Os bezerros no período de amamentação freqüentemente são acometidos de diarréias. De uma forma bastante simplista, pode-se afirmar que as diarréias são resultado do desequilíbrio da flora intestinal, que cria oportunidade para o desenvolvimento de bactérias patogênicas. Normalmente isto ocorre em ocasiões em que o animal passa por situações de stress, devido ao manejo, variações climáticas ou alimentação.
Este mal funcionamento intestinal prejudica a utilização dos nutrientes e consequentemente o bom desenvolvimento do animal. Nestas situações, o uso de probióticos pode ser benéfico. Os probióticos podem ser definidos como "suplementos alimentares à base de microorganismos vivos, que afetam beneficamente o animal hospedeiro, promovendo o balanço da microbiota intestinal". Sendo assim, eles teriam um efeito contra estes distúrbios gastrointestinais.
Pesquisadores da ESALQ-USP, em Piracicaba, realizaram um experimento para testar os efeitos da adição de um probiótico constituído por Lactobacillus acidophilus, Enterococcus faecium e Saccahromyces cerevisiae ao leite integral ou sucedâneo de leite, na alimentação de bezerros. Os 79 animais foram criados em baias individuais e receberam 4 litros de dieta líquida, no balde, divididos em duas refeições. A dieta líquida constituiu-se de leite integral a partir do 3o dia (após o colostro) ou sucedâneo de leite a partir do 3o ou 15o dia de vida (no último caso leite integral até o 14o dia), com ou sem adição de probiótico. Foram fornecidos água e concentrado à vontade a partir do primeiro dia de vida. A desmama foi feita de forma abrupta quando os bezerros consumiam 800 gramas de concentrado por 3 dias consecutivos.
Foram avaliados o ganho de peso, consumo de concentrado, conversão alimentar, idade e peso à desmama. Os resultados podem ser vistos na tabela 1.
Tabela 1: Efeito do probiótico e do aleitamento sobre o desempenho dos bezerros
O ganho de peso diário até a desmama sofreu interação entre os fatores probiótico e tipo de dieta líquida (P=0,0166). O fornecimento do probiótico diminuiu o ganho de peso diário na ordem de 10%, quando os animais receberam leite como dieta líquida (P=0,0457), mas aumentou em 37,5% o ganho de peso, quando os animais começaram a receber o sucedâneo aos 3 dias de vida (P=0,0325). Não houve efeito do probiótico na dieta com sucedâneo iniciada aos 15 dias de vida.
Para o consumo de concentrado e de matéria seca total até a desmama, não se observou interação entre o fornecimento de probiótico e o tipo de dieta líquida. Entretanto, observou-se efeito do tipo de dieta líquida, com aumento de consumo de concentrado (P=0,0167) e de matéria seca (P=0,0001) com o uso de sucedâneo em relação aos animais que receberam leite. Este efeito já foi constatado por outros pesquisadores.
A conversão alimentar sofreu interação (P=0,0001) entre o fornecimento de probiótico e o tipo de dieta líquida. Os bezerros do tratamento com sucedâneo aos 3 dias apresentaram uma melhor conversão alimentar (P=0,0001), na ordem de 31,9%, em relação aos que não receberam.
O peso vivo à desmama não sofreu interação entre os fatores probiótico e tipo de dieta líquida, mas foi observado um efeito significativo do tipo de aleitamento (P=0,0001). Os animais que receberam sucedâneo (aos 3 e aos 15 dias de vida), foram desaleitados com 16,3% a menos de peso (P=0,0001) que os animais que receberam leite. Os bezerros que começaram a receber o sucedâneo aos 3 dias de vida, apresentaram peso à desmama menor que os bezerros que receberam somente aos 15 dias, na ordem de 7,3% (P=0,0177).
Comentário MilkPoint: O fornecimento de probiótico parece ter surtido efeito na situação de maior stress (fornecimento do sucedâneo a partir dos 3 dias). Nada se comentou nos dados disponíveis sobre a composição ou qualidade deste sucedâneo, ou ainda sobre a taxa de diluição utilizada, mas já foi comentado nesta seção que estes fatores podem ter grande impacto no desempenho dos bezerros, uma vez que nesta fase eles não estão adaptados à digestão de uma série de ingredientes, devendo a seleção do substituto ser feita de forma bastante cuidadosa. Diferente de outros experimentos, o maior consumo de concentrado nas dietas com sucedâneo parece não ter sido suficiente para igualar o desempenho dos animais recebendo leite. Isto reforça a idéia de que o substituto utilizado pode ter sido o fator mais limitante ao crescimento dos animais.
Bibliografia consultada
MEYER, P.M. et al., 2000. Efeito da adição de Lactobacillus acidophillus, Enterococcus faecium, e Saccharomyces cerevisie ao leite integral ou sucedâneo, sobre o desempenho de bezerros(as) da raça holandesa. In: XXXVII Reunião Anual da SBZ. Viçosa - M.G.
fonte: MilkPoint