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Desempenho e saúde de bezerras leiteiras criadas em diferentes abrigos individuais

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E MARINA GAVANSKI COELHO

CARLA BITTAR

EM 30/03/2017

6 MIN DE LEITURA

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O estresse térmico em bezerras causa alterações fisiológicas e, consequentemente de comportamento, que fazem com que o animal diminua a ingestão de alimentos e reduza seu desempenho e saúde. Por esse motivo é preciso reforçar a importância do alojamento dos animais que além de limpo e seco, deve ser ventilado e fornecer sombra ao longo do dia. São vários os tipos de abrigo utilizados em sistemas individualizados e da mesma forma existe uma imensa variação de custos. Entretanto, qual o melhor modelo para a saúde e desempenho das bezerras?

Os abrigos individuais mais utilizados hoje em dia são o tipo “Tropical” e “Calf-Tel”. O abrigo do tipo “tropical” possui armação nas laterais vazadas que pode ser feita de diversos materiais e um telhado de material que evita a absorção de calor e garante uma área de sombra aos animais (Figura 1A). O abrigo “tropical” possui um valor mais acessível, entretanto em locais muito quentes pode predispor as fêmeas ao estresse térmico já que a área de sombreamento é bastante limitada em determinadas horas do dia. 
 
O alojamento “Calf-Tel” (Figura 1B) por sua vez é totalmente fechado com estrutura de polietileno, com abertura frontal e ventilação na parte de trás que garante sombra ao longo de todo o dia e uma boa ventilação. No entanto, pode ainda assim trazer problemas relacionados a maior temperatura interna associada a alta umidade. Além disso, seu custo é mais elevado.

Figura 1. (A) Abrigo “Tropical”, (B) Abrigo “Calf-Tel”. 

Desempenho e saúde de bezerras leiteiras criadas em diferentes abrigos individuais

Em um trabalho desenvolvido por Peña et al., (2016), foram comparados dois tipos de abrigos individuais e seus efeitos no desempenho e saúde de bezerras leiteiras em aleitamento:

- um abrigo bastante parecido com o nosso abrigo tropical, feito de laterais de arame e telhado de madeira, ao qual vamos denominar de “Arame” também e;

- o “Calf-Tel”. 

Os animais foram criados no verão (junho a agosto) em condições subtropicais com temperaturas que variavam de 21,1 a 32,5º C e umidade relativa do ar em média de 92,9%. O índice de temperatura e umidade (ITU) para os três meses foi de em média 79,2, enquanto os abrigos tiveram valores médios de 78,2 e 78,8 para o “Calf-Tel” e “Arame”, respectivamente.

A precipitação ao longo do experimento foi de 147,8; 193,0 e 202,4 para os meses avaliados. O ITU estima a magnitude do estresse térmico. Em vacas holandesas adultas, o ITU entre 72 a 77 é capaz de reduzir a produção de leite, entretanto não se sabe ao certo esse valor para bezerros.

Foram utilizadas 100 fêmeas de raça holandesa ou mestiças Jersey alocadas após a colostragem em um dos dois modelos de alojamento. O abrigo “Arame” permaneceu em uma área arborizada enquanto o alojamento “Calf-Tel” esteve em uma área exposta a luz solar direta. O experimento teve duração de nove semanas (tempo necessário para o desaleitamento dos animais). As fêmeas eram pesadas ao nascimento e ao desaleitamento e submetidas semanalmente à avaliação de escore de saúde (frequência respiratória, temperatura retal, escore fecal, descarga nasal, descarga ocular e posicionamento de orelha).

Ao longo do experimento notou-se aumento das taxas respiratórias dos bezerros alojados em “Calf-Tel” comparados aos bezerros em alojamento do tipo “Arame” (Figura 2). Às 9h a frequência respiratória e temperatura retal em ambos os tratamentos foram iguais, entretanto às 15h as taxas respiratórias de bezerros em “Calf-Tel” foram de 30 respirações por minuto superiores. Essa maior taxa pode ser atribuída à adaptação fisiológica ao tipo de abrigo. Por outro lado, a menor taxa observada para animais alojados nos abrigos tipo “Arame” pode ser justificada pela sombra suplementar utilizada.

Figura 2. Taxa respiratória de 26 bezerros alojados em abrigos de arame (■) ou calf-tel (▲) as 9h am e as 3h pm.

Desempenho e saúde de bezerras leiteiras criadas em diferentes abrigos individuais

Os altos valores de ITU registrados no presente estudo (acima de 77) podem explicar a elevação das temperaturas retais e das frequências respiratórias em bezerros durante o período da tarde (especialmente nos abrigos), uma vez que esta pode ser uma resposta fisiológica à alta temperatura ambiente e à umidade.

Não houve diferença estatística (p<0,05) no ganho de peso dos animais durante a fase de aleitamento (Tabela 1). A proteína sérica dos animais foi realizada a fim de detectar falhas de imunidade passiva dos animais, que não ocorreram.

Tabela 1. Dados de proteína sérica e desempenho das bezerras de diferentes raças em diferentes abrigos.

Desempenho e saúde de bezerras leiteiras criadas em diferentes abrigos individuais

Quanto aos dados de saúde (Tabela 2), os animais criados em abrigo do tipo “Arame” tiveram um maior número de casos de descarga ocular, tosse e de necessidade de intervenção por médico veterinário. Com base nisso, os autores enfatizaram que os animais criados nesse tipo de abrigo ficaram um maior número de vezes doentes e tiveram maior gasto com medicamentos e tratamento.

