*Palestra proferida durante o Workshop #medirparagerenciar – Edição Leite, que ocorreu nos dias 8 e 9/02/2018 em Piracicaba – SP.
No radar do mês passado falamos sobre como gerenciar a colostragem. Este é talvez hoje o maior gargalo da criação de bezerras leiteiras, pois se não partimos de um animal com adequada transferência de imunidade passiva (TIP), não adianta discutir diferentes sistemas de alimentação. Animais com falhas nesse processo, ou seja, como proteína sérica < 5,5 mg/dL ou Brix <8,4%, quando sobrevivem, são animais mais propensos a ficar doentes e por isso trazem grandes prejuízos ao sistema. Esses animais aumentam o custo de produção à medida que aumentam custos com medicamentos e hora de mão de obra para seu tratamento, além de não apresentarem ganho de peso compatível com sua alimentação.
Partindo então de um animal com adequada TIP podemos planejar e gerenciar o manejo alimentar e consequentemente o crescimento dos animais. Uma vez que esses animais não consomem nas primeiras semanas grandes quantidades de dieta sólida, a dieta líquida é quem determina de maneira mais efetiva o seu desempenho.
Em trabalho de levantamento sobre os sistemas de criação de bezerras Santos & Bittar (2015) observaram que 42% dos produtores fornecem leite, 36% leite descarte, 7% leite de transição e somente 13% fornecem sucedâneos lácteos. No entanto, existe grande variação nestes números em função do preço pago ao produtor pelo litro de leite, o que afeta a % de produtores que fornece sucedâneos.
Um dos problemas observados com esta tecnologia é a falta de monitoramento para a adequada diluição do produto. É comum a diluição para 12,5% de sólidos, mas outras diluições podem ser utilizadas como, por exemplo, 14%. Independentemente do teor de sólidos, o monitoramento e correção da diluição deve ser realizada, podendo para isso ser utilizado um refratômetro de Brix. Vejam que esta é a terceira etapa do monitoramento em que esta ferramenta tem aplicação (qualidade do colostro, transferência de imunidade no sangue da bezerra e diluição do sucedâneo). O monitoramento é realizado através de leitura do valor e ajuste em uma equação que estima o teor de sólidos do sucedâneo diluído (Figura 1). Esta técnica também pode ser utilizada para avaliar o teor de sólidos do leite/leite descarte para correções de acordo com o sistema de aleitamento.
Figura 1. Equações para estimativa do teor de sólidos (TS) utilizando-se refratômetro de Brix ótico ou digital.
Os sistemas de aleitamento são divididos ou classificados de acordo com o volume de dieta fornecida (Figura 2), o qual determinará o desempenho esperado. Quanto maior o volume de dieta líquida fornecido, maior será o ganho de peso dos animais. No entanto, os custos com alimentação também aumentam, mas é possível que este investimento retorne ao produtor quando este animal entrar em produção. A literatura mostra muitos dados comprovando que animais que recebem maiores volumes de dieta líquida se tornam vacas de maior produção de leite.
Figura 2. Sistemas de aleitamento de bezerros.
Um aspecto importante a ser monitorado é o consumo de dieta sólida. Uma vez que o consumo de dieta sólida e dieta líquida são negativamente correlacionados, animais em aleitamento intensivo consomem quantidades muito pequenas de concentrado, dificultando o desaleitamento. Assim, é preciso de alguma forma monitorar o consumo de concentrado para que os animais não sejam desaleitados sem que seu rúmen esteja pelo menos parcialmente desenvolvido.
Como dito anteriormente, o ganho de peso observado vai ser dependente principalmente do volume de dieta líquida fornecido. Assim, o potencial de ganho varia de acordo com o sistema de aleitamento (Figura 3), devendo este ser monitorado. É interessante pesar os animais com frequência de forma que o ganho de peso possa ser calculado e ajustes no manejo alimentar possam ser realizados. Uma vez que existe recomendação de se dobrar o peso ao nascer dos animais durante o período de aleitamento, é importante entender que isso não vai acontecer em alguns sistemas. Quando a meta é ter o animal com 2,5 x seu peso ao nascer, isso se torna ainda mais importante.
Figura 3. Potencial de ganho de peso para animais aleitados com diferentes volumes de dieta líquida.
Muitos produtores acabam aumentando o seu período de aleitamento aguardando seus animais dobrarem de peso. Esses produtores continuam fornecendo 4L/d, mas durante um período de 90d, o que soma 360L. Fazendo ajustes, esses produtores podem fornecer 6L/d durante 60 dias, como o mesmo custo de 360L no período total, mas agora se beneficiando de menor tempo de ocupação no bezerreiro e possibilidade de aumentar o potencial de produção dos animais quando entrarem em lactação.
Pesar os animais pelo menos uma vez por mês permite que ajustes sejam feitos antes do desaleitamento. Com o peso ao nascer e pesagens quinzenais o produtor tem dados que permitem esses ajustes. As pesagens podem ser feitas diretamente em balanças ou o peso pode ser estimado através da fita de pesagem (Figura 4), como já mostramos no radar técnico anterior. A fita é uma ferramenta extremamente importante para sistemas de produção que não tem balança ou que não tem balança próxima ao bezerreiro.
Figura 4. Pesagem e estimativa de peso com a utilização da fita.
Outras avaliações do crescimento também podem ser realizadas, a exemplo da altura do animal e da largura de garupa (Figura 5). A altura principalmente dá uma ideia geral de crescimento, uma vez que ganhar peso nem sempre quer dizer crescer. Embora não seja prático utilizar uma régua para avaliar a altura dos animais, podemos fazer marcações na balança, por exemplo, a cada 25 cm, de forma que a mesma seja ao menos estimada a cada pesagem.
Figura 5. Medidas de crescimento de bezerras. Fonte: Adaptado de https://extension.psu.edu/monitoring-dairy-heifer-growth.
Com todos estes dados coletados a respeito do monitoramento da colostragem e do crescimento dos animais o produtor deve analisar seus resultados e fazer ajustes. Ajustes tanto no manejo dos animais, quanto no treinamento dos colaboradores. No caso de desempenho de animais jovens, os resultados vão muito além do manejo alimentar. As pessoas envolvidas tem um grande impacto de acordo com seu treinamento e comprometimento com a atividade. Assim, monitorar bezerreiros deve envolver também aspectos relacionados à gestão de pessoas.
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