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Desempenho de novilhas em pastejo de grama estrela: existe necessidade de suplementação?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 10/10/2006

9 MIN DE LEITURA

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Introdução

Várias estratégias utilizando forragem suplementar ou suplementos concentrados têm sido empregadas para melhorar o desempenho de ruminantes em regiões tropicais, principalmente com o objetivo de reduzir a perda de peso durante o período de estiagem.

A cana-de-açúcar é considerada como um importante recurso forrageiro devido à sua grande produção de matéria seca quando comparada a outras forragens. Entretanto, devido ao seu baixo conteúdo em nitrogênio, ou seja, baixo teor de proteína, existe a necessidade de suplementação de fontes de nitrogênio degradável no rúmen, como a uréia, e de fontes de proteína sobrepassante (bypass).

Este experimento foi conduzido em região tropical úmida do México, onde pastejo sem suplementação é o principal sistema de alimentação (Herrera et al., 1998), mesmo com dois períodos críticos de disponibilidade de forragens: o inverno (outubro a fevereiro) e o período de estiagem (março a maio).

Entretanto, normalmente ocorre sobre de forragem durante o período chuvoso. A lotação é normalmente baixa, variando entre 0,2 e 2 animais/ha (Herrera et al., 1998), embora exista grande potencial de aumento para 4 a 8 animais/ha quando se faz uso de forragem suplementar ou suplementação protéica.

A suplementação de forragens tropicais com a cana-de-açúcar corrigida com uréia normalmente causa um efeito substitutivo no consumo de forragem (González et al., 1989), associado com baixa digestibilidade e longo tempo de retenção de componentes da parede celular (Aroeira et al., 1993). Uma vez que o teor de proteína é extremamente baixo, não se espera uma resposta positiva com relação ao desempenho animal quando não é feita, concomitantemente, uma suplementação com fontes de proteína degradável no rúmen.

Aranda et al. (2001) avaliaram a importância da correção da cana-de-açúcar com uréia e a suplementação protéica de novilhas em sistema de pastejo de grama estrela, como base para um sistema de produção melhorar ou manter taxas de ganho de peso durante períodos críticos de disponibilidade de forragem.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em Cardenas no México, na região de Tabasco, durante o período de agosto de 1997 e janeiro de 1998, com temperatura média de 25,9 ºC e umidade relativa de 80%.

Foram utilizadas 32 novilhas meio-sangue (Bos taurus x Bos indicus), com peso inicial de 242 ± 13 kg. Os tratamentos consistiram de pastejo de grama estrela sem suplementação, cana-de-açúcar fornecida como 3% do peso vivo dos animais sem ou com uréia (1% da matéria verde), e cana-de-açúcar com uréia mais suplementação protéica (1 kg/animal/d). O suplemento protéico era composto de farinha de sangue (10%), cama de frango (50%), resíduo de arroz (25%) e melaço (15%), contendo 23,4% de PB e 44,7% de NDF.

Todas as manhãs as novilhas eram presas individualmente em baias para o fornecimento de cana (das 8 às 12h) e do suplemento protéico (das 12 às 13h), para os animais consumindo estes alimentos. O consumo de cana fresca variou de 7 a 10 kg/animal/d.

Depois disso, todas as novilhas retornavam ao pasto de grama estrela com lotação de 6 novilhas/ha ou 1,3 UA/ha, valor superior ao observado na região. Assim, os animais tinham acesso ao pasto das 13h até às 8h da manhã seguinte. Todos os animais pastejavam juntos, em um único lote, sendo alternadas 2 áreas de pastagens mensalmente. Os animais tiveram livre acesso à água e sal mineral. O peso dos animais foi obtido através da média de três pesagens consecutivas uma vez ao mês.

Amostras de forragem foram cortadas de 5 quadrados de 0,5m2, a 10 cm do nível do solo, no início e no final de cada ciclo de pastejo. No dia 120, administrou-se óxido de cromo para as novilhas em uma única dose de 5g diários durante 15 dias, para determinação da digestibilidade. Durante estes 15 dias foram realizadas colheita de amostras de cana e de suplemento protéico, a cada 3 dias. Amostras de fezes também foram colhidas nos últimos 5 dias, sendo compostas por animal.

Resultados e Discussão

A Tabela 1 apresenta as mudanças na composição química das forragens durante o experimento. Conforme esperado, o conteúdo de proteína e a digestibilidade da grama estrela variaram significativamente de setembro a dezembro. Não foram observadas diferenças significativas nos teores de proteína da cana-de-açúcar corrigida ou não durante os meses de condução do experimento.

Tabela 1. Composição químico-bromatológica das forragens durante o experimento.


* Digestibilidade in situ às 72h de incubação em garrotes canulados no rúmen
a,bMédias seguidas de diferentes letras sobrescritas diferem estatisticamente com P<0,05.

A disponibilidade de grama estrela foi maior (P<0,01) durante o mês de setembro (4,4 ton MS/ha) do que durante os meses de outubro (1,13 ton MS/ha) e dezembro (1,87 ton MS/ha). A menor digestibilidade observada para a grama estrela durante o mês de dezembro deve estar provavelmente associada a menor proporção de folhas (10,34% PB) e maior de caule (4,37% PB). Houve uma tendência de menor digestibilidade da cana corrigida com uréia quando comparada a cana sem uréia devido a solubilização de carboidratos em água.

As maiores taxas de ganho de peso foram observadas em novilhas recebendo cana corrigida com uréia e suplemento protéico. A adição de uréia tendeu a reduzir o consumo de cana-de-açúcar e a aumentar o consumo de forragem, resultando em consumo de nutrientes bastante similares (Tabela 2).

O ganho de peso apresentou uma relação positiva com o consumo de proteína e negativa com o consumo de NDF, o que explica diferenças entre os tratamentos. Não houve diferenças na digestibilidade de proteína bruta, entretanto houve tendência para maiores digestibilidades da matéria seca, NDF e ADF no grupo controle (Tabela 2).

Tabela 2. mudanças no peso, consumo e digestibilidade de nutrientes pastejando grama estrela e suplementadas com cana, uréia e suplemento protéico.


a,bMédias seguidas de diferentes letras sobrescritas diferem estatisticamente com P<0,01.

A cana-de-açúcar tem sido reconhecida como importante fonte de energia, principalmente carboidratos solúveis de alta digestibilidade, mas com baixo teor de proteína. A composição química da cana com e sem uréia e da grama estrela foi similar àquela observada em outros estudos. Mudanças na composição e disponibilidade de forragens são normalmente associadas a efeitos de temperatura e precipitação no crescimento da planta, o que afeta a relação folha:caule.

Para se obter um consumo máximo em pastejo, deve-se ter um mínimo de 3,6 t MS/ha de disponibilidade de forragem. Considerando um consumo médio diário de MS de 8,8 kg/animal neste estudo, a disponibilidade de forragem não foi limitante durante o mês de setembro, havendo uma sobra de produção. Entretanto, de outubro a dezembro, houve um déficit de 2,17 kg MS/animal/d, período este em que a cana se torna uma importante fonte de forragem suplementar, mantendo o ganho de peso dos animais e compensando variações sazonais na composição da forragem.

Os ganhos de peso diário observados foram similares aos reportados na mesma área de estudo, sem suplementação e com taxa de lotação entre 1 ou 2 animais/ha (Pérez & Meléndez, 1980). Neste estudo a taxa de lotação foi de 6 novilhas/ha, demonstrando que a cana-de-açúcar pode aumentar ganhos/ha, ou seja, produtividade.

A proteína degradável e não degradável no rúmen (bypass) têm sido consideradas como fator limitante na utilização de cana-de-açúcar por ruminantes. A adição de 1% de uréia permite o atendimento da exigência de 3 g de proteína degradável no rúmen/100 g de matéria org6anica fermentável. A adição de 1% de uréia, representou 3,6% de matéria seca de cana. Em vários estudos o consumo de suplementos tem sido reduzido quando a uréia é a principal fonte de nitrogênio quando comparado a fontes de proteína verdadeira, fato normalmente associado a baixa palatabilidade.

Quando a cana-de-açúcar sem correção foi fornecida, o consumo de proteína e de grama estrela foi reduzido, sendo a digestibilidade da MS a menor entre todos os tratamentos. Vários trabalhos demonstram que a digestão de FDN pode ser restrita em condições de baixo pH ruminal, comum em situações com alto teor de carboidratos solúveis como é o caso da cana-de-açúcar, demonstrando efeito associativo negativo destas forragens, similarmente ao que ocorre com o fornecimento de grãos.

Conclusões

A suplementação com cana-de-açúcar corrigida com uréia, na quantidade equivalente a 3% do peso vivo dos animais, juntamente com 1 kg de suplemento protéico, é uma boa estratégia para se obter maior desempenho de novilhas mestiças mantidas em pasto de grama estrela em regiões tropicais úmidas.

Referências

Alvarez, F.J., Preston, T.R., 1976. Studies on urea utilization in sugar cane diets: effect of level. Trop. Anim. Prod. 1, 98-104.

