ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

É pau, é pedra, é o começo do caminho

ESPAÇO ABERTO

EM 25/04/2012

4 MIN DE LEITURA

0
0
Por Rodrigo Lara Mesquita (jornalista)

Chegou a hora do voto ou do veto para o novo Código Florestal e todos serão perdedores nessa história. Por mais de duas décadas o Código Florestal sofreu milhares de alterações por iniciativa do Poder Executivo, sem a participação direta do Legislativo nem consulta à sociedade. Decretos e medidas provisórias criaram novas figuras e exigências jurídicas, como as da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente. Elas passaram a ser exigidas nas propriedades rurais de forma retroativa pelos órgãos ambientais e, por fim, "transformaram-se em lei, sem nunca terem sido votadas". Isso colocou na ilegalidade a imensa maioria dos agricultores, trouxe grande insegurança ao meio rural e propiciou abusos e injustiças, principalmente para os pequenos proprietários.

Os pequenos agricultores, com até quatro módulos fiscais, representam cerca de 4,6 milhões de imóveis, ou seja, 88,8% do total existente. Eles ocupam 11% do território nacional e o valor estimado de sua produção, pelo Censo do IBGE de 2006, era de cerca de R$ 72,5 bilhões, 50% do valor total da produção agrícola do País. O projeto de Código Florestal revisado pelo Senado Federal vai atingi-los em cheio. O artigo 62 exige, de forma retroativa, que os pequenos proprietários recomponham ou abandonem parte das áreas ocupadas, muitas vezes há mais de século, ao longo de açudes, barragens, riachos e rios. A porcentagem exigida em Área de Preservação Permanente pode chegar a até 20% das propriedades no Sudeste, no Sul, no Nordeste e em parte do Centro-Oeste. Nos Cerrados essa área pode alcançar 35% e na Amazônia, até 80% das propriedades.

Considerados esses "limites" de recomposição de Áreas de Preservação Permanente, propostos pelo Senado, a perda de área produtiva dos pequenos será de cerca de 12 milhões de hectares. Com isso, algumas fontes estimam uma queda na renda anual dos pequenos proprietários de quase R$ 7 bilhões. Retirar pomares e culturas e abandonar pastagens em 20% dessas terras férteis representa perdas de mais de 50% na renda dos pequenos e em alguns casos o seu provável desaparecimento, segundo estimativas de fontes especializadas.

Se o Legislativo não equacionar corretamente a questão da consolidação ambiental das áreas ocupadas há dezenas de anos, em alguns casos centenas, em conformidade com a legislação de seu tempo, isso exigirá da presidente Dilma Rousseff a edição de mais uma medida provisória para corrigir e evitar esse desastre social e econômico. Mais uma vez, o Executivo invadirá o campo do Legislativo. Um mal menor e paradoxal para uma nova lei que gostaria de ver encerrado esse tipo de intervenção.

Desde o relatório inicial elaborado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), esse projeto foi discutido em todo o País, em mais de uma centena de audiências públicas. Para muitos ambientalistas, isso foi feito de forma manipulada. Por outro lado, as organizações rurais - como a Confederação Nacional da Agricultura, a Sociedade Rural Brasileira, a Associação Brasileira do Agribusiness, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - foram incapazes de organizar o debate, levar adiante suas propostas e comunicar-se com a sociedade.

Boa parte das propostas da Frente Parlamentar da Agricultura não está contemplada no projeto que vai a votação esta semana. O projeto final do relator Paulo Piau (PMDB-MG) concorda e mantém em mais de 98% a versão do Senado. Ele parece atender mais às cobranças do Palácio do Planalto e da ministra do Meio Ambiente do que dos próprios correligionários. O Ministério da Agricultura, ao contrário do ocorrido nas gestões anteriores, esteve absolutamente ausente do debate, como se o destino da agropecuária nacional lhe fosse indiferente.

A questão tecnológica, do uso sustentável das terras, esteve ausente no debate do Código Florestal. Ela não existe no texto proposto, assim como o tema da irrigação. É enorme a responsabilidade da direção da Embrapa nessa omissão. Em vez de premiar quem usa práticas sustentáveis e intensivas, o Código Florestal considera que a nossa agricultura está na fase em que os cafezais destruíram as encostas do Vale do Paraíba ou no Neolítico. E como tal é considerada uma ameaça ao meio ambiente. O novo código não incentivará um uso mais adequado das terras, por meio de tecnologias mais produtivas e sustentáveis, nem contribuirá para criar um ambiente de concórdia, no qual a sociedade como um todo possa procurar um caminho, que será árduo e espinhoso, para com o tempo avançarmos para uma "economia verde", que hoje é mais uma palavra de ordem do que um objetivo conquistável.

O Brasil terá um Código Florestal que impactará as áreas urbanas e rurais. Os prefeitos não acompanharam esse processo e serão surpreendidos por exigências legais que questionarão planos diretores, zoneamentos urbanos e códigos construtivos em todo o País. O novo código começa mal e deverá ser remendado no curto e no médio prazos. A avalanche de processos no Judiciário já está sendo anunciada, tanto por parte dos agricultores vitimados, quanto por parte de ambientalistas e integrantes do Ministério Público. Todos pretendem questionar até a constitucionalidade de determinados artigos.

Com este quadro, perdem os agricultores, os ambientalistas, o agronegócio, o meio ambiente, a economia e a sociedade brasileira. A mídia tem uma grande responsabilidade nisso, na medida em que foi incapaz de fugir do emocionalismo dos dois lados e promover uma cobertura técnica com a profundidade que a matéria exige. Não foram raros os casos em que o leitor podia identificar a posição do pseudojornalista sobre o tema já no lead da matéria nem as entrevistas em que o jornalista oferece o "microfone" ao entrevistado. Não questiona, não contesta, não atua como jornalista.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures