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A disputa do anjinho e do diabinho

POR ANDRE MELONI NASSAR

ESPAÇO ABERTO

EM 05/11/2012

4 MIN DE LEITURA

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Em quem devo acreditar? No anjinho que sussurra no meu ouvido direito ou no diabinho que me provoca do lado esquerdo?

O anjinho abana-me com suas asas e diz que o Brasil é um país que já deu certo e está no caminho de se tornar uma liderança mundial. O diabinho espeta-me com seu tridente e tenta convencer-me de que estamos negligenciando, como sempre fizemos, os nossos problemas estruturais.

O anjinho cantarola que o mensalão está sendo julgado pelo STF com plena independência, o que comprova que o Brasil tem instituições que são maiores e mais perenes que os governos e os partidos no poder. O diabinho argumenta que vivenciamos uma perda de qualidade institucional e o elevado número de votos nulos, em branco e abstenções nas eleições municipais comprova que grande parte da população credita pouca confiança às instituições políticas.

O anjinho exalta as ações do Estado no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, que se estão tornando mais sofisticadas e complexas. O diabinho faz pouco caso das ações de controle nas fronteiras e lembra que comprar armas de fogo no mercado negro é mais fácil e barato que comprar antibiótico na farmácia.

O anjinho orgulha-se dizendo que foram tomadas medidas decisivas para estimular o crescimento da indústria no País, com elevação de tarifas, exigências de conteúdo nacional e desoneração tributária. O diabinho, embora consciente da importância da indústria em qualquer economia, lembra que no Brasil ela é protegida desde os tempos de Juscelino Kubitschek e o consumidor paga essa conta com produtos mais caros e obsoletos, e que esse não é o setor da economia mais dinâmico na geração de empregos.

O sangue sobe à cabeça do anjinho, que se enfurece e argumenta que a inovação tecnológica nasce na indústria e se espalha pelas demais áreas. Por isso é necessário que existam políticas de estímulo ao setor industrial. O diabinho, plácido, lembra que inovação depende de educação e nesse quesito o País não tem muito o que falar.

O anjinho, mais revoltado que nunca, diz que jamais se investiu tanto em universidades federais e que o Programa Ciência sem Fronteiras vai revolucionar a ciência brasileira. O diabinho, mais calmo que nunca, lembra que no Brasil prevalece o modelo em que a ciência (universidades) e a inovação (setor privado) são separadas, não estimulando multinacionais a investir em inovação aqui e levando as universidades a gerar ciência de retorno de longo prazo duvidoso.

O anjinho procura se acalmar e lembra que o Brasil é um dos poucos países do mundo que está crescendo, segue em ritmo de pleno emprego e, ao mesmo tempo, tem saúde e previdência universal para sua população. O diabinho exalta a geração de empregos no País e ri da ingenuidade do anjinho: qual o sentido de um sistema de saúde universal em que os recursos dos contribuintes se perdem numa longa cadeia de desvios e corrupção? E de que vale a universalidade da previdência hoje, sabendo que o sistema precisa ser reformado, dados o envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade? Não estaríamos, pergunta o diabinho, garantindo bem-estar acima do necessário às gerações atuais e extraindo-o das futuras?

O anjinho volta a ficar empolgado com o diálogo e saltita de alegria ao dizer que o País pôs em prática um dos mais bem-sucedidos programas de distribuição de renda do mundo, o Bolsa-Família. O diabinho, sem pestanejar, concorda com a importância do programa, mas retruca que de nada adianta distribuir renda sem reformar uma estrutura tributária que pune as pessoas de menor renda, pois são elas que poupam menos e gastam maior parcela da sua renda com consumo.

O anjinho regozija-se com o ciclo virtuoso por que passa a economia brasileira, com redução da taxa de juros, controle da inflação e grande crescimento do mercado de crédito. O diabinho diverte-se com o otimismo do anjinho e lembra que o Brasil não é um país pró-negócios e que boa parte do setor privado quer manter o emaranhado de leis e exigências existentes porque o custo Brasil o mantém protegido e livre de competição.

O anjinho, ainda maravilhado com o sucesso econômico que é o Brasil, discursa sobre os grandes avanços em infraestrutura que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está promovendo e defende a política do governo de permitir concessões privadas de longo prazo em setores controlados por empresas estatais. O diabinho praticamente perde as estribeiras porque, assim como ele reconhece que há avanços, o anjinho precisa concordar que a eficácia do PAC é muito baixa e as concessões privadas nos aeroportos são uma prova de que o modelo defendido não vai promover os investimentos necessários nem melhorar os serviços para a população.

O anjinho, que já havia entendido que o diabinho estava devotado a irritá-lo, lembra que o País é uma liderança mundial em ascensão e está exercendo seu poder por meio de cooperação internacional, transferência de tecnologia e internacionalização das empresas nacionais, sem uso de poder militar, como fazem os EUA, nem do modelo colonizador, como fizeram os países europeus. O diabinho diverte-se com a inocência do anjinho e argumenta que o destino de qualquer potência de recursos naturais, como é o caso do Brasil, mesmo que não queira, é ser catapultado ao posto de liderança mundial.

Anjinho e diabinho já estavam cansados do debate e minha cabeça, cheia de ouvir argumentos opostos. Ambos estavam certos. Mas se é verdade que o Brasil está avançando muito, e também é verdade que o País ainda tem diversos problemas para enfrentar, é o diabinho que tem mais razão. Apontar os desafios, portanto, é mais importante que ovacionar cegamente as conquistas. É o diabinho que opto por escutar.

Texto publicado no Estadão.

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FABIO GARCIA RIBEIRO

SOROCABA - SÃO PAULO

EM 09/11/2012

Parabéns pelo texto André. Bem humorado e pertinente.... Saudade de vc amigo. Ve se aparece qq hora em casa pra lembrarmos dos tempos de Fundepec e SRB. Abração...
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/11/2012

Prezado André Meloni Nassar: Parabéns pela bem humorada construção. Infelizmente, em se tratando de pecuária de leite, no Brasil, os "anjinhos" somos nós, os produtores que fazemos nossa parte, lutando pela melhoria da qualidade de nosso produto, e, o "diabinho" (que, por coincidência - ou não - é vermelho), é o Governo Federal, que finge que nós não existimos e que não representamos grandes volumes em sua balança comercial. Enquanto continuarmos a ouvir o "diabinho", nunca seremos a potência mundial nos lácteos que temos condições de vir a ser e, ao final, os "anjinhos" se quedarão destruídos pela falta de forças para prosseguir.


Um abraço,

GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO


FAZENDA SESMARIA - OLARIA - MG


=HÁ SETE ANOS CONFINANDO QUALIDADE=
ADEMIR PEREIRA DE ABREU

ALPINÓPOLIS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/11/2012

O inocente anjinho é aquele brasileiro que nunca perde as esperanças , otimista ,luta por melhorias na sua vida e segue trabalhando olhando para frente . Já o diabinho é aquele neoliberal pessimista com complexo de vira latas .

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