Aranda, E., Mendoza,G.D, Garcýa-Bojalil,C., Castrejon, F. Growth of heifers grazing stargrass complemented with sugar cane, urea and a protein supplement Livestock Production Science 71 (2001) 201-206.

Aroeira, R.S., Lizieire, R.S., Matos, L.L., Figueira, D.G., 1993. Rumen degradability and rate of passage of sugar cane urea based diets, supplemented with cottonseed or rice meals in Holstein3Zebu steers. J. Anim. Sci. 71 (Suppl.1), 273.

Gonzalez, R., Munoz, E., Gonzalez, R.M., 1991. Efecto de la suplementacion nitrogenada en el consumo y tamano de partýculas ruminales y fecales en vacas alimentadas con forraje de cana de azucar. Rev. Cubana Cienc. Agric. 3, 255-259.

Herrera, H.J.G., Mendoza, M.G.D., Hernandez, G.A., 1998. La Ganaderýa Familiar en Mexico. Instituto Nacional de Estadýstica Geografýa e Informatica, Aguascalientes.

Perez, P.J., Melendez, N.F., 1980. La respuesta fisiologica de las forrajeras al manejo. Rama de Ciencia Animal. Boletýn CA-5. CSAT-SARH, H. Cardenas Tabasco.

Comentários

O trabalho mostra a importância da suplementação de novilhas com forragens ou suplementos concentrados na manutenção do ganho de peso de animais em crescimento durante o período de restrição ou menor valor nutritivo da forragem. No Brasil, assim como no México, local onde foi conduzido o trabalho, a recria de novilhas leiteiras é normalmente realizada em sistemas de pastejo rotacionado ou não.

Um grande problema observado nestes sistemas, que afeta de forma marcante o desempenho destes animais, reduzindo a idade à puberdade e conseqüentemente a idade ao primeiro parto, é a disponibilidade de forragem no período da seca e/ou menor valor nutritivo em determinadas épocas do ano. Como novilhas não são animais que trazem retornos econômicos diários, como ocorre com vacas em lactação, muitas vezes o produtor não faz suplementação destes animais na tentativa de reduzir custos de produção do rebanho.

Entretanto, como já foi comentado em outros radares técnicos, o aumento nas idades a puberdade e ao primeiro parto podem afetar de forma marcante o custo de produção da novilha de reposição. Em várias situações a suplementação, seja com forragens ou com concentrados, de novilhas durante períodos críticos é mais vantajosa economicamente do que a manutenção destes animais por períodos mais longos dentro desta categoria animal.

Mesmo com suplementação de cana corrigida com uréia e suplemento protéico, as taxas de ganho de peso observada neste estudo ainda estão aquém daquelas recomendadas na literatura para se obter animais entrando em produção aos 24 meses.

No Brasil, têm-se realizado tradicionalmente a suplementação de novilhas com 2 a 3 kg de concentrado com 18% de PB e 70% de NDT para novilhas em crescimento mantidas em pastejo. Mesmo assim, nem sempre estes sistemas resultam em taxas de ganho de peso adequadas, embora muitas vezes outras falhas, que não a nutrição, estejam ocorrendo.

A recria de novilhas em sistemas baseados em pastagens tropicais, com taxas de ganho adequadas, é mais difícil do que parece, embora não seja impossível. Para aqueles que têm conseguido ganhos de peso diários de 700-800g/d em pastagens tropicais com suplementação de 2 kg de concentrado durante todo o ano: parabéns !!!

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 21/06/2010

Caro Pedro,
Este é um trabalho de pesquisa conduzido na época em que ainda era permitido o uso de cama de frango para alimentação de bovinos. Hoje temos que recorrer a outros ingredientes para a suplementação.
Att.,
Carla Bittar
PEDRO BERNARDO

SANTO ANDRÉ - SÃO PAULO

EM 18/06/2010

lamentavel a adiçao de cama de frango na suplemtançao acima citada.
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 23/04/2010

Caro Paulo,
Tudo depende do potencial de produção dos seus animais, assim como da qualidade da forragem que estes animais estão consumindo. A suplementação normalmente é necessária para animais produzindo acima de 10kg de leite, mas sugiro que você procure um técnico na sua região para auxilia-lo no manejo nutricional do rebanho.
Att.,
Carla Bittar
PAULO HENRIQUE LOUREIRO NUNES

SÃO MATEUS - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/04/2010

Boa noite Dra Carla,

Gostaria de saber sobre a nutrição , comprei uma ordenhadeira mecânica balde ao pé e quero ordenhar duas vezes ao dia , posso deixar as vacas só no no pasto ou tenho que dar ração ?ou que fazer ?

Grato ,

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