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Transferência de imunidade passiva em bezerros leiteiros

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E ANA PAULA DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 03/12/2020

7 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 29/12/2020

Apesar da conhecida importância da transferência adequada de imunoglobulina (Ig) colostral para a saúde e sobrevivência de bezerro, a falha na transferência de imunidade passiva (FTIP) continua a ser um grande entrave na produção de leite. Uma vez que bezerros ao nascimento têm baixos níveis séricos de Ig, tornam-se totalmente dependentes do consumo de colostro para que haja proteção imunológica durante as primeiras semanas.

O fator determinante para alcançar transferência de imunidade passiva adequada é o fornecimento de colostro dentro das primeiras 6 horas após o nascimento, em quantidade (10 % a 12,0% do PV) e qualidade adequada (Ig ≥ 50 g/L e contagem bacteriana <100 000 UFC/mL) (Godden, 2008).

Muitos estudos indicaram que FTIP é um importante fator de risco na incidência e gravidade de doenças entéricas e respiratórias na fase de aleitamento, doenças que são a principais causas de morte. Consequências de longo prazo de FTIP incluem aumento da idade ao primeiro parto e efeitos da produção de leite durante a primeira e segunda lactação.

Deste modo, o objetivo da pesquisa conduzida por Lora et al. (2017) foi investigar a correlação da FTIP com várias práticas de manejo de colostro na fazenda e verificar se existe efeito associado do tempo de fornecimento com o volume e qualidade da primeira refeição de colostro na transferência de imunidade passiva em bezerros recém-nascidos.

Para condução da pesquisa foram coletadas amostras de vinte e uma fazendas localizadas no nordeste da Itália (região de Veneto), utilizando no total 244 bezerros (machos e fêmeas) da raça Holandesa ou mestiços. Foram aplicados questionários aos produtores sobre as práticas de manejo de bezerros recém-nascidos. As amostras de sangue foram colhidas de bezerros com idade entre um e cinco dias de vida, através da punção da veia jugular em tubos sem anticoagulante.

Também foram coletadas amostras do primeiro colostro fornecidos aos bezerros. As amostras de sangue e colostro foram encaminhadas para o laboratório para posteriores análises. Além disso, foi utilizado um escore acumulado para o manejo de colostro (tempo de fornecimento, quantidade e qualidade do colostro), em que valores mais altos do escore correspondiam a um melhor manejo do colostro (Tabela 1).

Tabela 1. Escore de manejo de colostro.

Como resultado, 41% dos bezerros das fazendas estudadas apresentaram FTIP, 34,8% tiveram transferência de imunidade passiva adequada e 24,2% dos bezerros avaliados apresentaram excelente transferência de imunidade passiva (Figura 1).  A distribuição dos bezerros entre as fazendas de acordo com os três níveis de concentração sérica de Ig mostrou grande variabilidade, com apenas seis propriedades apresentando menos de 20% de bezerros com FTIP e duas fazendas sem apresentar resultados de excelente transferência de imunidade passiva (Ig> 16 g/L).

Figura 1 - Distribuição total e de cada fazenda de bezerros (n= 244) com falha na transferência de imunidade passiva (concentração sérica de imunoglobulina (Ig) <10,0 g/L), transferência de imunidade passiva adequada (concentração sérica de Ig de 10,0 a 15,9 g/l) e excelente transferência de imunidade passiva (concentração sérica de Ig de 16,0 g/l) em 21 fazendas leiteiras italianas.

A porcentagem total de amostras de colostro de baixa qualidade foi de 26,5% e não houve diferença nos percentuais de amostras de colostro de baixa qualidade entre as vacas primíparas (34,6%) e multíparas (22,1%). No entanto, a distribuição das amostras de colostro de acordo com sua qualidade variou consideravelmente entre as fazendas (Figura 2): apenas duas fazendas tinham todas as amostras de colostro de boa qualidade, enquanto em nove fazendas mais de 30,0% das amostras de colostro eram de baixa qualidade.

Figura 2 - Distribuição total e dentro de cada fazenda de colostro de baixa qualidade (Ig <50,0 g/L) e colostro de boa qualidade (Ig >50,0 g/L) (n = 223) coletadas de vacas Holandesas em 21 fazenda italianas.

Os resultados da análise mostraram que nenhuma das práticas de manejo consideradas em nível da fazenda foram associadas à ocorrência de FTPI em bezerros. Estas práticas incluem aspectos como tipo de ordenha, existência de baia maternidade, tratador do bezerro (produtor ou colaborador), gênero do tratador, método de fornecimento de colostro (mamadeira, balde com bico, sonda), tipo de colostro fornecido (materno, substituto comercial, de outra vaca, pool de colostro), controle de temperatura do colostro, causa de morte do bezerro, vacinação da vaca seca e uso de antibiótico como profilático em bezerros.