Tabela 2. Frequência de bezerros categorizados nos escores de saúde baixos e proporção de animais que receberam tratamento veterinário.

Desempenho e saúde de bezerras leiteiras criadas em diferentes abrigos individuais

O experimento demonstra a importância do controle do estresse térmico nas bezerras para o desempenho e saúde destes animais. Embora ambos os abrigos tenham apresentado dados de desempenho parecidos, os gastos com a saúde dos animais em abrigo tipo “Calf-Tel” foi bastante reduzido, demonstrando que esse tipo de abrigo se adaptou melhor às condições ambientais apresentadas nesse experimento.

Comentários

A individualização de bezerros tem sido utilizada principalmente para reduzir a disseminação de doenças, mas também para permitir maior controle do consumo de dieta sólida dos animais. Variados tipos de abrigos podem ser utilizados com sucesso, desde que aspectos relacionados ao ambiente adequado (limpo, seco, ventilado) que resultem em bem-estar animal sejam considerados.

As gaiolas suspensas são práticas por alojarem os animais num menor espaço, mas exigem bom manejo de limpeza, muitas vezes com troca de cama e lavagem de galpões que devem ser bem ventilados para reduzir umidade relativa do ar. Já os abrigos, permitem maior locomoção dos animais, mas exigem muitas vezes que sejam trocados de lugar ou que a cama seja trocada. Alguns abrigos podem resultar em maior estresse térmico quando não tem projeção de sombra disponível e adequada durante todo o período do dia.

Os abrigos fechados provem esta sombra, mas muitas vezes têm problemas de ventilação e são muito quentes, fazendo com que o bezerro possa preferir se deitar ao sol nos horários mais quentes do dia. O trabalho relatado mostra diferenças nestes abrigos, muito embora a sombra suplementar tenha sido utilizada na área com abrigos de arame, bem parecidos com as casinha tropicais.

A sombra suplementar tem sido uma ótima estratégia para aumentar o bem-estar dos animais no verão, mas deve-se atentar para que não seja demasiada. Áreas muito sombreadas também podem trazer problemas por não permitirem a incidência de sol que é importante para manter a área seca. Assim, nem tanto o sol e nem tanto a sombra.

Referências bibliográficas

G. Peña, C. Risco, E. Kunihiro, M-J. Thatcher, and P. J. Pinedo. 2016. Effect of housing type on health and performance of preweaned dairy calves during summer in Florida. J. Dairy Sci. 99:1655–1662.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

MARINA GAVANSKI COELHO

Mestranda em Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/04/2017

Mário Sergio,

Este ano completei 10 anos escrevendo mensalmente para o Radar Técnico de Animais Jovens e temos tido bastante sucesso com nossos artigos, sendo muitas vezes o mais lidos do mês. A ideia do radar é exatamente disponibilizar ao produtor resultados de artigos científicos que muitas vezes tem linguagem inacessível ou muito técnica. Se você der uma olhada em artigos anteriores vai ver que estamos sempre atendendo demandas por informações que partem dos próprios produtores que me consultam em palestras, e-mail e até mesmo por telefone. Sugira temas para nossos radares! Vamos nos esforçar pra trazer estas informações em linguagem ainda mais acessível. Muito obrigada pelo retorno!

Abs.,

Carla
CARLA BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/04/2017

Murilo,

os animais recebiam 4L/d de leite descarte ajustado para sólidos de 13%. Não se espera ganhos muito maiores do que estes com este volume e qualidade de dieta líquida, mas com toda certeza o THI tem efeito no consumo de concentrado e na ocorrência de doenças. calor e umidade criam ambiente perfeito para aumento de bactérias e consequentemente na ocorrência de diarreias. Quando conseguimos maiores taxas de crescimento durante o período de aleitamento temos maior potencial de produção de leite futuro destas fêmeas. Assim, tudo aquilo que possa aumentar consumo e reduzir doenças deve ser visto como estratégia para aumentar o potencial de produção do rebanho, já que as fêmeas de reposição serão de melhor qualidade.

Abs.,

Carla
MÁRIO SERGIO CENTINI

OSASCO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/04/2017

Como em todas as publicações que se apresentam com artigos técnicos, esta mostra detalhres científicos que podem esclarecer ou complementar outros artigos, porém é pouco prático para nós simples mortais, produtores, nem sempre com acesso a assistência de profissionais tão capazes e gabaritados como as professoras.

Sugiro sejam publicados artigos com linguagem mais acessível, e com resultados práticos.

Vão nos ajudar muito.
MURILO ROMULO CARVALHO

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 31/03/2017

Olá prof. Carla e Marina, primeiramente parabéns pelo artigo, muito interessante a abordagem, traz a tona um tema ainda negligenciado no Brasil. Apesar de não mostrar diferenças entre os grupos, nota-se que o ganho de peso diário foi bastante baixo (menos de 0,5kg/bezerra/dia). Além disso, a incidência de diarreia foi bastante alta. Isso considerando que houve uma adequada colostragem e o manejo alimentar parece bem próximo do que consideramos ideal, correto?

Assim, vocês não acreditam que o alto THI esteja deprimindo o desenvolvimento dessas bezerras e consequentemente tornando-as predispostas à doenças? Apesar do experimento terminar no desmame das bezerras, tudo isso não poderia até afetar o desempenho futuro, por exemplo a produção de leite na primeira lactação?

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