupo de animais com fornecimento de concentrado através de baldes. Além disso, todas as oitenta bezerras que participaram do teste receberam um mesmo concentrado e um mesmo sucedâneo de leite. Entretanto, embora um único concentrado tenha sido utilizado, este foi fornecido na forma peletizada a um grupo e com uma textura grosseira a outro, para avaliação da influencia da forma física no consumo pelos animais.
Os resultados da avaliação mostraram que o consumo de concentrado foi influenciado pelo método de fornecimento, conforme pode ser visualizado na Tabela 1. De maneira geral, as bezerras que tinham o concentrado fornecido através do alimentador apresentaram um menor consumo total durante todo o período de aleitamento. Também, é possível notar que as bezerras que consumiam concentrado com textura grosseira via alimentador apresentaram um consumo bastante inferior (20,9 kg). O menor consumo pelos animais neste caso refletiu diretamente no ganho de peso diário, com menores valores para os animais consumindo concentrado de textura grosseira via alimentador. Entretanto, quando verificamos o consumo de concentrado, independente da forma física, porém fornecido via balde, não verificamos diferenças.
Tabela 1. Efeito do método de fornecimento e da forma física do concentrado
Outros pesquisadores já observaram resultados semelhantes no consumo com a utilização de alimentadores para bezerros. Segundo estes autores, o menor consumo neste caso está relacionado com o limitado espaço para apreensão do concentrado nos alimentadores, o que aparentemente causa desconforto para a maioria dos animais, refletindo diretamente em um menor consumo. Neste caso, o concentrado peletizado resulta em maior consumo por facilitar a apreensão num cocho com acesso difícil ao concentrado.
Quando se observa a evolução do consumo ao longo do período de aleitamento, verifica-se que os animais que utilizavam os alimentadores apresentavam um aumento no consumo mais lento em relação aos animais com consumo em baldes.
Os resultados deste trabalho de pesquisa mostram que a utilização de um alimentador com silo para armazenagem de ração com o objetivo de facilitar o manejo com o fornecimento diário aos animais parece não apresentar vantagens, principalmente em relação ao consumo.
Referências
Bach,A.; Ferrer, A.; Ahedo J. Effects of feeding method and physical form of starter on feed intake and performance of dairy replacement calves. Livestock Science, v. 128, p. 82-86, 2010.
Comentários
A utilização de diferentes tipos de cocho para fornecimento de concentrado para bezerros vem sendo testada em trabalhos de pesquisa, sempre mostrando que os cochos do tipo balde apresentam vantagens. É importante que o animal tenha espaço suficiente pra colocar a cara, ou pelo menos o focinho, neste cocho e realizar a apreensão do concentrado. Alguns anos atrás, durante um experimento de doutorado no Depto. de Zootecnia observamos que o consumo de concentrado era crescente e dentro do esperado até que os animais atingiam uma determinada idade, depois disso era drasticamente reduzido, reduzindo também o ganho de peso dos animais. Depois de investigar desde o manejo alimentar até a composição e possível presença de fatores anti-nutricionais no concentrado, avaliar a qualidade da dieta líquida e o manejo sanitário, nos vimos frente a um problema sem solução.
Depois de algumas horas sentada num antigo bebedouro na área do bezerreiro, consegui resolver o problema por simples observação: os cochos eram inadequados para animais maiores! Os animais tinham intenção de consumo, mas, ao introduzir a cara no cocho, se afastavam rapidamente, como que assustados. Os cochos eram baldes cortados e adaptados para aquela função, não garantindo consumo (Figura 1). Depois de alterar o tipo de cocho dos abrigos individuais voltamos a observar consumo de concentrado e, conseqüentemente, taxas de crescimento, dentro do esperado.
O trabalho descrito mostra que o consumo é reduzido quando o concentrado é fornecido em cochos do tipo silo, o que significa um maior período de aleitamento e consequentemente maior custo de produção. Por outro lado, no caso de bezerros desaleitados de acordo com a idade, este tipo de cocho resultaria em consumos inadequados para o desaleitamento, o que significa desenvolvimento do rúmen insuficiente para manutenção de adequadas taxas de crescimento no período seguinte. A não ser que as medidas sejam alteradas para garantir consumo de concentrado, este tipo de cocho não se adequada a criação de bezerras leiteiras.
Outro aspecto importante do trabalho, e que já foi discutido em outros radares técnicos, é a questão da forma física do concentrado. Quando o acesso ao concentrado é adequado, não existe diferença no desempenho (consumo e ganho de peso) entre concentrado farelado e peletizado. No entanto, quando o acesso ao concentrado é prejudicado, a peletização auxilia na apreensão do alimento, resultando em um maior consumo em relação ao concentrado farelado.
Figura 1. Cochos inadequados para o fornecimento de concentrado para bezerras em aleitamento.