No entanto, embora o número de lactação e parto auxiliado não tenham sido associadas à FTIP, raça, sexo do bezerro, tempo de fornecimento após o nascimento, volume e qualidade da primeira refeição de colostro afetaram a ocorrência de FTIP  (Tabela 2). Os dados da Tabela 2 mostram que os pilares da adequada colostragem, ou seja, o tempo para o fornecimento, a qualidade e o volume do colostro afetam de forma bastante significativa a ocorrência de FTIP.

O risco de bezerros apresentarem FTIP aumentou em 13% em cada hora de atraso de fornecimento de colostro mas diminuiu em 59% para cada litro adicional de colostro fornecido e em 3% a cada grama adicional de Ig/L contida no colostro fornecido.

Leia também > Colostragem: você já adequou seu manejo para as novas recomendações?

Tabela 2 - Estatística descritiva de dados individuais de bezerros de 21 fazendas leiteiras da Itália. Variáveis associadas à falha na transferência de imunidade passiva (FTPI -concentração sérica de imunoglobulina <10,0 g / l).

Dos três fatores utilizados no escore de manejo de colostro o que mais influenciou a concentração sérica de Ig dos bezerros por ordem de importância foi: a qualidade do colostro, seguida pelo tempo fornecimento e volume de colostro fornecido. A medida que o valor do escore do manejo de colostro aumentou, a porcentagem de bezerros com FTIP foi reduzida e a fração de bezerros classificados com transferência de imunidade passiva excelente aumentada.

Figura 3 - Distribuição de bezerros (n = 236) com FTIP (Ig sérico <10,0 g/L), transferência de imunidade passiva (Ig de 10,0 a 15,9 g/L) e transferência ideal de imunidade passiva (concentração sérica de Ig 16,0 g/l) de acordo com o escore cumulativo de manejo de colostro; e distribuição da concentração de IgG no soro de acordo com o escore cumulativo de manejo de colostro (coeficiente de regressão = 1,53; P <0,001).

Considerando os valores mais baixos de escore cumulativo de manejo de colostro (ECMC) (1.0), 82,4% dos bezerros tiveram FTPI e nenhum deles atingiu transferência ótima (Figura 3). À medida que o ECMS melhorou, a porcentagem de bezerros com FTPI diminuiu, enquanto a fração de bezerros com transferência ótima aumentou. Considerando o mais alto ECMC (> 7.0), nenhum dos bezerros possuía FTIP e todos atingiram transferência considerada ótima (Figura 3).

Ainda que neste estudo a qualidade do colostro tenha apresentado maior influência sobre a concentração sérica de Ig de bezerros, não deve ser considerada como fator único para se obter sucesso na transferência de imunidade passiva. O tempo de fornecimento de colostro após o nascimento, qualidade e volume do colostro apresentam uma ação sinérgica para evitar falhas na transferência de imunidade passiva.

Embora ocorra uma ampla orientação sobre a importância de colostragem adequada para a sobrevivência e saúde de bezerros recém-nascidos, ainda é necessário muito esforço para aumentar conscientização dos produtores sobre as boas práticas de manejo de bezerros recém-nascidos com intuito de prevenir FTIP, de forma a melhorar a saúde dos animais e consequentemente reduzir o uso de antibióticos na fase de cria.

Comentários

Este trabalho reforça a importância dos pilares da colostragem: tempo de fornecimento, volume e qualidade do colostro. Muito embora as práticas de criação tenham impacto no desempenho dos animais durante o período de aleitamento e até nas lactações futuras, o manejo realizado nas primeiras horas de vida é o que garante a adequada transferência de imunidade passiva e consequentemente ótimos desempenhos. Ainda temos muitas propriedades com baixa eficiência de colostragem, seja por baixa qualidade do colostro ou por erros no seu fornecimento (tempo e volume). O trabalho mostrou que embora o risco de bezerros apresentarem FTIP aumente em 13% em cada hora de atraso de fornecimento de colostro, ele diminui em 59% para cada litro adicional de colostro fornecido. Somando-se esse resultado a outros dados de literatura que mostram que fornecimento de maiores volumes de colostro pode aumentar o potencial de produção destas bezerras nas suas futuras primeira e segunda lactações, por que não fornecer mais colostro? Será que não estamos perdendo oportunidades de melhorar o desempenho das bezerras seja reduzindo a ocorrência de FTIP, seja por aumentar o desempenho lactacional do rebanho? Quando se trata de fornecimento de colostro, nunca é demais consumir a mais! 

 

A Dra. Carla Maris Machado Bittar é instrutora do EducaPoint, tendo ministrado três cursos.

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Referências bibliográficas

Godden S 2008. Colostrum management for dairy calves. The Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice 24, 19–39.

Lora, I et al. 2018. Factors associated with passive immunity transfer in dairy calves: combined effect of delivery time, amount and quality of the first colostrum meal. Animal 12, 1041–1049.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

ANA PAULA DA SILVA

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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