Como foi sua experiência nos Estados Unidos (EUA)?
Trabalhava por três anos em uma fazenda de confinamento (free stall) com 2.000 vacas em lactação quando recebi um convite para assumir um novo desafio no sul da Geórgia: trabalhar em uma fazenda que adotava sistema a pasto. Acabei ficando por lá por mais 8 anos, até resolver voltar ao Brasil, agora em abril.
Como era a fazenda a pasto?
A fazenda a pasto trabalha com pivô central e animais da raça jersolando. Quando iniciou em 2004, a fazenda tinha apenas 600 animais em lactação, e quando sai de lá no início de 2012, o número de animais em lactação tinha triplicado (Hoje são 3 fazendas com 600 animais cada).
Na época de inverno, era adotado o plantio de aveia e azevém e para que as vacas não urinassem, defecassem e/ou pisassem no capim, era adotado o sistema de cerca elétrica voadora, que consistia em um cerca elétrica presa em um pivô que se deslocava lentamente. Dessa forma, a vaca comia à medida que o pivô ia caminhando e consequentemente tendo acesso apenas ao capim fresco e verde, tendo aproveitamento de 100%.
O pivô central é o coração da fazenda a pasto. Ele pode ser usado para diversas funções, como para irrigação, fertirrigação (utilizando a água que provém do curral) e climatização. A contribuição com o bem-estar animal é fundamental, as vacas sentem-se refrescadas e não procuram sombra, dessa forma o risco de deitarem em áreas com muita lama é menor e por consequência reduz o índice de mastite.
Quando lembramos de EUA normalmente vem a mente sistema produção em confinamento, por que alguns produtores americanos estão adotando o sistema a pasto?
Em 2009, com a crise nos EUA os grãos ficaram muito caros e o confinamento estava dando prejuízo, muitos produtores vieram ao Brasil para ver como se produzia leite a pasto como uma forma de alternativa.
O sistema confinado dava 15% de lucro e com um volume bem maior que o pasto, já o pasto dava 25% de lucro com maior retorno do capital investido, dessa forma o sistema extensivo foi ganhando adeptos.
Um bom exemplo é o sr Ron St. John, produtor norte-americano com 17.000 vacas, com propriedade na Florida. Ele optou por investir em pasto, e produz em torno de 140 milhões de litros em três propriedades: 2 em sistemas de confinamento e uma a pasto. (leia matéria e relacionada e assista entrevista com o produtor)
Por que resolveu voltar ao Brasil?
Além da questão pessoal, vejo que o Brasil é a bola da vez. Depois dessa minha experiência com sistema a pasto, fica muito claro que o nosso país tem tudo para decolar. Tem clima, área, forrageiras, tem tudo para dar certo, só é necessário alguns ajustes. Em um espaço curto de tempo, teremos grandes produtores a pasto, como já é o caso do Luiz Girão no Ceará e do José Renato Chiari em Goiás.
Quais as diferenças que mais lhe saltaram aos olhos quando conheceu os produtores e as fazendas americanas?
Nos EUA, o gado é mais homogêneo, o que facilita o manejo no trato e na ordenha. A padronização é feita na hora da ordenha, se o animal não responde com produção de leite já é descartado, não mantém-se animais ineficientes.
Os americanos tornaram-se profissionais no leite. Aqueles que ficavam sempre no vermelho foram de certa forma eliminados, lá não tem essa história de tirador de leite. E da mesma forma que a peneira passou por lá, tenho certeza que vai passar por aqui também e só restarão os que forem eficientes. E não precisa ser grande para isso, os pequenos produtores que tem mão de obra familiar e fazem boa gestão de seu negócio também ganharão dinheiro.
Como o MilkPoint lhe auxilia no dia a dia?
O site traz sempre o que é importante e informação atualizada. Quem não o acompanha, está fora do mercado. Também é o local para conhecermos quem são as pessoas do setor.
Frase de destaque:
"O rio corta a pedra não pela sua força, mas pela sua persistência."
Mais informações sobre a experiência de Poncio poderão serem conferidas durante o 12º Simpósio Internacional sobre Produção Competitiva de Leite (Interleite Brasil 2012) onde falará sobre: Produção sob pastejo irrigado no sudeste dos EUA - o que aprendemos nesses 3 anos? Quais são nossos números hoje? Como estamos comparativamente aos demais produtores? Cristiano Poncio, Geórgia (USA). O evento ocorrerá em Uberlândia, MG entre os dias 11 a 13 de setembro de 2012. Acesse o site e faça sua inscrição: https://interleite.com.br/index.html.