Por outro lado, fornecer apenas concentrado inicial até o desaleitamento pode levar a grandes variações e reduções no pH ruminal, na motilidade do rúmen e provocar a fusão de papilas ruminais devido a maior deposição de queratina; fatores que podem diminuir a habilidade da mucosa ruminal em absorver nutrientes. Estes fatores podem ser minimizados com o fornecimento de forragem ou pela adequação no teor de FDN dos concentrados iniciais. A forragem estimula a parede muscular do rúmen, promove a ruminação, mantém a integridade e a saúde da parede ruminal, reduzindo assim, problemas no ambiente ruminal como a queda do pH.
Mesmo com todos esses benefícios para o rúmen, o fornecimento de forragem para bezerros não tem sido recomendado. Atualmente, é comum o fornecimento de concentrado inicial com relativamente baixo teor de fibra em detergente neutro (FDN) de forma a maximizar a digestibilidade (16-18%). Na literatura, várias fontes de forragens (feno de alfafa, feno de capim, capim fresco, silagem de milho) e concentrado foram utilizadas para estudos, mas nenhum deles avaliou mais que duas fontes de forragem sob as mesmas condições experimentais.
Assim, considerando a necessidade de maximizar o consumo de alimentos sólidos em bezerros, um grupo de pesquisa espanhol avaliou o potencial benéfico do fornecimento de diferentes fontes de forragens, de forma a determinar que fonte de forragem poderia melhorar o desempenho e saúde dos animais.
Para um conjunto de três experimentos foram utilizados 179 bezerros machos, com acesso a concentrado, e suplementados com diferentes fontes de forragens:
1) Feno de alfafa e feno de azevém;
2) Feno de aveia picado e palha de cevada picada;
3) Silagem de milho e silagem de triticale.
Após o período de adaptação, que foi até o 14º dia de vida dos bezerros, os animais passaram a receber, além do concentrado inicial, uma das fontes de forragem, exceto os animais do tratamento controle. O sucedâneo foi fornecido aos animais duas vezes por dia (4L/d) até o desaleitamento, que ocorreu no 57º dia de vida dos bezerros, sendo o experimento concluído quando os animais completaram 71 dias de vida.
As amostras de forragem, feno, palha de cevada e silagem; foram analisadas quanto a composição química, sendo avaliado a matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e matéria mineral (MM) (Tabela 1).
O consumo de concentrado inicial dos bezerros que receberam feno de alfafa foi semelhante ao dos animais do tratamento controle; no entanto, foi inferior ao consumo observado para os demais tratamentos com suplementação de forragem (Tabela 2). Por outro lado, o consumo de forrragem foi superior para animais suplementados com feno de alfafa e aveia, mostrando um possível efeito de substituição, quando a forragem fornecida é de alta qualidade (principalmente digestibilidade).
Apesar do maior consumo de forragem nos animais recebendo feno de alfafa, o consumo de matéria seca total foi similar ao dos animais do tratamento controle; o consumo de concentrado neste tratamento foi baixo.
Para os animais recebendo silagem, o consumo relativamente baixo da forragem pode ser explicado pelo potencial efeito negativo de alguns subprodutos da fermentação da silagem, como as aminas. Por outro lado, o alto teor de FDN e FDA pode ter potencialmente limitado o consumo dessas forragens. Neste estudo também foi observado uma diferença de consumo entre os animais recebendo feno de gramínea ou leguminosa. Oferecer uma leguminosa (feno de alfafa) não aumentou o consumo de matéria seca total e o desempenho dos bezerros, enquanto os bezerros que receberam uma gramínea apresentaram melhora no consumo de matéria seca total e também no desempenho. O baixo consumo de forragem observado em bezerros recebendo gramíneas pode ter melhorado o ambiente ruminal, que por sua vez pode ter contribuído para estimular o consumo de concentrado inicial, consumo de matéria seca total e melhorar o desempenho dos bezerros.
O ganho de peso foi maior para animais suplementados com fontes de forragens, exceto feno de alfafa, para bezerros durante a fase de aleitamento, fator relevante para a recomendação do fornecimento de forragem. O maior ganho de peso foi observado nos animais recebendo feno de aveia, silagem de triticale, e palha de cevada com o ganho de peso variando de 21 a 28% que o observado nos animais controle (Tabela 2).
Apesar das mudanças observadas no consumo e desempenho dos animais com o fornecimento de forragem, nenhuma diferença foi observada na eficiência alimentar ao longo do experimento (Tabela 2). Este resultado sugere que ao contrário do pensamento comum, o consumo de forragem não compromete a utilização dos nutrientes em bezerros. Entretanto, as principais pesquisas encontradas na literatura não observaram melhoras no consumo de matéria seca total quando parte do concentrado foi substituído por forragem durante o período de aleitamento.
Contudo, neste estudo foi concluído que o fornecimento de feno de gramíneas ou silagem, exceto feno de alfafa, melhora o ganho de peso e o consumo de matéria seca de bezerros durante o período de aleitamento, sem prejudicar a digestibilidade de nutrientes. O melhor desempenho dos animais foi obtidos com a suplementação de feno de aveia, palha de cevada ou silagem de triticale.
Referência
Castells, Ll; Bach, A.; Araujo, G.; Montoro, C.; Terré, M. Effect of different forage sources on performance and feeding behavior of Holstein calves. J. Dairy Sci. 95:286-293, 2012.
Comentários
A recomendação de não se fornecer volumoso vem sendo questionada, mesmo considerando-se seu pequeno benefício no que diz respeito ao desenvolvimento ruminal. No entanto, os baixos teores de FDN dos concentrados fornecidos comumente tem resultado em grandes variações no consumo pelos animais. É comum observar pequenos picos de consumo seguidos de reduções, provavelmente em resposta a alterações ruminais como baixo pH. Assim, principalmente em animais aleitados intensivamente, tem-se observado respostas interessantes, sem que ocorram reduções no consumo de concentrado, quando se fornece volumoso. Além disso, adequações nos teores de FDN dos concentrados podem reduzir a variação no pH ruminal. No entanto, quando volumoso de altíssima qualidade é fornecido, a exemplo do feno de alfafa, o que se observa é o menor consumo de concentrado, o que pode reduzir o desempenho e o desenvolvimento ruminal. Também interessante é o fato de que nos sistemas de criação em abrigos individuais como a casinha tropical, os animais tem forragem de boa qualidade para pastejo, o que pode ser observado já na terceira semana de vida. Assim, esta preocupação deve ser maior nos sistemas de criação com bezerreiros fechados ou abrigos em tanques de areia.