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A presença da vaca influencia na absorção de imunoglobulina em bezerros recém nascidos?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E JACKELINE THAIS DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 19/04/2012

6 MIN DE LEITURA

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Bezerros nascem com o sistema imune imaturo e são dependentes da transferência passiva de imunoglobulinas através da ingestão de colostro, para sua proteção durante o período neonatal. O estado imunológico do bezerro é afetado por importantes fatores como a quantidade de colostro consumida, concentração de Ig e o tempo para ingestão após o nascimento. No entanto, mesmo quando estes fatores são controlados os animais podem sofrer falha na transferência passiva de imunidade. A transferência de imunidade está fortemente relacionada à sobrevivência e a saúde dos bezerros.

Atualmente, é recomendada a separação do bezerro de sua mãe, logo após o nascimento, e o fornecimento controlado de colostro de boa qualidade e em volumes adequados e no tempo que garante maior absorção de imunoglobulinas. O colostro é fornecido em mamadeira ou sonda esofágica, de forma que a quantidade e a qualidade do colostro fornecida são conhecidas; quando o animal é amamentado pela mãe esses dois fatores não podem ser quantificados, gerando dúvidas sobre o estado imunológico desse animal. A separação, também vem sendo preconizada para reduzir a transferência de doenças oriundas do ambiente do parto ou da própria mãe para o bezerro.

Mesmo com esses cuidados para tentar melhorar o programa de colostragem e saúde dos animais, ainda é grande o número de bezerros que apresentam níveis plasmáticos de Ig inferiores ao esperado. Um estudo realizado em 1971 com o objetivo de melhorar a absorção de Ig concluiu que os animais que permaneceram com a mãe após o parto por um período de 18 horas tiveram níveis 70% maior de Ig no sangue, quando comparados a bezerros que foram removidos após o nascimento. Neste estudo os bezerros receberam em mamadeira quantidades iguais de colostro e com a mesma qualidade.

Pensando nisso, recentemente foi realizado um estudo com o objetivo de verificar se a separação precoce do bezerro tem influência sobre a absorção de imunoglobulinas. Neste estudo, a hipótese foi de que manter o bezerro com a mãe, mas impedindo a amamentação, aumentaria a absorção de Ig, e que 6 horas na presença da mãe deveria apresentar um aumento efetivo na absorção de Ig, assim como 24 horas, considerando que a absorção de Ig é maior nas primeiras horas de vida.

Foram utilizados 30 bezerros, machos e fêmeas, divididos em três grupos logo após o nascimento. No primeiro grupo (T0,5) os bezerros foram separados de suas mães 30 minutos após o nascimento. No segundo grupo (T6) os bezerros foram removidos seis horas após o nascimento, enquanto no terceiro grupo (T24) apenas vinte e quatro horas após o nascimento. Em todos os grupos os animais foram removidos nos primeiros 30 minutos de vida para serem pesados; e então colocados em uma baia individual (T0,5) ou retornaram para a baia maternidade (T6 e T24), em um local que permitia acesso a vaca, mas impedia a amamentação.

O colostro foi coletado antes e durante o estudo e sua qualidade foi mensurada utilizando-se colostrômetro, sendo fornecido aos animais apenas colostro de alta qualidade, apresentando concentrações de IgG maiores que 70 g/L. Foram fornecidos 85 g de colostro /kg de peso ao nascimento para cada bezerro até 1 hora após o nascimento, utilizando-se sonda esofágica. Os bezerros não foram novamente alimentados até completarem 24 horas de vida quando foi coletada uma amostra de sangue, que foi analisada quanto a IgG, IgM e IgA, e eficiência aparente de absorção de Ig (EAA).

Neste estudo foi observado que o tempo que o bezerro ficou com a mãe após o nascimento tem influência (P>0,10) sobre os parâmetros IgG, IgM e IgA e EAA até 24 horas após o nascimento (Tabela 1). Por outro lado, o peso ao nascer dos bezerros afetou a concentração de IgG e a EAA (P>0,05), sendo que o animal mais pesado apresentou menor IgG e EAA, corroborando com a necessidade do fornecimento de maiores volumes para bezerros mais pesados. Também houve diferença entre os sexos, de forma que as fêmeas apresentaram maior concentração de IgG e EAA comparados com os bezerros machos (P>0,05).

