Quando tratamos de instalações, mais precisamente free-stall, detalhes fazem a diferença e muitos deles passam despercebidos no dia a dia do produtor:
1) Vacas em pé na cama
Pare e observe uma vaca se aproximando de uma cama. Ao aborda-la (cama), a mesma não deve gastar mais do que 5 minutos para deitar. Em muitos casos, as vacas se aproximam e permanecem com os anteriores dentro da cama e os posteriores para fora, no corredor. Tal situação pode ser um indicador de problemas como:
* comprimento inadequado da cama
* posicionamento errado da barra para o pescoço (neck rail), ou seja, aquela que faz o animal se afastar no momento em que se levanta (defecando ou urinando fora da cama). Ela pode estar muito afastada do eixo principal da contenção ou muito próxima
* posicionamento inadequado do para-peito (brisket board). Também podendo estar muito afastado ou próximo do eixo principal.
Figura 1 - Vacas em pé na cama
A permanência do animal dentro da contenção com as 4 patas, ameaçando deitar, dentro dos 5 minutos pode ser um indicador de falta de areia (ou efeito amortecedor, no caso de outro tipo de material, como camas sintéticas) ou ainda inadequado espaço entre a cama em o que o animal está e a cama à sua frente (lunge space).
2) Presença de esterco nas camas
Quando vacas deitam muito para frente, o natural é que a mesma venha a defecar e/ou urinar dentro da cama. Caso isso esteja ocorrendo com freqüência, devemos observar o tamanho das vacas. Se isso estiver ocorrendo apenas com os animais menores, não há necessidade de alteração no projeto. De acordo com Dan MacFarland, Professor da Penn State University, em rebanhos, principalmente aqueles que estão em crescimento, comumente encontramos uma grande variedade de tamanhos de animais. Neste caso, devemos projetar o free-stall em função dos maiores animais.
É possível que venhamos a encontrar também animais de grande porte, deitados "bem para frente", sujando as camas da mesma forma que vacas menores. Caso isto esteja acontecendo, devemos atentar para dois detalhes: o posicionamento da barra para o pescoço (neck rail) e o para-peito (brisket board). Talvez um ou outro, ao até mesmo ambos não estejam posicionados corretamente, ou seja, ou muito para frente ou muito para trás. Não existem regras para definição da distância do neck rail ou do brisket board. O produtor deve realizar pequenas mudanças (alguns centímetros), gradualmente, e observar o comportamento dos animais, definindo a melhor posição.
3) Degrau
O degrau que limita a cama com o corredor é um importante detalhe, pois a sua altura inadequada promove desconforto ao animal, principalmente no momento em que a vaca resolve levantar-se. O momento de sua saída é lento e cauteloso. Degraus com mais de 30 cm causam insegurança ao animal que, naturalmente, como defesa, passa a evitar a cama.
4) Vacas deitadas em posições anormais
Devemos sempre atentar para a posição em que os animais encontram-se deitados. No último artigo desta coluna, publicamos fotos representando as posições de conforto mais comuns de vacas deitadas em free-stalls. Logo qualquer outra posição que venha a fugir do padrão indica que algo está errado. Em free-stalls mal projetados ou com ineficiente reposição de areia, é comum encontrarmos vacas deitadas "ao contrário", ou seja, com a cabeça voltada para o corredor. Mais uma vez, tal problema pode estar associado com a posição do neck rail. É comum também isso ocorrer devido à largura inadequada das contenções ou baixo nível da areia, permitindo a rotação da vaca dentro da cama.
5) Ferimentos em animais
Muitos produtores encontram, diversas vezes animais feridos próximo ao boleto, canelas, dorso, costado, cauda e pescoço. Obviamente existe algo de errado nas contenções de modo a machucar animais. As causas mais comuns são: lascas de metal, parafusos, neck rail partido ou mal posicionado, etc. A recomendação é que o produtor realize vistorias e constante manutenção de suas contenções, a fim de evitar que alguma vaca venha se machucar. Tal detalhe é mais importante do que costuma parecer. Vale lembrar que um animal que venha se ferir ao se deitar ou levantar, por exemplo, pode adquirir trauma, preferindo o concreto do corredor em detrimento às camas.
6) Distribuição dos animais nas camas
Devemos atentar à distribuição dos animais nas camas. Caso haja um acúmulo de animais nas camas do lado do corredor de alimentação existem, possivelmente, erros no dimensionamento da passagem entre corredores (corredores laterais). A recomendação é que as vacas não devem percorrer mais que 15 metros para encontrar um bebedouro ou uma passagem entre corredores. Caso os animais estejam se agrupando ou evitando alguma região da instalação, certamente está ocorrendo algum problema de ventilação.
7) Vacas deitando diagonalmente
O fato de vacas deitarem na posição diagonal somente deve ser encarado como um problema se estiver havendo deposição de esterco sobre as camas ou inibindo que uma companheira deite-se na cama ao lado. Caso haja um índice superior a 15%-20% de animais deitados dessa forma, certamente o produtor deve realizar correções na manutenção (manejo de reposição de areia, por exemplo) ou no projeto da instalação. Geralmente, mudanças no manejo costumam resolver este tipo de problema. A seguir alguns erros comuns na construção de camas que promovem o descanso diagonal de vacas:
* neck rail posicionado muito distante do eixo principal das camas (com o objetivo de "forçar" as vacas a defecarem fora da cama)
* brisket board (para-peito) posicionado também muito para trás, ou seja, reduzindo o tamanho da cama
* presença de camas com mais de 4% de declividade
A seguir, uma planta (croqui) instrutiva, sugerindo as dimensões ideal de uma cama confortável para vacas:
As medidas acima estão em polegadas, para conversão em centímetros basta multiplicar os valores por 2,54.
Comentário do autor: assim como o primeiro artigo sobre conforto para animais em free-stall descrevemos mais uma série de detalhes que podem gerar mudanças significativas no quesito: comportamento animal. Destacamos que a vaca é um animal herbívoro, que em sua origem sempre teve o pastejo, em ambiente aberto, como hábito alimentar. Em outras palavras, a associação: confinamento X produtividade não se restringe somente ao fato do fornecimento de alimento em ambiente fechado. É necessário o cumprimento de todos os detalhes acima descritos, até mesmo como uma forma de respeito à própria vaca. O presente artigo tem como objetivo esperado, alertar, reforçar e esclarecer conceitos para aqueles que possuem, estão construindo ou almejam futuramente trabalhar com este tipo de sistema de produção de bovinos leiteiros.
fonte: Dairy Herd Management, junho 2000.