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Comparação da administração do colostro através de sonda esofágica e mamadeira

CARLA BITTAR

EM 08/03/2006

10 MIN DE LEITURA

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Por Carla Maris Bittar 1 e Vanessa Pillon dos Santos 2

O adequado fornecimento de colostro é um fator importante à sobrevivência, a saúde e o desenvolvimento de bezerros recém nascidos. Devido ao tipo de placenta dos bovinos (sindesmocorial), a transferência de imunoglobulinas (Ig) da mãe para o feto não ocorre do útero.

Assim, ao nascer, os bezerros não apresentam imunoglobulinas circulantes, de forma que sua proteção contra patógenos do meio ambiente depende exclusivamente da transferência de imunidade através do consumo de quantidades adequadas de colostro de boa qualidade.

O aumento da mortalidade neonatal não está associado apenas à baixa absorção de anticorpos (Falha na Transferência Passiva - FTP), mas também a efeitos de longo prazo como a saúde animal, o ganho de peso diário e até mesmo na produção de leite.

Conforme Werner (2003), a quantidade de Ig no colostro tem grande variação entre vacas, sendo observadas concentrações entre 25 a 100 g/L. Além disso, a eficiência aparente da absorção de Ig pelos bezerros dentro das primeiras horas de vida também é variada Quigley e Drewry (1998).

O maior risco relativo de mortalidade de bezerros é observado com concentrações sanguíneas menores que 5 g/L de IgG, contudo para evitar a FTP as quantidades de IgG após 24 a 48 horas devem ultrapassar 10 g/L. Recomendando-se então um volume de 4 L de colostro dentro das 12 primeiras horas após o nascimento.

Altas taxas de falha na transferência de imunidade passiva são observadas em sistemas de produção onde não se tem controle sobre os bezerros logo após o nascimento, sendo permitido que estes mamem colostro diretamente de suas mães. Esta prática leva geralmente a baixo consumo de colostro nas primeiras horas de vida. Entretanto, mesmo com o fornecimento controlado de colostro com a utilização de baldes, raramente se observa consumo voluntário superior a 2,5 L em uma única refeição.

De forma a assegurar ingestão de uma quantidade maior de colostro, a utilização de sonda esofágica tem sido recomendada. Entretanto, ainda existe grande resistência na adoção desta prática devido aos efeitos deletérios na saúde do animal que a falha no fechamento da goteira esofagiana possa causar.

Kaske et al. (2005) conduziram trabalho com o objetivo de examinar se a administração de colostro através de sonda esofágica representa um método seguro e resulta em concentração adequada de IgG no soro de bezerros recém nascidos comparando com bezerros alimentados com 2 L de colostro utilizando mamadeira.

Material e Métodos

Experimento 1

Para avaliar se o fornecimento do colostro via sonda esofágica ou mamadeira é um método eficaz na concentração e absorção de Ig, foram utilizados 36 bezerros recém nascidos, provenientes de partos assistidos, mas sem intervenção (eutócicos).

O colostro necessário para a alimentação dos bezerros foi ordenhado até 30 minutos após o parto. Vinte e um bezerros receberam colostro fresco uma hora após o nascimento, em uma quantidade de 2 L, através de mamadeira provida de bico de silicone. Seis bezerros deste grupo não consumiram voluntariamente o colostro no período de 15 minutos, sendo então o restante fornecido via sonda esofágica. O segundo grupo de bezerros (15 animais) foi alimentado com 4 L de colostro uma hora após o nascimento utilizando sonda esofágica.

Os animais foram alojados em casinhas individuais, recebendo 4 L de substituto do leite, divididos em 2 refeições.

Coletas de sangue através da veia jugular foram realizadas antes do fornecimento do colostro e 12, 24, 48, 96, 120, 144, 168 e 336 horas após o nascimento, para análise do teor de proteína no plasma. A concentração de Ig foi determinada em amostras coletadas antes e 24h após o fornecimento de colostro.

Figura 1. Animal recebendo colostro através de mamadeira ou sonda esofágica

 


Experimento 2

Com um intuito de caracterizar a cinética de absorção de Ig outro experimento foi realizado utilizando 10 bezerros, sendo estes divididos em dois grupos submetidos aos mesmos tratamentos do experimento 1. Dezessete amostras foi coletada em intervalos curtos de 72 horas após o nascimento para análise da concentração de Ig e proteína total no plasma.

Resultados

As concentrações de Ig total no soro antes do fornecimento do colostro foram insignificantes na maior parte dos animais, como mostra a tabela 1. As concentrações de Ig no colostro das vacas foram extremamente variáveis com uma média de 49,8 g/L. As concentrações de Ig de bezerros alimentados via sonda esofágica foi aproximadamente 80% superior quando comparados às concentrações de bezerros alimentados com mamadeira 24 horas após o nascimento.