Tabela 1- Concentração de IgG, IgM e IgA; eficiência aparente de absorção de IgG (EAA) e tempo que o bezerro foi afagado pela mãe após o nascimento


O tempo que o bezerros teve contacto direto com a mãe (ato de lamber, de encostar o focinho, entre outros) na primeira hora de vida apresentou diferença (P<0,001) apenas no T0,5; uma vez que esses animais ficaram apenas 30 minutos na presença da vaca (Tabela 1). Já nos outros dois tratamentos em que os animais passaram mais tempo com a mãe, o período de contato físico foi semelhante (P=0,86).

No estudo de 1971, os bezerros foram removidos de suas mães 15 minutos após o nascimento, enquanto neste estudo atual, os animais ficaram com suas mães por no mínimo 30 minutos. O período mais intenso de interação vaca-bezerro ocorre até 40 minutos após o nascimento. Assim, todos os bezerros desse estudo se beneficiaram deste período; entretanto, os bezerros do T0,5 receberam apenas 66% da ação da vaca que os animais dos outros dois tratamentos, e mesmo assim não houve diferença na transferência de imunidade entre os tratamentos. Esta é uma forte evidência de que o contato físico entre mãe e bezerro não afetam a absorção de IgG.

Por outro lado, uma diferença entre este estudo e outros estudos, é a quantidade de colostro fornecido para os animais. Assim, quando grandes quantidades de Ig estão disponíveis para absorção, como observado neste estudo, nenhum efeito materno é efetivo no aumento da absorção de Ig. Dessa forma, sugere-se que o efeito materno pode prevalecer quando há baixa ingestão de Ig, mas não quando o animal recebe os níveis recomendados. Além disso, o potencial de transferência oral-fecal de patógenos e a incerteza da qualidade do colostro consumido por bezerros que mamam diretamente da vaca, são efeitos que podem ser superados quando o bezerro é separado da mãe logo após o nascimento.

Assim sendo, este estudo conclui que a presença da mãe não influencia a absorção de Ig, e que o fornecimento de colostro com qualidade e quantidade adequada são essenciais para melhorar o transferência de imunidade passiva. A recomendação de separação do bezerro logo após o nascimento é aceitável para garantir o fornecimento de colostro e diminuir a transferência oral-fecal de patógenos da mãe para bezerro após o nascimento.

VIERA, D.M.; CHAPINAL, N.; NADALIN, A. Does the presence of the cow influence the absorption of immunoglobulins by the neonatal dairy calf?. Canadian Journal of Animal Science,v. 91, p.349-352, 2011.

Comentários

Seguindo uma tendência mundial, vários sistemas de produção tem se adequado com relação ao bem-estar animal e uma das questões sempre levantadas é o estresse causado no bezerro quando o mesmo é separado de sua mãe logo após o nascimento. Como mostra o trabalho, a maior parte da interação física vaca-bezerro logo após o parto ocorre na primeira hora após o nascimento, de forma que a manutenção do bezerro com a mãe durante este tempo seria suficiente. Parece lógico, no entanto, que a separação da mãe, mesmo que não realize mais o contacto físico direto, deva causar estresse no animal. Há que se considerar também que o ato de mamar é por si só um comportamento que traz conforto ao animal lactente e garante o contacto físico direto. Entretanto, como o enfoque do trabalho se refere a eficiência na transmissão de imunidade passiva, este tipo de avaliação não foi realizada. Interessante que deixar os animais na presença da vaca, sem que haja possibilidade de mamada, aumenta o tempo do contacto físico direto, mas não altera nenhum dos parâmetros avaliados. O trabalho corrobora as recomendações práticas atuais de que o mais importante para o sucesso no programa de colostragem é o fornecimento de colostro de qualidade, em quantidade adequada e no tempo que permita maior taxa de absorção.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

JACKELINE THAIS DA SILVA

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MAURO WELLINGTON G PEREIRA

OURO FINO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 23/04/2012

Prezada prof Carla M M Bittar e Jackeline,

Parabéns pelo artigo publicado!

Considerando a forte tendência mundial para a preferência por produtos oriundos de sistemas de produção que dão destaque ao bem-estar animal, me questiono se apenas o fator de imunidade passiva inalterada ou facilidade no manejo devem ser determinantes como critério de apartação do(a) bezerro(a) nas primeiras horas ou até, porque não dizer, nos seus primeiros dias de vida.

Digo isto, a partir dos critérios de felicidade do animal, interação bezerro/vaca e diminuição do estresse traumático provocado pela apartação nas primeiras horas de vida.

Obrigado

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