Durante o transcorrer do parto, os bezerros são sujeitos a uma carga considerável de stress. Este stress pode ser associado a uma falta de oxigênio, comum durante o parto, quando as membranas fetais são rompidas e as contrações uterinas se iniciam ou simplesmente o resultado da habilidade/inabilidade do bezerro para iniciar a respiração espontânea. Freqüentemente isto resulta no animal nascer com acidose.
O termo acidose refere-se a um desbalanço ácido-base que resulta num pH que desvia do que seria considerado "normal". O pH normal para mamíferos adultos é considerado como sendo entre 7,35 e 7,40 quando o sangue arterial é analisado. Todavia, embora uma faixa de pH entre 7,20 e 7,80 é considerada anormal, mas sem perigo de vida, durante o período pós parto. Em casos de animais nascerem com acidose, freqüentemente a compensação ocorre naturalmente.
A acidose ao parto pode ser resultado de uma série de "desafios" que o bezerro encontra durante o parto e nas primeiras horas de vida. A alteração do pH é causada por um de dois fatores: a porção básica do sistema ácido-base, é representada pelo íon bicarbonato ou a porção ácida, o dióxido de carbono. A glicólise anaeróbia excessiva, comum durante períodos de disponibilidade limitada de oxigênio para os tecidos, como no processo de parto, resulta na produção de ácido lático. O ácido lático é um ácido forte que é tamponado (neutralizado) pelo íon bicarbonato (HCO3). Consequentemente, o bicarbonato é excretado num esforço do organismo para compensar o aumento dos ácidos no sistema. Isto é chamado de acidose metabólica. A acidose respiratória, por outro lado, é causada pela alteração do nível de dióxido de carbono, resultando em aumento da concentração do mesmo. A medida clínica mais comum para o dióxido de carbono é a pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2). Os veterinários geralmente analisam amostras de sangue para determinar os níveis tanto de bicarbonato quanto de pCO2, além de uma série de outros parâmetros para avaliar o balanço ácido-base dos animais.
Alguns pesquisadores identificaram a existência de uma correlação entre a acidose respiratória e a habilidade do recém nascido em absorver as imunoglobulinas (células de defesa) do colostro. Nunca é demais relembrar a importância da absorção das imunoglobulinas do colostro. Sem níveis adequados de imunoglobulinas no plasma, a incidência de morbidade e mortalidade de bezerros é aumentada drasticamente. Portanto, a preocupação com qualquer fator que retire do animal sua habilidade de absorver as imunoglobulinas é de grande importância.
O mecanismo exato de interferência na absorção não é bem compreendido no presente momento. Todavia, existe algum conflito nas referências sobre o aumento nos níveis de pCO2 e a absorção das imunoglobulinas do colostro. Pesquisas na Universidade do Tennessee (EUA) não encontraram correlação entre o aumento da pCO2 arterial e a eficiência aparente de absorção (EAA) de imunoglobulinas. Ao invés de fazer uma comparação dos níveis de imunoglobulina no soro sangüíneo, a EAA verdadeira foi calculada. Este cálculo minimiza os erros associados à variação na ingestão de imunoglobulinas do colostro, que é resultado de diferentes amostras de colostro, peso vivo e ingestão de colostro pelos animais. Bezerros com pCO2 elevada apresentaram níveis de EAA semelhantes aos bezerros com baixa concentração de pCO2. Deve ser notado que nesse estudo, todos bezerros nasceram com níveis de pCO2 considerados "normais".
Qual a aplicação disso na fazenda?. Uma vez que existe conflito no que se refere à interferência do (des)balanço ácido-base ao parto, na absorção de imunoglobulinas, é necessário que se enfatize novamente as boas práticas de manejo de bezerros. Os produtores não carregam um analisador de sangue no seu bolso traseiro, portanto precisamos adotar um procedimento prático em relação à saúde do bezerro recém nascido. Se níveis elevados de pCO2 realmente inibem a absorção de imunoglobulinas, devemos ficar atentos a sinais indicadores do comprometimento do balanço ácido-base. Eles incluem: tempo prolongado de trabalho secundário de parto; distocia com necessidade de tração (ajuda ao parto) e fraqueza ou falta de resposta do bezerro ao nascer.
A função respiratória pode ser alterada ou melhorada por duas maneiras: aumento da taxa de respiração ou aumento da profundidade da respiração. Alguns medicamentos estão disponíveis para estimular o sistema nervoso central ou os bezerros podem ser ventilados manualmente para compensar possíveis desordens respiratórias.
Uma medida mais razoável para controlar os desbalanços ácido-base durante o período do parto é o manejo adequado das vacas durante o período seco e no parto propriamente dito. Evitar a obesidade e a criação adequada das novilhas (para atingirem peso adequado ao parto) conduz à redução da incidência de partos ajudados ou difíceis, eliminando dois fatores de risco. Se a ajuda for necessária, os cuidados devem ser dispensados antes que se passe um período de tempo prolongado. Finalmente, está muito bem estabelecido que o fornecimento de quantidade adequada de colostro de boa qualidade o mais cedo possível é a melhor ferramenta que dispomos para assegurar a ingestão de níveis adequados de imunoglobulinas e consequentemente aumentar as chances de se obter bezerros saudáveis.
fonte: DREWRY, J., 1977. Respiratoria Acidosisi and IgG Absorption. APC Calf NoteTM