Tabela 1. Concentração total de Ig no soro do colostro antes da suplementação e 24 horas após o nascimento de bezerros alimentados com 2 L de colostro 1 hora pós-nascimento via mamadeira ou 4 L de colostro 1 hora pós-nascimento via sonda esofágica.

 


A concentração de proteína total no plasma antes da ingestão de colostro apresentou média de 43,7 g/L. Após 12 horas a concentração aumentou 10,7 ± 4,7 nos bezerros alimentados com 2 L de colostro, sendo observado um aumento significativamente maior (14,0 ± 7,0) em bezerros que receberam 4 L de colostro via sonda esofágica (Figura 2).

Durante todo o período de monitoramento, a concentração plasmática de proteína total em bezerros que receberam 2L de colostro permaneceu menor do que a observada em bezerros que receberam 4L de colostro. Nos dois grupos a concentração plasmática de proteína total reduziu de forma significativa em aproximadamente 5g/L no final da segunda semana, quando comparada a primeira semana de vida.

Figura 2. Mudanças na concentração plasmática de proteína total durante 2 semanas após o nascimento de bezerros alimentados com 2L de colostro via mamadeira (o) ou 4 L de colostro via sonda esofágica (■).

 


Experimento 2

As concentrações totais de imunoglobulinas aumentaram em bezerros alimentados com 2L de colostro através de mamadeira, logo 2h após o fornecimento (Figura 3). Em animais alimentados via sonda esofágica, um aumento significante foi observado 3h após o fornecimento quando comparado a animais pré-colostro.

Uma tendência estatística foi observada para maiores concentrações de imunoglobulinas séricas em animais alimentados com mamadeira na 4a, 5a e 6a, hora após o nascimento (P<0,10).

A máxima concentração de imunoglobulinas foi observada em animais alimentados com mamadeira 6h após o nascimento, uma vez que não houve diferença entre as médias observadas entre 6 e 72h. Entretanto, em bezerros alimentados via sonda, o plateau foi superior ao observado em bezerros alimentados via mamadeira, embora tenha ocorrido mais tarde (8h).

Figura 3. Mudanças na concentração de imunoglobulina total e proteína total, durante 72h após o nascimento de bezerros alimentados com 2L de colostro via mamadeira (o) ou 4L de colostro via sonda esofágica (■)

 


Mudanças nas concentrações plasmáticas de proteína total foram comparáveis às mudanças observadas na concentração de imunoglobulinas em ambos os grupos.

A quantidade total de imunoglubulinas do colostro e a concentração total de imunoglobulinas no plasma 24h após o nascimento foram correlacionadas linearmente (Ig (g/L)=1,81+0,127x, onde x= quantidade total de Ig fornecida), de forma significativa.

A associação da concentração total de imunoglobulina plasmática 24h após o nascimento e a concentração de proteína total 24h após o nascimento foi de ordem quadrática (PT= (g/L)=45,7+0,70x-0,005x2, onde x=concentração de Ig total).

Discussão

Bezerros alimentados via mamadeira receberam 2 L de colostro uma vez que este é o volume ingerido de forma voluntária pela maior parte dos animais saudáveis, dentro de um período de 15 minutos. Deste modo, a FTP (definida como a concentração de Ig <10g/L) pôde ser evitada em 77% dos bezerros deste tratamento. Os resultados confirmam a recomendação do fornecimento de 4 L de colostro dentro das primeiras 12 horas pós-nascimento para assegurar uma adequada imunidade passiva.

Porque fornecer o colostro logo após o nascimento?

(1) Devido à maturação das células do epitélio intestinal ocorre redução na taxa de absorção de Ig dentro das primeiras horas pós-nascimento. Assim, o rápido fornecimento de colostro aproveita a máxima capacidade de absorção de Ig no intestino em animais recém-nascidos.

(2) O tempo de administração permite ignorar a variação da concentração de Ig no colostro de vacas individualmente. A alta taxa de absorção deverá compensar, pelo menos em parte, a menor concentração de Ig no colostro fornecido.

(3) Imediatamente após o nascimento o bezerro é exposto a vários microrganismos ambientais, que irão contaminar o mesmo oralmente, nasalmente ou ainda pelo cordão umbilical. Uma vez que o tempo de geração destes microrganismos é de aproximadamente 20 minutos, os bezerros precisam de proteção provida por Ig colostral o mais cedo possível para minimizar a proliferação de infecções.

Os resultados deste estudo demonstram que o fornecimento de colostro através de sonda esofágica é uma maneira segura e confiável de garantir adequada imunidade passiva a bezerros recém-nascidos. Entretanto, o adequado uso da sonda é essencial para evitar problemas na faringe do animal ou até problemas com pneumonia.

Em contraste com bezerros que mamam naturalmente em suas mães ou ingerem colostro via mamadeira, o fechamento da goteira esofageana não ocorre em bezerros quando se introduz a sonda como mostrado claramente em estudo utilizando raio x (Lateur-Rowet & Breukink, 1983).

Assim, inicialmente o colostro entra no retículo-rúmen, o qual apresenta um volume bem menor que o abomaso em bezerros recém-nascidos. Os resultados deste estudo indicam que a passagem de colostro do retículo-rúmen para o abomaso ocorre rapidamente, como demonstrado pelo pequeno atraso (2-3h) na absorção de imunoglobulinas em bezerros alimentados via sonda.

Conclusões

Resultados desse estudo confirmam que o fornecimento de colostro via sonda esofágica, quando utilizado de forma correta, é um método seguro e confiável para estabelecer imunidade passiva em bezerros recém nascidos. O fornecimento forçado de colostro (sonda esofágica) deve ser recomendado como rotina em propriedades onde doenças neonatais são atribuídas à falhas na colostragem. O fornecimento forçado não é necessário em rebanhos sem problemas com morbidade ou mortalidade, especialmente quando concentrações adequadas de Ig podem ser conseguidas com o fornecimento de duas refeições de colostro de alta qualidade.

Referências Bobliográficas

Kaske, M.; Wernwe, A.; Schuberth, H.J.; Rehage, J.; Kehler, W. Colostrum management in calves: effects of drenching vs. bottle feeding. Journal of Animal Phisiology and Animal Nutrition. 89: 151-157, 2005.

Quigley, J.D. III; Drewry, J.J. Nutrient and immunity transfer from cow to calf pre- and postcalving. Journal of Dairy Science. 81, 2779-2790, 1998.

Comentários:

O trabalho confirma a eficácia na transferência de imunidade passiva quando animais recebem colostro através de sonda esofágica. Como foi discutido, ainda existe uma preocupação com o uso de sonda devido ao fato do colostro entrar no retículo-rúmen, alterando o tempo para absorção de Ig no intestino. O trabalho demonstrou de forma clara que, mesmo com o atraso, a colostragem via sonda esofágica resulta em adequadas concentrações de proteína plasmática total e de imunoglobulinas plasmáticas totais.

Entretanto, os autores forneceram o dobro da quantidade de colostro para estes animais, o que pode interferir nos resultados, uma vez que se compara o fornecimento de 2 e 4L de colostro. Resta saber se o fornecimento de 2L de colostro via sonda esofágica também resulta em transferência de imunidade passiva adequada. A prática mostra que sim.

Um ponto importante a ser tratado é a necessidade de treinamento da pessoa responsável pela colostragem dos animais recém-nascidos, principalmente em relação aos seguintes aspectos:

• Preferencialmente o animal deve ser posicionado em pé em um canto da instalação, uma vez que a introdução da sonda em animais deitados requer maiores cuidados.

• A introdução da sonda acima da língua deve ser associada ao ato de engolir, com a mínima excitação do animal e força externa. Se o bezerro se mostra relutante em engolir, fazê-lo mamar em um dos dedos pode facilitar, uma vez que a produção de saliva aumentará, fazendo com que o bezerro tenha que engolir.

• Fisiologicamente, um bezerro não pode engolir se sua cabeça está sendo puxada para cima e para trás. Deixe o bezerro com a cabeça um pouco à baixo, facilitará a passagem da sonda.

• Antes do fornecimento do colostro, certifique-se que a sonda não está na traquéia para evitar problemas pulmonares.



____________________________________
1 Depto. de Zootecnia - ESALQ/USP - carla@esalq.usp.br
2 Aluna de Mestrado em Ciência Animal e Pastagens - ESALQ/USP

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FLAVIO ALMEIDA

ILHÉUS - BAHIA - ESTUDANTE

EM 12/09/2007

Gostaria de saber se é possível estimular o fechamento da goteira esofagiana através de um fornecimento mínimo de leite (ex; 200 ml) e em seguida completar com 3,8 litros de leite via sonda esofágica. Esse procedimento pode aumentar a quantidade de leite no abomaso no momento da aplicação quando comparado ao uso somente da sonda?

<b>Resposta da autora:</b>

Flávio,

Se esta for uma preocupação com relação ao fornecimento de colostro, lembre-se que a nascer o rúmen destes animais é não-funcional e muito
pequeno. Assim, mesmo que o colostro entre no rúmen devido ao não fechamento da goteira esofageana, sua passagem para o omaso e abomaso será rápida. Vários trabalhos mostram que não há prejuízos na aquisição de imunidade passiva devido ao fornecimento de colostro através da sonda.

Se o bezerro mamar o colostro voluntariamente será melhor pois muitos bezerros se estrassam com a passagem da sonda. Mas, se o bezerro não mostrar interesse, passe a sonda e garanta a imunidade de seus bezerros. Não se esqueça de fornecer sempre colostro de boa qualidade.

Boa semana,
Carla Bittar

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